Miguel Alvarenga - Reinou por fim o bom senso e no final da tarde de hoje a PróToiro mandou retirar da Avenida da República o cartaz da discórdia que em Janeiro dividira o meio taurino quando foi colocado diante da Assembleia da República e que na manhã de ontem reaparecera diante da Monumental do Campo Pequeno.
Houve quem interpretasse de modo distinto o cartaz e, sobretudo, a forma como era transmitida a mensagem que lhe deu origem. Pretendia-se marcar ali um grito de revolta dos aficionados contra o projecto, ainda não apresentado no Parlamento, mas que o deverá ser em breve, de proibir a assistência de menores a espectáculos tauromáquicos.
Mas, o que poderia ter sido dito com uma foto de menores assistindo a uma tourada com os pais, como defendeu o empresário Luis Miguel Pombeiro (o primeiro, em Janeiro, a insurgir-se contra o uso abusivo da foto do primeiro-ministro no referido outdoor), acabou por ser transmitido com uma foto do primeiro-ministro e outra de André Silva, líder do PAN, referenciados como "os novos pais dos nossos filhos".
Pombeiro - e muitos outros - manifestaram o seu desagrado pelo uso, sobretudo, da imagem do primeiro-ministro no cartaz. Outras vozes do meio taurino concordaram e acharam mesmo que "isso ainda era pouco". Uns defenderam que esta não era a forma de luta que deveria ter sido utilizada. Outros recordaram que quem nos afronta é este (des)Governo e que a foto de António Costa estava ali muito bem utilizada.
Na minha opinião, António Costa e o seu (des)Governo têm personalizado uma frente bem clara contra a Tauromaquia, em nome dos acordos que têm estabelecido com o PAN e outras forças minoritárias que lhes terão exigido exactamente isso como moeda de troca. Para aprovar o Orçamento, por exemplo. Para viabilizar este Governo - que não ganhou as eleições.
Por outro lado, a Tauromaquia, doa a quem doer, continua nas mãos deste (des)Governo. Não concordar com o cartaz não se trata, a meu ver, de um caso de rendição ao inimigo. Mas concordo com Pombeiro quando ele disse que o cartaz constituía "uma afronta desnecessária ao primeiro-ministro", num momento em que temos que esperar dele o bom senso de reabrir o sector tauromáquico assim que o país saia do confinamento.
O cartaz podia irritar António Costa? Podia, sim senhor. E seria legítimo que os aficionados o irritassem, depois de ele nos ter também irritado a nós todos. Legítimo, sim, mas pouco prudente num momento destes. E pouco aconselhável.
Foi mais natural, obviamente, que o cartaz fosse colocado no Campo Pequeno e não, por exemplo, na Praça do Chile. Isso foi. Mas, continuo a dizer, foi imprudente. E podia atingir até a empresa que gere actualmente a primeira praça do país, que não tendo qualquer vocação tauromáquica, delegou em Luis Miguel Primeiro a gestão taurina Catedral.
Por outro lado e sabendo a PróToiro, como sabia desde Janeiro, que o empresário taurino do Campo Pequeno era contra o cartaz, quase que concluo que a sua colocação, ontem, diante da Catedral, terá sido também uma afronta da Federação ao próprio Pombeiro. Ou se não foi, pareceu... E com que objectivos, nem os quero adivinhar...
Digamos, em jeito de conclusão, que o cartaz tinha legitimidade. Mas, neste momento, não revelava bom senso por parte do sector tauromáquico. Não é bem preso por ter cão e preso por o não ter - mas é quase.
Os aficionados têm todo o direito e todo o dever de afrontar o primeiro-ministro, depois de ele nos ter afrontado já por diversas vezes. Mas neste momento crítico, em que não sabemos sequer ainda se os espectáculos tauromáquicos abrirão ou não, havia que fazer as coisas com mais prudência e maior cautela. Agir "à bruta" foi pouco racional. E podia virar o feitiço contra o feiticeiro.
Fizeram bem em colocar o cartaz. Mas fizeram ainda melhor em o retirar.
Fotos M. Alvarenga