Miguel Alvarenga - Agora falo eu, façamos contas. Neste fim-de-semana realizaram-se corridas completamente a despropósito e fora de data, no sábado, em Beja, em Coruche e em Santo António das Areias. Tiveram todas uma desgraçada e triste (não) presença de público. Pergunto: valeu a pena?...
A empresa de Beja não realizou a corrida da Ovibeja por chuva. Marcou esta para 28 de Maio, sem vir a propósito. Mais valia ter ficado quieta. Não meteu ninguém. Ganhou alguma coisa com isso? Tem imenso dinheiro para perder e pode perdê-lo? Mas a Festa ganha alguma coisa com isso, com uma tourada de praça vazia e sem o mínimo ambiente?...
Coruche montou para o mesmo dia, sem ser data tradicional, um "mano-a-mano inédito" entre Rui Fernandes e João Telles. Dois grandes toureiros, sim senhor. Mas alguma razão especial para este mano-a-mano? Andam os dois em guerra para justificar esta competição? Nada disso. Um perfeito disparate...
São amiguinhos, até treinam juntos... Um mano-a-mano destes faz-se com uma guerra, nem que seja inventada em bastidores. Nunca assim. Ganhou-se o quê? Os dois cavaleiros, que se fartam de apregoar que só toureiam muito bem pagos, valem agora o quê?...
Em Santo António das Areias, uma pracinha que leva meia dúzia de pessoas, registou meia casita e estavam anunciados dois figurões, Moura Jr. e Bastinhas. Era corrida, noutros tempos (nos tempos dos pais deles) para esgotar e andar tudo cá fora à estalada à procura de um bilhete. Não aconteceu nada disso...
Resumindo e concluindo: doa a quem doer, e vai doer certamente a muitos, a realidade é que não existe hoje em dia em Portugal um único ídolo, um toureiro que arraste gente às praças. E os que o querem ser entram em números destes e perdem tudo...
Domingo encheu a praça da Azambuja, a única das cinco corridas do fim-de-semana que tinha razão de ser, pela tradição. Com um cartel diferente de seis cavaleiros, muito mais atractivo e interessante do que os habituais com "mais do mesmo". Em Montemor dizem-me que a praça também teve gente, noutra corrida fora de data e com uma coisa que irritou muita gente: seis toiros espanhóis, depois dos calvário que sofreram os ganadeiros portugueses nos dois anos da pandemia.
Valeu a pena toda esta parvoíce? Não valeu, não senhor.
Às vezes até me custa dizer isto, parece que sou velho, mas a verdade é que ainda vivi o tempo de Manuel dos Santos, de Alfredo Ovelha, de Américo Pena e José Cardal, de Nuno Salvação Barreto, de Manuel Gonçalves, do João Duarte, do Nené e do Rogério Amaro e sou obrigado a reconhecer que estes, sim, eram empresários a sério. E que os de hoje, salvo raras excepções (posso nomeá-las todas, mas não me apetece), são verdadeiro coveiros da Festa.
A mim, não me incomoda muito. Sou profissional, estou neste momento noutro projecto jornalístico, tinha pensado deixar isto dos bois este ano, mas ainda me diverte e por isso ainda aguento mais um tempinho, tanto me faz que isto acabe ou não, mas tenho pena que isto vá ao fundo pela estupidez desta gente.
Há um ano, ia caindo o Carmo e a Trindade quando eu escrevi no Facebook que nunca iria levar o meu neto aos toiros e que isto já não existiria no dia em que ele fosse crescido. Ficaram todos muito ofendidos comigo. E eu a rir-me.
Hoje, escrevo exactamente o mesmo. Este meio está tão mau e tão sem sentido, que não tarda muito isto acaba de vez. Por culpa exclusiva dos que (pensam que) mandam e só fazem disparates atrás de disparates. Valha-nos Deus!
Foto D.R.