terça-feira, 16 de setembro de 2025

Sobral de Monte Agraço: bons toiros de Lopes Branco e triunfos notáveis de Miguel Moura e António Telles


Miguel Alvarenga - O empresário José Luis Gomes cumpriu um ano mais a tradição montando um elenco variado e com estilos para todos os gostos na data tradicional de Sobral de Monta Agraço, a sempre concorrida (e sempre esgotada, como desta vez voltou a acontecer) corrida à portuguesa por ocasião das Festas e Feira de Verão.

Desta vez e como já aqui referimos, a corrida foi antecedida de um cortejo pelas ruas da vila, encabeçado pela banda de música, seguida por cavaleiros, campinos com os cabrestos e duas charretes transportando os seis cavaleiros e os cabos dos dois grupos de forcados, cortejo acompanhado com entusiasmo pelo povo e pelas câmaras da SIC, que dali estavam a transmitir o seu habitual programa festivo dos domingos com Luciana Abreu

Depois o cortejo entrou na arena, meia-hora antes do início da corrida e ainda com pouco público nas bancadas, para deixar os toureiros, assim ao jeito de uma gala à antiga portuguesa, mas sem coches e em versão mais popular.

Enquanto a corrida não se iniciava, foi actuando o conjunto de fadistas que depois abrilhantou o espectáculo intercalando o acompanhamento das lides com a Banda Filarmónica da Santa Casa da Misericórdia de Arruda dos Vinhos. Cantaram as fadistas Maria Emília Sobral e Marisa Ferreira, também João Chora (viola), acompanhado por João Vaz (guitarra portuguesa).

Dirigida com o acerto e o rigor habituais por Ricardo Dias, assessorado pelo médico veterinário Jorge Moreira da Silva, com os toques a cargo de José Henriques, a corrida decorreu com bom ritmo e, felizmente, sem incidentes.

Repetia a ganadaria Lopes Branco depois do triunfo do ano passado (em equipa que ganha não se deve mexer e bem fez o empresário em trazer de novo os toiros desta prestigiada divisa) e o êxito repetiu-se também. Com pesos suficientes, sem os exageros da moda, os toiros transmitiram, tiveram mobilidade, exigiram aos toureiros, foram pelo seu caminho e com nobreza não atrapalhando os forcados, mas evidenciando força e poder, e proporcionaram um espectáculo muito agradável e onde a emoção esteve sempre presente. O ganadeiro João Telles Branco deu merecida e aplaudida volta à arena no quinto toiro.

José Luis Gomes teve também o bonito gesto de repetir João Moura como cabeça de cartaz, depois de no ano passado não ter chegado a actuar por ter sofrido uma aparatosa colhida ao início da lide. Desta vez as coisas correram de feição ao Maestro, sem azares, mas com o evidente e sempre alarmante esforço, dada a sua preocupante condição física, para levar o barco a bom porto. Mas levou-o, com a raça e a dignidade costumeiras. Apesar da permanente e exagerada presença dos bandarilheiros na arena, contestada, e com razão, pelo público.

Manuel Telles Bastos entrou em praça decidido e com atitude, disposto a receber o seu toiro com uma sorte de gaiola, mas a mesma não resultou. Cumpriu uma lide acertada, com a habitual classe e o seu tradicional bom gosto, fazendo as coisas bem feitas e com rigor técnico, sem modernices, a tourear (sempre) à antiga maneira. Muito bem.

Ao mexicano Emiliano Gamero as coisas podem correr bem ou menos bem, que o público vibra na mesma e não deixa por nada de estar a seu lado. O toiro foi o mais reservado, tinha investidas repentinas e dava "arreões". Gamero não esteve acertado nos compridos, mas "endireitou-se" nos curtos e entusiasmou o público com a sua casta e simpatia. Deu o show habitual. É bom toureiro, mas é sobretudo um grande homem de espectáculo. No fim, na rua, todos e todas se queriam fotografar a seu lado.

