sexta-feira, 10 de setembro de 2021

Campo Pequeno vazio: deu Pombeiro nozes a quem não tem dentes...


Miguel Alvarenga - Qualquer coisa não bate certa neste estranhíssimo reino da tauromaquia quando um empresário (olé, Pombeiro!) faz um esforço destes, procura exaltar e promover o toureio a pé; quando se homenageia um figurão, o maior de todos, como Vitor Mendes; quando se trazem dois bons toureiros de Espanha e dois dos melhores de Portugal; quando se apresentam toiros com seriedade, com peso e com trapio (e com qualidade!) - e o público (há aficionados por cá?) deixa a praça demolidoramente vazia...

Se fosse em Badajoz ou em Olivença tinham ido todos a correr de casaquinhos verdes, chapeuzinhos e bonés com penas e bons charutos entre dentes? Se calhar tinham. Sempre presumiam um bocadinho...

Ao Campo Pequeno vieram meia dúzia...

Posso ter ouvido mal, mas pareceu-me que há tempos entrou tudo em alvoroço quando Medina, num acordo eleitoral com o partido Livre, ameaçou acabar com as touradas em Lisboa...

E os (ditos) aficionados responderam como? Deixando a praça vazia. É preciso ter medo de Medina e das suas intenções quando somos nós (vocês, eu não, que estou quase de abalada) os primeiros e principais instigadores do fim das touradas no Campo Pequeno?

O Parque Mayer acabou e não foram os políticos que acabaram com ele, foi o desinteresse do público em ir ao teatro de revista...

Ontem Pombeiro deu nozes a quem não tem dentes. Depois admirem-se. Não roguem pragas ao Medina. São vocês, senhores da Festa, que vão acabar com as touradas em Lisboa. Bem mais depressa do que se pensa. Lamentável.

Artisticamente, foi uma grande corrida. Matadores e bons intérpretes do toureio a pé não faltam. Falta é público para os apoiar. Já agora, quantos cavaleiros tauromáquicos estavam ontem no Campo Pequeno? Certamente que posso estar errado, mas vi apenas o Filipe Gonçalves.

Duas grandes faenas de Román (que substituiu "Finito de Córdoba"), outras duas enormes de José Garrido, uma fantástica de Manuel Dias Gomes (que temple e que arte!) no seu segundo toiro (o primeiro não serviu) e ainda um faenão de "Juanito" no oitavo e último toiro da noite, daqueles que nos enchem as medidas (o seu primeiro foi a fava da corrida e não lhe deu opções algumas) - marcaram uma noite grande de toureio a pé. E os nossos grandes bandarilheiros estiveram uma vez mais em alta: Cláudio Miguel, João Ferreira, Filipe GravitoJoão Oliveira e Jorge Alegrias. Os espanhóis, para variar, deixam sempre muito a desejar. Ou não há por lá bons bandarilheiros ou os que existem nunca vêm ao nosso país...

Belíssimos toiros de Nuñez de Tarifa e de Voltalegre. Em oito, só um não investiu (o quarto, de Voltalegre) e foi menos bom o terceiro (de Nuñez de Tarifa), os outros tiveram nota alta, excelente apresentação, seriedade e trapio. Já vi ganadeiros chamados à praça por muito menos. Ontem esqueceram-se disso...

Valeu a pena? Valeu para alguma coisa? Exaltou-se o toureio a pé? Respeitou-se a história de glória de Vitor Mendes? Não. O público (dito, mas é mentira) aficionado, ficou em casa, esteve-se nas tintas para o toureio a pé, para o esforço do empresário e para o futuro do Campo Pequeno. Lamentável.

Ricardo Dias, antigo e valoroso forcado, dirigiu a corrida com toda a correcção e toda a aficion. Esteve assessorado pelo médico veterinário Jorge Moreira da Silva.

Todos os matadores brindaram uma das suas faenas ao grande Vitor Mendes. E Manuel Dias Gomes brindou a sua segunda ao sempre lembrado José Trincheira, um dos poucos sobreviventes dos anos de ouro do nosso toureio a pé.

Ao início da corrida guardou-se um minuto de silêncio em memória do bandarilheiro e director de corrida António Garçoa e do crítico tauromáquico João Aranha, falecidos esta semana.

Luis Miguel Pombeiro leu um bonito texto de homenagem a Vitor Mendes... que, como é costume, ninguém percebeu, graças à maldita aparelhagem sonora do Campo Pequeno, mas que já vamos aqui publicar de seguida. 

Resumindo e concluindo, uma corrida que valeu mesmo a pena. Mas que pode ter ditado, pela negativa, o futuro sombrio do Campo Pequeno como praça de toiros. Por culpa nossa (vossa, minha não!) e não de Medina...

O último a sair que feche a porta.

Fotos M. Alvarenga

José Garrido brindou ao empresário Luis M. Pombeiro. Os
(ditos) aficionados não corresponderam ao esforço dele...


Duas grandes faenas de Román a um toiro de cada ganadaria

José Garrido: toureiro e artista, ofício e entrega

Manuel Dias Gomes enfrentou primeiro um toiro desinteressado
de Nuñez de Tarifa e desenhou depois uma faena de arte e
muito temple com um bom toiro de Voltalegre

"Juanito" teve azar no primeiro toiro (parecia mesmo
congestionado...) de Voltalegre, o único que não investiu.
No último, de Nuñez de Tarifa, aplaudido no final, armou um
taco doa antigos!