domingo, 20 de março de 2022

Santarém: estiveram os três bem, mas a maior ovação da tarde foi para os Pais deles!

Miguel Alvarenga - Na primeira corrida do ano, ontem em Santarém, depois de já se terem realizado alguns festivais, vim da capital ribatejana satisfeito, sobretudo com o grande ambiente que se voltou a viver na "Celestino Graça" (parabéns à Associação "Sector 9", digna continuadora do trabalho brilhante ali feito pela "Praça Maior"), mas não completamente deslumbrado como acontece quando se assiste a uma grande tarde de toiros...

João Moura Júnior, João Ribeiro Telles e João Salgueiro da Costa foram aplaudidos em grandes ferros e acertadíssima brega, cada qual defendeu o seu estilo e o seu estatuto de figura, mas ontem não houve propriamente uma grande "explosão", um grande triunfador. Estiveram os três bem. Mas os triunfadores maiores da tarde foram os Forcados, como já aqui referi detalhadamente, dos grupos de Santarém e do Aposento da Moita. E no que aos cavaleiros diz respeito, a maior ovação da tarde foi para os Pais deles...

Os toiros de Veiga Teixeira, superiormente bem apresentados, tiveram comportamentos distintos e os três cavaleiros insistiram em citá-los de largo, de praça a praça, quando toiros destes pedem que se lhes ande "mais em cima". O primeiro tardou em romper; o segundo teve casta e veio a mais; o terceiro "deixou-se" lidar sem espaventos; o quarto foi manso, reservado e com arreões defensivos; o quinto foi o toiro da tarde; e o sexto, manso e complicado, refugiou-se em tábuas sem querer ir à luta.

Foram, contudo, toiros "com teclas", exigentes, a impor seriedade, na linha daquela que é uma das mais temidas ganadarias nacionais e uma das que maior verdade dão ao espectáculo.

João Moura Jr. e João Ribeiro Telles são actualmente os dois primeiros da nova vaga e vão ser muito a base desta temporada, a atestar pelos cartéis das principais praças e das mais importantes feiras taurinas que já foram antecipadamente divulgados. Ou seja, vamos vê-los muito ao longo do ano.

Ambos estiveram ontem em praça com decisão e vontade de afirmação. Mas as lides foram em tom meio morno e iguais a sempre. Não foi, repito, uma tarde de grandes "explosões".

Moura Jr. recebeu o primeiro toiro com uma sorte de gaiola e pôs depois a carne no assador frente a um toiro que não rompia. Brega "à Moura", um ou outro ferro mais emotivo. A sua melhor actuação e aquela em que deu a verdadeira dimensão da solidez e da maturidade da sua imensa arte foi no difícil e complicado quarto toiro da corrida, a que atacou de todos os sítios, procurando - e conseguindo - pôr emoção onde ela tardava em surgir pelo fraco empenho do oponente. 

João Ribeiro Telles é um "leão" e vive um momento importantíssimo de plena consagração. Ontem foi bafejado pela sorte com os dois melhores toiros da corrida, sobretudo o quinto. No segundo da ordem, encastado e que veio a mais, João pisou a linha de fogo e deixou alguns ferros emotivos da sua marca. Actuação perfeita foi a quinta, frente a um grande toiro de Veiga Teixeira a que deu lide inteligente e de saber, terminando com dois "ferrões" com o fantástico cavalo "Ilusionista".

João Salgueiro da Costa chegou finalmente, nos dois últimos anos, à ribalta e ao lugar que prometia alcançar ao longo de muitas temporadas. Foi um dos triunfadores da última e já deixou de lado aquele selo de irregularidade que teimava em travar-lhe a escalada para o pelotão da frente. Já lá está.

O terceiro toiro da tarde tinha casta e exigia. Salgueiro impôs-lhe s verdade do seu toureio, sem contudo deslumbrar. Esteve bem, sem passar disso. No sexto, manso perdido, que cedo procurou o refúgio em tábuas, arriscou e arrimou-se em ousadas sortes a sesgo. Foi uma lide de muito valor, sem ser, por não ter tido toiro, uma lide de grande triunfo.

João Telles, porque ontem era Dia do Pai, brindou a sua segunda lide aos três Pais dos cavaleiros do cartel, três Figuras, ainda e sempre: a seu Pai, João Palha R. Telles, a João Moura e a João Salgueiro. Aos quais o público tributou aquela que foi a maior ovação de toda a tarde. E que quis dizer tanta coisa...

A corrida começou com quinze minutos de atraso porque havia muitos retardatários no exterior da praça. Falta de respeito pelos que chegam a horas. E durou umas três horas e meia... porque os dois primeiros toiros demoraram uma eternidade a recolher aos curros e também porque "houve obras" inesperadas numa das portas... Mas também, e sobretudo, porque (infelizmente) voltámos à (a)normalidade de ter aquelas cortesias infindáveis, aquelas voltas à arena que nunca mais acabam. Saudades das regras da pandemia, que tornavam as corridas muito mais rápidas e muito menos chatas...

Aplaudo o director de corrida Marco Cardoso por ter decidido seguir a corrida sem intervalo. Aplaudo com toda a força. De resto, dirigiu com acerto e alegria, já que deu música a todos...

Ao início guardou-se um minuto de silêncio em memória de Mestre José Samuel Lupi (nome grande do toureio a cavalo e que também foi forcado dos Amadores de Santarém, razão pela qual ontem o grupo se apresentou em praça de luto, com gravatas pretas) e de Carlos Lucas Martins, o querido e saudoso "Caloca", que nos deixou ontem de manhã.

Resumindo e concluindo, uma boa corrida sem ter sido uma grande corrida. Soube um pouco... a pouco. Triunfo maior dos Forcados e do público, que quase encheu a Monumental de Santarém, fruto do grande trabalho da Associação "Sector 9", pena não haver muitas associações como esta a dirigirem mais praças de toiros. Já há algumas (em Coruche e, agora, também no Cartaxo), mas era bom que houvesse ainda mais.

- Já a seguir, não perca, os melhores momentos das lides dos três cavaleiros ontem na "Celestino Graça".

Fotos M. Alvarenga e João Silva/Tauroleve

Estiveram os três bem, mas a realidade é que a maior ovação
da tarde foi para os Pais deles, quando João Telles lhes brindou
a sua segunda lide