Miguel Alvarenga - O meu querido e bom amigo Nuno da Câmara Pereira foi o único que vi (li) pôr o dedo na ferida, no Facebook, a propósito da tragédia de sexta-feira passada no Campo Pequeno.
A culpa morre sempre solteira e era o que mais faltava vir agora aqui culpar a ou b pelo triste e trágico fim de vida que teve um jovem de 22 anos que podia ser nosso filho. Manuel Maria Trindade morreu porque esta era a sua hora. Vamos acreditar no destino e não atirar culpas para cima de ninguém. Morreu a fazer o que gostava.
A pega, pelos videos que vi na internet, teve tudo para correr bem. Houve azar. Ponto. E mais nada. Mas a realidade é que levanta uma série de questões que urge ver solucionadas. E de uma vez por todas.
Vou citar aqui o que muito bem escreveu o Nuno:
"Pôr um miúdo, ou mesmo que fosse um graúdo, a confrontar uma 'besta' de cerca de 700 quilos e com espaço (10 mts?) para embalar velocidade, para multiplicar exponencialmente sua força como se fosse um "tiro ... é sempre uma loucura !!!
"Não é valentia... é irresponsabilidade, inconsciência e bestialidade!
"A DGE tem de repensar o que deve ser considerado, respeitado e os limites razoáveis deste espectáculo.
"Não é admissivel permitir-se o Estado a deixar ao livre arbítrio destes jovens, sempre gloriosos e voluntariosos, a sua vontade, a sua crença ou seus livres costumes.
"Há limites para tudo e o Estado deve salvaguardar as pessoas delas próprias".
O Nuno tem toda a razão. Assino por baixo. E levanto a questão: a DGE, que agora se chama IGAC (Inspecção-Geral das Actividades Culturais, em vez de Direcção-Geral dos Espectáculos) vai ter que repensar e corrigir as muitas lacunas e as imensas faltas de bom senso que constam do actual e muito cadico Regulamento do Espectáculo Tauromáquico.
Não chega mandar o simpático Inspector Hipólito para a trincheira verificar quem tem e quem não tem senha que permita a sua permanência entre tábuas. É preciso inspeccionar muito mais. Comecem pelo peso dos toiros. E já seria mais que meio caminho andado para evitar tragédias como a que roubou a vida ao Manuel Trindade na última sexta-feira em Lisboa.
Não sou médico veterinário nem tenho estudos nessa área que me permitam emitir juízos sobre o assunto, mas não sou estúpido e sei reconhecer que o toiro não é um animal que tenha uma morfologia que lhe permita carregar 700 quilos em cima do esqueleto. Um toiro com 700 quilos é um rinoceronte, um bisonte, mas não um toiro.
Se um toiro tem peso a menos, é um escândalo. O médico veterinário, o director de corrida, o apoderado, o toureiro, o empresário armam uma fita, cancelam a tourada, cai o Carmo e a Trindade. E porque é que isso não acontece quando um toiro tem quilos a mais?...
Porque quem redigiu o Regulamento se esqueceu desse pormenor. Os toiros não podem ter quilos a menos, porque isso é escandaloso. Mas podem ter muitos quilos a mais, porque isso é vantajoso. Chama gente às praças. Antigamente alguém se importava antecipadamente com os pesos dos toiros? E porque razão isso hoje em dia é a mensagem mais importante que os empresários precisam de mandar cá para fora antes que a corrida comece, para atrair mais gente às bilheteiras?
A tauromaquia está toda ao contrário. Está toda errada. O Nuno da Câmara Pereira veio pôr o dedo na ferida. E tem toda a razão.
Termino relembrando o que ele escreveu, na esperança de que alguém, um dia, faça alguma coisa para evitar mais tragédias como a do Manual Trindade:
"Pôr um miúdo, ou mesmo que fosse um graúdo, a confrontar uma 'besta' de cerca de 700 quilos e com espaço (10 mts?) para embalar velocidade, para multiplicar exponencialmente sua força como se fosse um "tiro ... é sempre uma loucura !!!
"Não é valentia... é irresponsabilidade, inconsciência e bestialidade!
"A DGE tem de repensar o que deve ser considerado, respeitado e os limites razoáveis deste espectáculo".
Foto D.R.