sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Ricardo Levesinho: "Não sou um herói, nem me considero um salvador, mas o futuro na Moita tem que ser bem diferente!"



Depois de ter regressado no ano passado em grande e com enorme sucesso à gestão da praça de Vila Franca, onde há mais de dez anos iniciou a sua carreira empresarial, e de continuar a gerir também a praça da Figueira da Foz, Ricardo Levesinho (na foto ao lado com seu pai e seu irmão) tem esta temporada nas mãos outro grande desafio: recuperar o "tempo perdido" na emblemática praça da Moita. Voltou também aos apoderamentos e está ao lado de João Ribeiro Telles e também do praticante Joaquim Brito Paes, apoderado por seu irmão Rui. Está de relações cortadas com o apoderado Pombeiro, mas não fecha a porta ao cavaleiro Duarte Pinto, desde que haja por parte do seu representante "clareza, compromisso, hombridade e honestidade". Não tem nenhuma sociedade com Rui Bento, ao contrário do que apregoam no meio os profisisonais da confusão. E confessa que em novo sonhou ser toureiro, mas lhe "faltou valor". Com a mesma seriedade, frontalidade e verticalidade com que se tornou um dos mais respeitados empresários taurinos nacionais, respondeu sem rodeios e sem hesitações a todas as questões que lhe pus, mesmo às mais polémicas. Eis aqui Ricardo Levesinho por si próprio na grande entrevista que se impunha

Entrevista de Miguel Alvarenga

- Vila Franca, Figueira da Foz e este ano também a Moita. Uma empreitada aliciante. Pode já abrir uma ponta do véu no que respeita a datas nas três praças?
- A estrutura está já fechada e elaborada com base em acontecimentos únicos que no seu todo visam um planeamento estratégico global que a identidade de cada praça nos faz acreditar que é o melhor caminho. Esse melhor caminho passa claramente pela qualidade dos espectáculos que sonhamos e que marque os aficionados pela diferença e com o o desejo que fiquem de querer voltar.
Não faremos nada de diferente em termos de calendário. As datas históricas mantém-se associadas ao primeiro domingo de Maio, Colete Encarnado e Feira de Outubro em Vila Franca. Na Moita seguiremos nas datas tradicionais englobadas na Feira de Maio e na Feira em Honra de Nossa Senhora da Boa Viagem em Setembro e na Figueira da Foz a aposta é de continuidade pelo sucesso existente em três datas de Julho a Agosto.

- Vila Franca foi um sucesso na temporada passada, com o seu regresso. Que novidades para 2019?
- Sonhamos sempre com acontecimentos que marquem a diferença. Estamos a procurar melhorar e querendo muito seguir uma linha em que sentimos que respeita a identidade da “Palha Blanco”, que passa pela seriedade e do gosto por ganadarias caracterizadas pela emoção dos seus toiros. Esta aposta junto à grande qualidade e valor dos artistas que teremos a honra de contratar para esses momentos é o fio condutor que acreditamos e que queremos respeitar.
Começaremos em Maio com a Homenagem às Ganadarias Históricas Ibéricas de forma a agradecer o seu esforço na conservação e protecção do Toiro e da nossa Festa. Teremos em representação de todas as ganadarias três portuguesas e três espanholas e a nossa selecção passou pela avaliação que fizemos no campo. pelos resultados na última temporada e pela identidade histórica que as mesmas possuem abrindo os encastes de forma a que os mesmos tenham presença perante um público especial como é o público da “Palha Blanco”.

- E a Figueira da Foz, quantas corridas e que figuras vamos ver no Coliseu Figueirense?
- Em relação à Figueira da Foz a temporada será constituída por três corridas e queremos que estejam os mais destacados toureiros portugueses, bem como jovens valores que acreditamos serem de total gosto da aficion figueirense e da região centro, não só por actuações anteriores no Coliseu, mas também pelo que têm aportado de qualidade.

