Miguel Alvarenga - Depois de uma lotação esgotada na primeira corrida, o Campo Pequeno registou ontem uma entrada de público algo aquém das expectativas iniciais, a rondar os três quartos, sem aquele ambiente e muito menos o glamour que se viveu na noite dos Ribeiro Telles.
A noite ficou marcada, como se antevia, pela seriedade dos toiros de Murteira Grave, sem pesos excessivos, como o ganadeiro tinha avisado, com trapio, com presença e a transmitir emoção. De nota alta os três primeiros, bravo e a pedir contas o quarto, sendo Joaquim Grave muito justamente brindado pela directora de corrida Lara Gregório de Oliveira com honrarias de volta à arena muito aplaudida pelo público.
O quinto toiro, que deu nota de ser o mais reservado e mais complicado até ali, desembolou-se do corno esquerdo (um toiro mal embolado na primeira praça do país é uma coisa normal?...) e recolheu aos currais para ser outra vez embolado. Voltou depois, mas já nada foi igual. Francisco Palha fez os possíveis, apenas isso...
Nesta altura fui embora. A corrida estava a decorrer num tom morno e chato, tenho a maior das penas, mas já não tenho paciência para aguentar seis toiros no contexto actual em que decorrem as nossas touradas. Esta Festarola dos dias de hoje já tem muito pouco a ver com a Festa por que me entusiasmei em miúdo, a que o meu Pai me levava. Perdi mais ou menos a pachorra. Agora vou tranquilo de férias, preciso de mar, voltarei na Feira da Moita. Já chega.
João Moura Júnior é, e continua a ser, o líder incontestado do pelotão. Lidou magistralmente o primeiro toiro da corrida, o mais pesado, com a arte e o temple de maestria e saber a que nos habituou.
Pelo meio, enfrentou o número do anti-taurino Peter Janssen, que desta vez não saltou à arena, dando antes uma espécie de passos de dança sobre os curros, sendo de imediato manietado e levado por agentes da PSP.
No segundo do seu lote, quarto da noite, Moura levou o público ao rubro, todos de pé, euforia total nas bancadas, três "mourinas" fantásticas, mas... no final da actuação contei seis ferros (seis!) espalhados pela arena. Falta de pontaria? Mesmo assim, o público delirou, aplaudiu, levantou-se dos lugares...
O Campo Pequeno perdeu há muitos anos o charme, até o glamour, mas sobretudo a seriedade que noutros tempos lhe era imposta por um público selecto e conhecedor. Hoje, o Campo Pequeno é mais uma Feira Popular a que só faltam carrinhos de choque e o cheiro (horrível) a sardinhas e a farturas, onde a malta vai para se divertir e aplaudir, sem saber bem o que está a ver e, sobretudo, sem perceber aquilo que vê...
Francisco Palha, no segundo toiro da noite, foi o triunfador maior de uma corrida que teve nos toiros, nos forcados e no show do anti-taurino os seus momentos mais emotivos. Palhinha recebeu o toiro com uma imponente e emotiva sorte de gaiola e, a seguir, tudo o que fez, fez bem. Não falhou um ferro, não levou um toque, não deixou um (nem seis...) ferro no chão. Uma lide perfeita, que não pôde repetir no outro toiro, o que se desembolou, saíu e voltou, e, além disso, foi o mais reservado e complicado de todos.
Andrés Romero é, ou era, um rejoneador com créditos firmados e de que o publico português já se habituou a gostar. Ontem, contudo, não esteve nos seus dias e muito menos justificou o facto de o empresário Luis Miguel Pombeiro o ter anunciado, vá lá a entender-se porquê (há razões que a razão desconhece, mas que eu até conheço e bem...) numa corrida deste calibre com dois toiros.
Não se entendeu com o terceiro Grave da noite, um toiro que tinha teclas e pedia contas. Brindou ao seu apoderado António Nunes, mas depois teve uma presença medíocre e para esquecer. Sem argumentos, andou à nora, desorientado, nem parecia ele.
No último toiro, que não vi, dizem que se esforçou mais para não sair dali completamente perdido.
Romero ocupou ontem em Lisboa, sem que isso se justifique minimamente, um posto - numa temporada de apenas quatro touradas - que merecia ter sido ocupado por um cavaleiro português. Por exemplo, António Prates (triunfador máximo da recente Corrida "Farpas"), António Telles Filho (depois da triunfal alternativa nesta praça), Tristão Telles Queiroz (triunfador na primeira corrida) ou Duarte Fernandes (cavaleiro que faz falta para dar vida à temporada), para citar apenas quatro.
Bem, com toiros que não eram para brincadeiras, as quadrilhas dos três cavaleiros: João Ganhão e Benito Moura (Moura Jr.), Diogo Malafaia e João Oliveira (Palha), Pedro Moreno e Duarte Alegrete (Romero).
Vi quatro pegas, as primeiras, dos forcados de Montemor e de Évora, que vou aqui mostrar a seguir. Foi dos Forcados a noite. Com toiros de verdade.
Dirigiu bem Lara Gregório de Oliveira. Esteve assessorada, como é costume nesta praça, pelo médico veterinário Jorge Moreira da Silva.
A presença dos toiros de Murteira Grave trouxe ontem ao Campo Pequeno muitos aficionados de solera. E não faltou também a falange de apoiantes dos Forcados de Montemor - que é sempre composta por aficionados selectos e conhecedores. A contrastar com o povinho festivaleiro que hoje em dia povoa a outrora emblemática e tão respeitável primeira praça do país. Tempos outros...
Até à Moita!
Foto M. Alvarenga