Miguel Alvarenga - Rui Souto Barreiros era um português que amava o Portugal de antigamente e o continuava a defender com a integridade e a seriedade dos que ainda veneram esse tempo-outro - pegava toiros, cantava o fado, inspirava-se nas mais bonitas tradições do seu país para criar bonitos quadros nessa faceta de pintor que era, talvez, a menos conhecida das artes que abraçou - além disso era uma pessoa encantadora, maravilhosa, agradável, de uma esmerada educação que quase já não se usa, era um dedicado marido, um fantástico pai, um avô babado - um amigo de verdade daqueles que eram também seus amigos.
Rui Souto Barreiros morreu hoje num hospital de Lisboa onde estava internado devido ao agravamento dos problemas de saúde que o atormentaram nos últimos anos. Natural da Golegã, tinha 82 anos.
Só não digo que ele é o Último Moicano de uma geração e de uma raça em extinção de saudáveis aficionados, entendidos e apaixonados pela Festa, pela simples razão de que, felizmente, ainda cá estão mais alguns. Mas qualquer dia não temos nem um desse tempo-outro em que na Festa havia Senhores, havia esplendor, havia glamour e havia uma enorme e tremenda seriedade.
Ainda tive a honra de conhecer o Senhor seu Pai, o Dr. Barreiros, uma figura respeitada no meio tauromáquico, amigo de Manuel dos Santos, amigo de Patrício Cecílio, que tantas vezes cumprimentei na trincheira do Campo Pequeno e com quem, falando, se aprendia.
O Rui foi uma figura marcante dos forcados. Honrou a jaqueta dos Amadores de Santarém, grupo de que foi cabo seu irmão José Manuel Souto Barreiros. Integrou depois e comandou o Grupo de Amadores do Ribatejo, que hoje o recorda nas suas redes sociais como "uma lenda, das antigas, da história da forcadagem nacional e um dos mais importantes cabos do nosso Grupo".
Rui Souto Barreiros foi o quinto cabo dos Amadores do Ribatejo e aquele que mais anos esteve "no comando" - desde 1972 a 1992. Sucedeu ao cabo fundador Manuel da Cruz (1963), a Américo Chinita de Mira (1963-1966), a Juliano Louceiro (1967-1968) e a Júlio Parente de Almeida (1969-1971).
"Só parte definitivamente quem é esquecido, o legado deixado, tanto como referência individual, como inspiração coletiva, jamais será esquecido. A história é uma linha contínua que segue de mão dada com todos aqueles que para ela contribuiram. Palavras de agradecimento nunca serão suficientes por tudo o que foi feito" - lê-se na página do GFA do Ribatejo da rede social Facebook, na evocação hoje feita ao antigo cabo.
Como no início escrevi, o Rui pegou toiros, cantou o fado (apresentou em 2019 na Golegã o seu cd), foi pintor, amou e defendeu as tradições do seu país. Reunia demasiados atributos e foi dotado de muitas virtudes que agora vão fazer sentir ainda mais a sua falta àqueles que foram seus amigos e estavam habituados a com ele trocar um sorriso, uma palavra amiga e educada.
Emilinha foi a sua primeira Mulher. Zézinha Bento era a sua Mulher actual. O Rui deixa cinco filhos: a Sofia, o Vasco (que também foi forcado), o Rodrigo, a Inês e a Maria Ana. Era avó do também forcado Francisco Barreiros Andrade, do Grupo do Aposento da Chamusca.
A toda a ilustre Família enlutada, a sua Mulher, seus filhos e netos, endereçamos as mais sentidas condolências, bem como a todos os seus amigos e aos grupos de forcados Amadores de Santarém e Amadores do Ribatejo.
Que em paz descanse.
Fotos M. Alvarenga, A. Figueiredo/Arquivo, Fernando José e D.R.
![]() |
| Bernardo Mesquitella, José Júlio Costa, António Teles e o cabo Rui Souto Barreiros |
![]() |
| Passeado em ombros na tarde em que se despediu das arenas |
![]() |
| Rui Souto Barreiros, Carlos Teles ( saudoso pai de Carlos Teles "Caló" e de António Teles "Baré") e Manuel Pires de Lima |
![]() |
| Rui Barreiros de novo com Carlos Teles e o eterno Zézinho Palha |
![]() |
| Em 1964, forcado do Grupo de Santarém, com Emilinha, sua primeira Mulher |
![]() |
| Com Miguel Alvarenga na arena do Campo Pequeno num acto comemorativo da 1ª Corrida TV |
![]() |
| Em 2019 no Largo do Arneiro, na Golegã, apresentando o seu cd de fados, acompanhado por Luis Petisca e Armando Figueiredo |
![]() |
| A pintura foi, talvez, a sua paixão menos conhecida |
| No Campo Pequeno, com Zézinha Bento, sua actual Mulher |










