quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Sónia Matias, a Rainha do Toureio a Cavalo, faz o balanço do sucesso com 6 toiros na Nazaré: "Provei que sou capaz e todos viram que estou de novo em alta!"



Havia quem vaticinasse, com a costumeira maldade, que a corrida de sábado passado na Nazaré, onde fez frente a seis toiros, seria “o enterro” de Sónia Matias, depois de um período menos regular em que faltaram cavalos mas jamais esmoreceu a força interior, a garra e a desmedida valentia da popular toureira. Mas aconteceu o contrário. Sónia esteve, e de que maneira, à altura do desafio. “Era a corrida que me fazia falta”, confessa. Em cima do acontecimento, fomos ouvir de viva voz o seu balanço. Sagrou-se Rainha do Toureio a Cavalo, 17 anos depois de ter sido a primeira Mulher a receber a alternativa de cavaleira tauromáquica. E agora, a primeira a tourear seis toiros. Esta noite actua em Albufeira. Onde se apresenta com nova moral e com responsabilidade acrescida depois do memorável triunfo na encerrona do passado sábado.

Entrevista de Miguel Alvarenga

- A corrida dos seis toiros era um grito de afirmação, Sónia, uma necessidade para provar que ainda mexe?
- O público sabe que ainda mexo e continua a acarinhar-me, graças a Deus. Mas, de algum modo, a corrida dos seis toiros era um grito de afirmação, sim. Atravessei uma crise de cavalos, coisa normal que se passa com qualquer cavaleiro e a verdade é que as últimas temporadas não foram brilhantes e no ano passado não estive bem na única corrida em que actuei no Campo Pequeno, que é a primeira praça do país e onde se tem que triunfar. Era uma espinha que tinha atravessada na garganta e precisa muito de um êxito como o de sábado. Felizmente, superei-me a mim própria, houve quatro toiros da Herdade de Camarate muito bons, especialmente o primeiro e o último e fechei a noite com chave de ouro. Ao fim de tourear seis toiros, um deles a duo com a Soraia Costa, que era a toureira suplente, o público não estava cansado e ainda me pedia mais ferros! Consegui demonstrar que estou de novo em alta e isso foi importante.
- Ou seja, depois da tempestade veio a bonança?
- Vem sempre a bonança depois de uma tempestade! Confesso que não me senti bem no ano passado, tive corridas boas, mas não andei a gosto, faltavam-me cavalos. Agora estou de novo no caminho certo e com a moral em alta. Tourear seis toiros era um grande desafio, era um risco, é sempre um risco uma corrida destas, mas eu não a aceitaria se não me sentisse preparada. E o resltado foi muito positivo.
- A Rainha voltou ao trono?
- Isso não sou eu quem tem que o dizer e até me ficava mal... Mas o público e a crítica, sobretudo a crítica, que eu respeito muito, foram unânimes em reconhecer que estive à altura do desafio a que me propus.
- Esta corrida com seis toiros era uma espécie de "vai ou racha" na sua carreira?
- Mais ou menos isso, sim...
- E teve, tem, uma quadra à altura, também foi importante confirmar isso…
- Foi. Comprei novos cavalos, trabalhei muito neste Inverno, refiz a quadra e neste momento estou de novo bem montada e pronta a cumprir e a vencer qualquer desafio. Esta corrida da Nazaré, repito, foi muito importante para provar isso tudo e, sobretudo, foi muito importante para mim. Não sou de me ir abaixo, mas precisava de provar a mim própria e ao público que ainda tenho muito para dar.
- Estreou uma nova casaca de Fátima Lopes, também.
- Uma casaca azul, lindíssima. E toureei os primeiros toiros com a casaca da minha alternativa.
- Havia quem pensasse que a Sónia Matias tinha acabado…
- Devido à crise de cavalos que atravessei e isso acontece muita vez na carreira de qualquer cavaleiro, havia, de facto, quem já dissesse que eu tinha acabado. Mas provei o contrário.
- Era um desafio complicado…
- Era. Tourear seis toiros é sempre um desafio complicado para qualquer toureiro. Fi-lo numa praça que não é fácil, que tem uma arena de reduzidas dimensões, há quem lhe chame um “alguidar”, mas é uma praça que eu adoro e um público que sempre me acarinhou e apoiou muito. É uma praça onde o público está muito próximo dos toureiros, há uma cumplicidade grande entre toureiro e público, gosto muito de tourear na Nazaré, mas confesso que havia praças muito menos complicadas para me encerrar com seis toiros. Até isso foi um desafio. Mas eu estava preparada. Seria inconsciente de não estivesse. Não me ia atirar para a frente num desafio destes se não estivesse perfeitamente consciente de que era capaz. Toureei pouco este ano, tenciono fazer entre vinte a vinte e cinco corridas, não mais, optar pela qualidade e não pela quantidade. Mas cheguei à Nazaré preparada, os cavalos estavam aptos e se não sentisse isso não teria aceite este desafio. Tudo podia acontecer, tudo pode acontecer sempre quando se entra numa arena, mas eu sentia que as probabilidades de triunfar eram muito maiores do que as de fracassar.
- Foi uma corrida que voltou a pôr tudo no seu lugar?
- Acho que foi. Provei ao público e confirmei a mim própria que era capaz. E correu tudo tão depressa. Quando dei por mim já estava a lidar o quarto toiro, foi uma corrida com ritmo, o público não se cansou e eu não me cansei. Adorei.
- Mais 17 anos nas arenas?
- Cumpro esta temporada 17 anos de alternativa, o tempo passou a correr. Mais 17 não direi, mas não me vou retirar tão cedo.
- Mais corridas pela frente… e Lisboa?
- Gostava muito de tourear no Campo Pequeno numa temporada tão marcante e tão significativa como esta em que se comemoram os 125 anos da inauguração da praça. A época ainda não acabou, tenho esperança de ainda integrar um dos próximos cartéis.
- António Nunes vai continuar a ser o seu apoderado?
- Damo-nos bem, entendemo-nos, tem feito um bom trabalho, não há nada em contrário para que não continue.
- Moralizada, finalmente, para seguir em frente?
- Sim, bastante moralizada, foi como se tivesse renascido. Este triunfo na Nazaré foi, como disse, muito importante, porque foi o culminar de muita coisa. Precisava desta corrida para me sentir renascida, para provar que estou novamente bem montada e que podia com seis toiros. Conseguiu, não posso estar mais feliz. E vou seguir em frente, claro. Sempre!

Fotos Armando Alves/Forcadilhas e Toiros e Pedro Batalha/@Sónia Matias/Facebook