sábado, 25 de outubro de 2025

Rui Souto Barreiros pegava toiros e cantava o fado: morreu um português dos de verdade

Miguel AlvarengaRui Souto Barreiros era um português que amava o Portugal de antigamente e o continuava a defender com a integridade e a seriedade dos que ainda veneram esse tempo-outro - pegava toiros, cantava o fado, inspirava-se nas mais bonitas tradições do seu país para criar bonitos quadros nessa faceta de pintor que era, talvez, a menos conhecida das artes que abraçou - além disso era uma pessoa encantadora, maravilhosa, agradável, de uma esmerada educação que quase já não se usa, era um dedicado marido, um fantástico pai, um avô babado - um amigo de verdade daqueles que eram também seus amigos.

Rui Souto Barreiros morreu hoje num hospital de Lisboa onde estava internado devido ao agravamento dos problemas de saúde que o atormentaram nos últimos anos. Natural da Golegã, tinha 82 anos.

Só não digo que ele é o Último Moicano de uma geração e de uma raça em extinção de saudáveis aficionados, entendidos e apaixonados pela Festa, pela simples razão de que, felizmente, ainda cá estão mais alguns. Mas qualquer dia não temos nem um desse tempo-outro em que na Festa havia Senhores, havia esplendor, havia glamour e havia uma enorme e tremenda seriedade.

Ainda tive a honra de conhecer o Senhor seu Pai, o Dr. Barreiros, uma figura respeitada no meio tauromáquico, amigo de Manuel dos Santos, amigo de Patrício Cecílio, que tantas vezes cumprimentei na trincheira do Campo Pequeno e com quem, falando, se aprendia.

O Rui foi uma figura marcante dos forcados. Honrou a jaqueta dos Amadores de Santarém, grupo de que foi cabo seu irmão José Manuel Souto Barreiros. Integrou depois e comandou o Grupo de Amadores do Ribatejo, que hoje o recorda nas suas redes sociais como "uma lenda, das antigas, da história da forcadagem nacional e um dos mais importantes cabos do nosso Grupo".

Rui Souto Barreiros foi o quinto cabo dos Amadores do Ribatejo e aquele que mais anos esteve "no comando" - desde 1972 a 1992. Sucedeu ao cabo fundador Manuel da Cruz (1963), a Américo Chinita de Mira (1963-1966), a Juliano Louceiro (1967-1968) e a Júlio Parente de Almeida (1969-1971).

"Só parte definitivamente quem é esquecido, o legado deixado, tanto como referência individual, como inspiração coletiva, jamais será esquecido. A história é uma linha contínua que segue de mão dada com todos aqueles que para ela contribuiram. Palavras de agradecimento nunca serão suficientes por tudo o que foi feito" - lê-se na página do GFA do Ribatejo da rede social Facebook, na evocação hoje feita ao antigo cabo.

Como no início escrevi, o Rui pegou toiros, cantou o fado (apresentou em 2019 na Golegã o seu cd), foi pintor, amou e defendeu as tradições do seu país. Reunia demasiados atributos e foi dotado de muitas virtudes que agora vão fazer sentir ainda mais a sua falta àqueles que foram seus amigos e estavam habituados a com ele trocar um sorriso, uma palavra amiga e educada.

Emilinha foi a sua primeira Mulher. Zézinha Bento era a sua Mulher actual. O Rui deixa cinco filhos: a Sofia, o Vasco (que também foi forcado), o Rodrigo, a Inês e a Maria Ana. Era avó do também forcado Francisco Barreiros Andrade, do Grupo do Aposento da Chamusca.

A toda a ilustre Família enlutada, a sua Mulher, seus filhos e netos, endereçamos as mais sentidas condolências, bem como a todos os seus amigos e aos grupos de forcados Amadores de Santarém e Amadores do Ribatejo.

Que em paz descanse.

Fotos M. Alvarenga, A. Figueiredo/Arquivo, Fernando José e D.R.

Bernardo Mesquitella, José Júlio Costa, António Teles e o cabo
Rui Souto Barreiros
Passeado em ombros na tarde em que se despediu das arenas
Rui Souto Barreiros, Carlos Teles ( saudoso pai de Carlos Teles
"Caló" e de António Teles "Baré") e Manuel Pires de Lima
Rui Barreiros de novo com Carlos Teles e o eterno Zézinho Palha

Em 1964, forcado do Grupo de Santarém, com
Emilinha, sua primeira Mulher
Com Miguel Alvarenga na arena do Campo Pequeno num acto
comemorativo da 1ª Corrida TV
Em 2019 no Largo do Arneiro, na Golegã, apresentando o seu cd
de fados, acompanhado por Luis Petisca e Armando Figueiredo

A pintura foi, talvez, a sua paixão menos conhecida
No Campo Pequeno, com Zézinha Bento, sua actual Mulher