Frente ao quarto toiro, bravo e exigente, e depois de um curto intervalo, esteve Miguel Moura no seu melhor. Noutro patamar, a marcar a diferença. Recebeu o oponente com uma emotiva sorte de gaiola e depois proclamou-se triunfador com uma lide de alto nível, bregando com saber, ladeando com arte e poderio, cravando com verdade e emoção. Um triunfo marcante - que brindou ao seu apoderado Pedro Penedo.

O quinto toiro, com transmissão e a evidenciar bravura, como o anterior, foi superiormente toureado por António Ribeiro Telles filho, que não quis que fosse Moura o único triunfador da tarde. Muito bem esteve António na preparação das sortes, na forma correcta com que abordou de frente o toiro, deixando ferros de muita emoção, a entrar pelos terrenos da verdade. É um dos jovens cavaleiros que mais se tem evidenciado nesta temporada. E assim voltou a ser no domingo em Sobral. António em grande e na linha da frente!

Seu primo Tristão Telles Queiroz (pelos vistos, dá mais jeito aos empresários ignorarem o apelido paterno, anunciando-o como mais um Ribeiro Telles... mas não devia ser assim) esteve desta vez meio desacertado numa lide pautada por altos e baixos. Andou bem e com o atrevimento usual, valente e ousado, mas falhou três ferros. O último fotografei-o e tinha o bico torcido, tudo dando a entender que a culpa dos três falhanços pode ter sido do material (deficiente) e não da falta de pontaria de Tristão. A foto aqui fica (em baixo) em destaque, para que se tirem as devidas conclusões. Mesmo assim, já na fase final da lide recuperou a forma e o fulgor e teve finalmente música.

Nota alta para todos os toureiros de prata que intervieram nesta corrida, um aplauso que personifico na figura de João Ribeiro "Curro", por ser de todos o decano e continuar com a forma e a raça de sempre.

Pegaram os forcados de Lisboa e de Alcochete, sem dificuldades de maior.

Pelos Amadores de Lisboa pegaram Duarte Fernandes ao primeiro intento; António Galamba (filho do recordado forcado do grupo João Galamba e sobrinho do recentemente falecido Carlos Galamba, a cuja memória dedicou a sua pega erguendo o barrete aos céus) também à primeira; e Duarte Nascimento, igualmente ao primeiro intento, havendo a registar a excelente colaboração de todos os ajudas na consumação das três pegas.

Os Amadores de Alcochete pegaram um toiro à quarto e dois à primeira. O segundo toiro da corrida não complicou muito, mas o valoroso Daniel Ferraz não estava desta vez nos seus dias. A pega só ficou consumada à quarta e praticamente foi o grande primeiro-ajuda Gonçalo Catalão quem pegou o toiro nas quatro tentativas. O forcado não deu volta, mas Catalão devia tê-la dado.

Os consagrados João Dinis e Vitor Marques foram os restantes forcados de Alcochete intervenientes, tendo pegado os seus toiros (quarto e sexto) à primeira tentativa.

Ao início da corrida, guardou-se um minuto de silêncio em memória de três forcados recentemente falecidos: Manuel Maria Trindade (membro do Grupo de São Manços, morto por um toiro no Campo Pequeno em Agosto),  Joaquim Mendes (antigo forcado do Aposento da Chamusca, vítima de acidente de moto) e Carlos Galamba (antigo forcado dos Amadores de Lisboa, vítima de doença).

No próximo sábado 20 (16h00) a festa continua na praça de Sobral de Monte Agraço com o Encontro de Escolas Taurinas, com alunos das de Vila Franca, Moita e Montijo

Fotos M. Alvarenga






Cortejo pelas ruas da vila antecedeu cortesias na praça



Maestro Moura



Manuel Telles Bastos





Emiliano Gamero






Miguel Moura






António Telles (filho). Ganadeiro deu volta no quinto toiro






Tristão Telles Queiroz