segunda-feira, 31 de outubro de 2016

João R. Telles em tempo de balanço: "Têm de haver menos corridas e cartéis mais rematados"

"Em Espanha espero poder dar o salto definitivo e confirmar a alternativa
em Madrid e em Nimes"
Momentos de uma sessão fotográfica para o "Farpas" no rio, em Salvaterra
"2016 foi uma das minhas temporadas mais redondas, consistente, madura
e em crescendo"


No final daquela que todos reconhecemos ter sido a sua melhor temporada, João Ribeiro Telles faz o balanço da campanha triunfal em arenas de Portugal e de Espanha. E fala do futuro, fala sobretudo do futuro. Quer manter o nível alto que conquistou entre nós e ambiciona por fim pisar as arenas mais importantes do mundo taurino, nomeadamente as de Madrid, de Sevilha e de Nimes. Considera-se preparado e confessa que “quer sempre mais e melhor”. Defende menos corridas em Portugal e recorda que “as datas tradicionais, com bons cartéis, tiverem sempre grande afluência de público”. No ano da sua morte, recorda o Avô, Mestre David, como “um exemplo e uma pessoa única”. Diz que no campo do apoderamento, “para já, segue tudo igual”. Considera-se satisfeito com a sua temporada e diz que foi “consistente, madura e em crescendo. A palavra a João Ribeiro Telles.

Entrevista de Miguel Alvarenga

- Esta foi a melhor temporada de sempre, João?
- Não digo que tenha sido a melhor, mas sem dúvida que foi das melhores e das mais redondas. Penso que foi uma temporada consistente, madura e em crescendo.
- Fruto certamente de muito trabalho, de muita preparação, chegaste à meta pretendida?
- A meu ver, nunca chegamos à meta, sou muito ambicioso e quero sempre mais, penso que estou no caminho certo, mas sei que é o caminho mais difícil, porque procuro a perfeição e nem sempre sai, mas felizmente as coisa têm-me saído francamente bem.
- Tens finalmente a quadra ideal? 
- Como disse atrás, quero sempre mais, tenho uma quadra muito sólida e com muitos cavalos novos, tenho opções, mas nos últimos anos tive dois grandes azares, dois dos meus craques morreram, mas são coisas que temos de estar sempre preparados para que aconteçam, porque infelizmente acontecem quando menos estamos à espera e a verdade é que eram dois pilares fundamentais na minha quadra. Tenho cavalos actuais muito bons e novidades para o ano nas quais deposito muita esperança.
- Marcaste a temporada nacional, mas repartiste também a tua actividade por Espanha, se bem que ainda fora dos grandes palcos. Madrid e Sevilha são os objectivos imediatos?
- Mais que objectivos imediatos, são um sonho! Tenho lutado muito em Espanha, porque desde sempre tenho o sonho de um dia poder estar nas grandes feiras, sei que tenho condições e que agora, mais que nunca, estou preparado para isso, estou maduro, com uma quadra muito completa, com muita ilusão… Assim haja sorte de neste próximo ano dar esse salto definitivo, que penso que pode acontecer.
- “Nené” vai continuar a apoderar-te? E em Espanha, há mudanças?
- Para já, tudo segue igual.
- No ano da morte de teu Avô, Mestre David Ribeiro Telles, que recordações ficam dessa figura ímpar do toureio a cavalo?
- Felizmente as recordações são mais que muitas e todas elas, cada uma melhor que a outra! Como o meu Avô, não é fácil aparecer alguém igual na vida, era um exemplo de tudo para todos nós. O exemplo disso é cada pessoa que perguntamos por ele, a resposta ser sempre igual. Penso que para todos e em especial para mim, é uma pessoa única! Todos os dias penso nele e tenho a certeza que o Avô todos os dias olha por todos nós! Deixa-nos muitas saudades!
- João Moura Jr. é o teu maior rival? 
- Para mim, todos os colegas são os maiores rivais, mas a verdade é que toda a aficion nos compara e todos criam grande expectativa em nós e penso que isso só é bom para nós, o que faz com que sejamos os maiores rivais da tauromaquia nacional.
- Concordas que faltam ídolos no toureio, figuras que levem o público às praças?
- Penso que há muitos toureiros novos com grande qualidade, a realidade é que estamos a atravessar uma crise mundial muito forte, não é só a nível taurino, e como em todos os sectores, a tauromaquia também tem sentido isso. Eu sempre fui mais pela qualidade do que pela quantidade e acho que quanto melhores são os toureiros, mais têm de ter essa ideia, para que o público tenha desejo de nos ver e com a situação que lhe comentei da crise, agora ainda mais, a meu ver tem de haver menor número de corridas e cartéis mais rematados. E temos exemplos bons de datas tradicionais com cartéis fortes, têm tido grande afluência de público.
- Os anti-taurinos incomodam-te?
- Na verdade não me incomodam, mas têm a sua força e as suas ideias. Mas penso que o aficionado no geral e quem gosta da Festa começou a aperceber-se que eles realmente existiam e tem havido mais mexidas e mais empenho em defesa da Festa, o que nos dá bastante força. Nós somos muito mais, muito melhores, muito mais respeitadores e, felizmente, acima de tudo, temos sido nos últimos tempos muito mais unidos, o que faz com que os antis cada vez tenham menos força. Nunca podemos é achar que já chega, porque eles vão sempre querer defender as suas ideias. Mas felizmente temos mais força, logo eles a mim não me metem medo. Mas sim, tenho respeito, como a qualquer pessoa.
- Que projectos para 2017?
- Os projectos e as ideias não podem ser melhores. Em Portugal, manter o nível de feiras e corridas fortes, penso que é o caminho e tentar fazer coisas diferentes para que possam marcar. Em Espanha, espero dar o salto definitivo e poder confirmar a alternativa em Madrid e Nimes. Esse é o meu sonho, que cada vez vejo mais perto de poder realizar.

Fotos D.R., Emílio de Jesus, Maria Mil-Homens e Carlos Silva