Miguel Alvarenga - Em Dia de Portugal, os Forcados, últimos grandes românticos dessa portuguesíssima e única arte de pegar toiros, sairam ontem, juntamente com os cavaleiros, com a força do matador Roca Rey, com a ganadaria Murteira Grave e, sobretudo, com aquele público maravilhoso e entusiasta que esgotou 48 horas antes a lotação da maior praça de toiros do país, triunfadores da Monumental de Santarém, como não podia deixar de ser, no mais importante derby da forcadagem nacional - a eterna e tão saudável competição Santarém/Montemor.
Os toiros de Murteira Grave, muito bem apresentados, como manda a tradição, sairam a exigir, a pedir contas, a nada facilitar. Foram nobres, foram pelo seu caminho, tinham força e tinham raça, tinham bravura.
Os dois grupos de forcados, os Amadores de Santarém e os Amadores de Montemor, os mesmos que vão abrir a temporada do Campo Pequeno na noite de 4 de Julho e também com toiros de Murteira Grave, estiveram à altura das circunstâncias. Outra coisa se não esperava de tão gloriosos grupos de forcados!
O primeiro toiro foi pegado por Salvador Ribeiro de Almeida, grande forcado de Santarém, forcado de dinastia - filho do célebre "Fininho" Ribeiro de Almeida, sobrinho do também recordado forcado Nuno Ribeiro de Almeida - que já no sábado brilhara nesta arena. Brindou esta primeira pega da tarde ao público.
Bem a recuar e a receber, fechou-se com decisão, aguentou alguns derrotes, andou meio "dentro e fora", mas os ajudas estiveram "em cima da hora" a apoiá-lo e a permitir que a pega ficasse consumada à primeira.
Para pegar o segundo Grave saltou à arena de Santarém - e fê-lo pela última vez, já que em Setembro se despede na sua praça - o grande Francisco Maria Borges, um histórico dos Amadores de Montemor. Também um forcado de dinastia. Filho e irmão, respectivamente, dos lembrados forcados montemorenses Francisco Borges e Pedro Borges, e sobrinho do também elemento do grupo Agostinho Borges, hoje director de corrida.
E triunfou logo antes de pegar, pelo emotivo e eloquente brinde que fez "em voz alta", para que o ouvissem os mais de onze mil espectadores que esgotavam a praça, aos companheiros de cartel, aos ganadeiros, aos organizadores das corridas neste praça e sobretudo ao público que a esgotou com tanto entusiasmo, celebrando da melhor forma o Dia de Portugal, honrando o nosso Camões e a nossa Raça eterna. Frisou bem Francisco Borges o orgulho de ser Aficionado, o orgulho de ser Português que todos ontem sentimos naquele ambiente único que ali se viveu com tanto calor, com tanto esplendor, com tanto glamour - e com tanto patriotismo!
Francisco Borges citou o toiro de largo, de praça a praça, deu-lhe todas as vantagens, toda a prioridade, deixou-o vir, recuou num palmo de terreno, mandou na investida e fechou-se com raça, mas sofreu um derrote violento e saíu.
Novo cite de praça a praça, todos em silêncio, Francisco a bater as palmas com toda a tranquilidade. De novo toureou e templou a investida, fechou-se para ficar, aguentou derrotes, e foi prontamente ajudado pelos companheiros, "à Montemor", com coesão e em força. Grande pega! A última do Francisco nesta arena onde viveu tantas tardes de muita glória.
E para pegar o terceiro Grave da corrida voltou a saltar à arena Francisco Cabaço, o forcado que em poucos anos se tornou uma das grandes e mais firmes estrelas do refrescado Grupo de Santarém, o forcado que tem cara de menino e coração de gigante, que no sábado aqui fizera um pegão daqueles que valem uma corrida inteira. Brindou a pega aos elementos da Associação "Sector 9".
Voltou a estar enorme o pequeno-grande Forcado! Cite calmo e sereno, reunião emotiva, mais uma pega para não se esquecer, com os companheiros a ajudarem coesos e na perfeição. Grande Cabaço!
A quarta e última pega foi consumada, também ao primeiro intento, por outro dos grandes forcados do momento, o montemorense José Maria Cortes Pena Monteiro, com uma ajuda fantástica do seu irmão, o cabo António Cortes Pena Monteiro, e de todos os companheiros. José Maria brindou esta pega ao bandarilheiro Duarte Silva, toureiro de Santarém, que ontem tomou a alternativa.
Cite bonito e airoso, a ir buscar o toiro aos seus terrenos, provocando a investida, recuando a mandar e a templar, fechando-se com imenso querer e aguentando a força da investida do potente Grave, com a pronta ajuda do irmão e de todos os elementos do grupo. Mais um grande momento "à Montemor"!
Destaque, mais que justo, nas duas intervenções do Grupo de Montemor, para o poderio e o "à vontade", até parece fácil, de Francisco Godinho a rabejar.
Fique agora com a reportagem das quatro pegas - e a seguir, não perca todas as fotos dos melhores momentos do matador Roca Rey, dos cavaleiros João Moura Jr. e João Ribeiro Telles, e também do bandarilheiro Duarte Silva, que ontem tomou a alternativa e esteve brilhante.
Fotos M. Alvarenga
A eterna competição Santarém-Montemor, o Benfica-Sporting da emotiva arte de pegar toiros |
Salvador Ribeiro de Almeida (Santarém) na primeira pega da tarde de ontem na Monumental "Celestino Graça" |
Francisco Borges, outro forcado de dinastia, fez ontem a última pega em Santarém. Despede-se em Setembro na sua arena de Montemor. Uma grande pega à segunda tentativa |
48 horas depois da pega monumental que aqui fez no sábado, Francisco Cabaço voltou a emocionar o público de Santarém |