- A Moita é uma "complicação"? Como pensa dar a volta para que o público volte a ir à praça?
- Com a boa mensagem. Não sou um herói, nem muito menos me considero um salvador. Também não sou de protagonismos. Sou de consensos, acredito no diálogo e na comunicação para vencer, acredito que 1+1 é igual a 1000, ou seja, que estamos todos na luta sabendo que existem dificuldades que vamos lutar para as vencer e que cada um de nós, sejamos empresa, aficionados, instituições e forças vivas da cidade e do concelho, contribuamos com a nossa parte num projecto de todos, pois é a cara de todos que ali estará. É a nossa cara e esforço e dedicação que prometemos dar, mas também é a honra de todos os moitenses que anteriormente naquela praça se emocionaram  e viam a sua praça com bons espectáculos e com casas cheia, é a imagem das instituições que querem que a Moita recupere um dos seus mais importantes ex-libris pela sua importância na identidade da Moita no mundo e não temos tempo a perder. Não quero falar no passado, mas o futuro tem que ser bem diferente, pois não podemos imaginar mais a Moita e a sua histórica e tão emblemática praça “Daniel do Nascimento” na forma como o Miguel a considerou de “complicação”.

- Esta temporada regressa também aos apoderamentos, ao lado de João Telles e seu irmão ao lado do praticante Joaquim Brito Paes. Que projectos?
- Tivemos o orgulho de sermos convidados para dois projectos que nos honraram e nos responsabilizam.
Ser apoderado do João Ribeiro Telles e poder contribuir no meu papel para um artista que é uma Figura do Toureio é marcante e leva nos em conjunto a ambicionar ganhar o mundo, pois o João é um grande e único toureiro com uma sensibilidade artística fabulosa.
Sobre o Joaquim Brito Paes, passa pelo meu irmão Rui e por uma gestão de um toureiro em embrião e em que sentimos competências importantes e que estão diariamente em desenvolvimento pelo seu grande esforço. Vai ser uma surpresa bonita e de grande entusiasmo.

- O facto de não estar de boas relações com o apoderado Luis Miguel Pombeiro vai continuar a impedi-lo de contratar o cavaleiro Duarte Pinto?
- O Dr. Luis Miguel Pombeiro, como apoderado, anda a passar essa mensagem e erra gravemente pois não está a ser correcto. Nós mostrámos disponibilidade e interesse total em chegar a um acordo, mas até hoje não recebemos nenhum contacto da sua parte a não ser por terceiros. Confunde muito e mistura o ser jornalista, advogado, empresário e apoderado, o que é estranho, pois está a complicar a vida do seu toureiro e às vezes as coisas ganham contornos complexos e pouco claros. O Duarte Pinto, de quem sou admirador confesso como cavaleiro e como homem, com a sua trajectória e depois das actuações da temporada passada, não merece que nós não contemos com ele nos nossos projectos, mas isso depende também da gestão do seu apoderado. Não queremos nem exigimos nada em especial, a não ser clareza, compromisso, hombridade e honestidade. Mais pragmatismo e clareza que isto é impossível.

- Para acabar de vez com o boato: tem ou não tem uma sociedade com Rui Bento?
- Nada existe de segredo, nem muito menos de mentiras, pois eu não tenho necessidade de complicações, nem muito menos de andar escondido e acredito que o Rui Bento pense igual.
Há cerca de dois anos, eu e algumas pessoas sentámo-nos para avaliar o momento da tauromaquia, pois sentíamos que tínhamos de pensar o futuro.
Nas conclusões detectámos a existência de comportamentos errados, falta de estratégia, divisão entre as empresas, falta de confiança entre os agentes e isto tudo provocava apreensão.
Daí saiu uma necessidade de cooperação entre todos. Vou-lhe dar um exemplo. Em Salvaterra tem existido um concurso de ganadarias em Maio. Foi minha obrigação falar com o Rafael Vilhais, empresario dessa praça, e perguntar-lhe sobre os seus planos e contar-lhe os meus sobre Vila Franca. Estamos a falar de duas corridas  em duas praças separadas em 25 quilómetros e com uma semana de distância. O que este simples e normal diálogo provoca é uma importante construção de dois projectos, pertos na data, mas com características diferenciadas e que não se atropelam. É importante para os dois acontecimentos, para os aficionados e para a Festa. E por ter este tipo de diálogo com o Rafael não significa que somos parceiros de negócio.
Voltando à sua pergunta e associando o que lhe acabei de explicar: com este caminho que fizemos, após a análise inicial, concluímos que é importante as cooperações entre todos com base no diálogo e quando as pessoas confiam umas nas outras apoiam-se e ajudam-se mutuamente a desbloquear algumas situações e na concretização de ideias e negócios e passa por ai unicamente a nossa ligação que muito me orgulha e sinto o mesmo do outro lado. Além disso, não existe absolutamente mais nada. Não existe nenhuma sociedade com o meu amigo Rui Bento, nem com qualquer outro empresário.

