segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Campo Pequeno: os espanhóis é que classificam a Catedral? E nós, ficamos todos calados?


Miguel Alvarenga - Não fosse José António Martínez Uranga, vulgo "Choperita", presidente da empresa "Taurodelta" (a que agora se associaram Simón Casas e Matilla) e simultâneamente presidente da ANOET (a associação espanhola de empresários tauromáquicos) e certamente não seria fácil de entender esta "embirração" de "nuestros hermanos" em teimar, hoje, assim de repente, que a praça de toiros do Campo Pequeno é uma praça de segunda categoria. Dá-lhe(s) jeito, sobretudo se atendermos ao facto de Martínez Uranga ser o patrono daquela que era, até às 13h50 de hoje, a única candidatura à adjudicação da Monumental de Madrid. Estava à vontade. Era certo e sabido, "era canja", como cá se usa dizer, que a vitória estava garantida.
Só que, quando faltavam dez minutos para as duas da tarde, prazo estabelecido para a entrega de propostas na Comunidad de Madrid, apareceu uma segunda concorrente. A empresa formada pelo empresário Tomás Entero, pelo antigo matador e também empresário Beca Belmonte e pela Sociedade Campo Pequeno, ali representada pelo seu gerente taurino, Rui Bento.
Reza o chamado "pliego" (caderno de encargos) que as empresas concorrentes a Madrid têm que comprovar a sua experiência de três anos consecutivos na gestão de duas praças de primeira categoria. O grupo alegou, entre outras, a experiência de um dos seus sócios, Rui Bento, à frente do Campo Pequeno. E, sem mais nada em que pegar, vieram a público os "emissários" da proposta rival decretar, assim sem mais nem quê, que a primeira praça de toiros de Portugal, Catedral Universal do Toureio a Cavalo, era, imaginem, uma praça de segunda categoria...
Catalogada em Portugal por todas e mais algumas instituições oficiais como praça de primeira categoria, reconhecida mundialmente por todas as grandes figuras do toureio que a pisaram ao longo de mais de cem anos como praça de primeira (primeiríssima!) categoria, foi preciso aparecer uma segunda empresa concorrente a Madrid para que a nossa Catedral passasse a ser (pasme-se!) de segunda categoria... com o objectivo, único, claro, transparente e puramente "mafioso", de tentar inviabilizar essa candidatura...
E eu pergunto, na minha santa ignorância: são os espanhóis quem diz e classifica se as nossas praças de toiros são de primeira, de segunda ou de terceira categoria? É a ANOET, ou fosse a Graciete ou a Elizabete, tanto faz, que decretam, assim de repente, que a primeira praça de toiros de Portugal, afinal, é uma "praça secundária"?...
Mais estranho, ou talvez nem por isso: nas redes sociais - "Facebook", "Twitter", etc. - a discussão está ao rubro. Mas não li ainda nenhuma tomada de posição de quem já devia ter vindo a terreiro em defesa da nossa dama. Nomeadamente, dessa "coisa" que se chama "PróToiro", da Associação Portuguesa de Empresários Tauromáquicos ou mesmo da Associação Nacional de Toureiros, antigo Sindicato, ou mesmo da Associação de Forcados, da Associação de Ganadeiros, de toda essa gente que faz muito barulho de vez em quando, mas que se cala quando é preciso agir e dizer "presente!". Estarão a dormir? Não leram as notícias do dia? Não sabem de nada?...
Não sei se é bom o Campo Pequeno concorrer a Madrid. Não sei se é proveitoso para o toureio nacional e para a nossa Festa. Mas não é isso que está agora em causa. O que está neste momento em causa é o facto de terem aparecido umas entidades espanholas a decretar que a primeira praça de toiros de Portugal, ao fim de mais de cem anos, afinal de contas, é uma praça de segunda categoria, uma coisa qualquer - e de ninguém, por cá, ter reagido a isso.

Fotos D.R.