- Muito bem, ficamos todos esclarecidos e acabam-se de vez os boatos. Outra questão, Ricardo: além das três praças fixas que vai gerir, dará mais algumas corridas em praças portáteis, como já tem acontecido?
- A ideia não passa por aí, mas temos a excepção de São Cristóvão, que nos convida anualmente para apoiarmos uma festa muito bonita que já cumpre com honra a sua 30ª corrida.

- Qual a melhor fórmula para encher uma praça, se tivermos em conta que não existem hoje toureiros que sejam ídolos para arrastar multidões?
- Um cartel bem rematado e com identidade é sempre a fórmula exacta. O que é fundamental é que os aficionados e o público em geral acreditem no Acontecimento.

- Vai continuar a apostar nas suas organizações na verdade do toiro-toiro?
- Confio mais na verdade do toiro que transmite e é isso que procuramos. O toiro que nos faz emocionar. Não procuramos peso. Sendo essa a nossa imagem e acreditando que esse é o caminho, continuamos nessa busca.

- Considera que nos dias de hoje é rentável ser empresário tauromáquico?
- Temos que conseguir que seja, mas é muito difícil. Mas estamos na luta e um objectivo de uma empresa passa sempre obrigatoriamente por ganhar dinheiro. Se não, não possui fundamento legal para existir como tal.

- Faça-me um balanço da sua actividade como empresário tauromáquico. Valeu a pena?
- Se me fala em momentos como a última terça-feira nocturna em Vila Franca, a encerrona do António Ribeiro Telles, o mano-a-mano entre as ganadarias Miura e Palha, a comemoração do 50º aniversário de alternativa do Maestro José Júlio toureando um toiro de Oliveira Irmãos, faenas de arte e valor de grandes artistas que estiveram conosco, as alternativas de Marcelo Mendes e de David Gomes, somos uns felizardos pois estivemos envolvidos nesses grandiosos acontecimentos que nos honram e vamos sempre levar conosco, Mas existem outros muito duros, difíceis, em que muitas vezes nos levam a verdadeiras aflições e complicações, mas estamos na luta para vencer defendendo a Festa e querendo ser animadores de um conjunto de iniciativas que visam o seu fortalecimento e riqueza.

- A imprensa taurina existe, é influente, costuma ler?
- Leio tudo. Defendo a profissionalização e compreendo o amadorismo, pois sendo a Festa tão cativante e emocional é normal que existem muitas pessoas a se quererem associar mais directamente, mas deve existir um espírito crítico e de auto-avaliação e tentar melhorar comportamentos. E não falo de análise e críticas taurinas, pois essas são subjetivas, pois a tauromaquia provoca um conjunto de emoções e paixões que às vezes provocam avaliações bem diferentes, mas nunca podemos perder a essência e as regras.

- Nunca quis ser toureiro? De onde vem a sua aficion?
- Quem lhe disse isso? Nunca tive foi valor e, talvez por isso, sempre me senti cativado a elaborar cartéis e feiras nos meus cadernos desde que me conheço e me recordo. Devo esta aficion à minha terra, à tertulia da minha familia, onde nasci e cresci, e mais especificamente ao meu pai herói que adoro e ao meu tio José, seu irmão, que era um aficionado extraordinário e ao meu tio Manuel da Neta, que abriu durante mais de quarenta anos a porta dos curros da “Palha Blanco” e que era um amigo muito especial.

- O que podemos esperar do empresário Ricardo Levesinho e da sua empresa para a temporada de 2019?
- Que Deus ajude a que haja sucesso e motivos para festejar com acontecimentos de grandes triunfos dos toureiros, forcados e ganaderos e assim acreditar num futuro da tauromaquia mais brilhante e de grande força vencedora.

Fotos Emílio de Jesus