quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

O meu complicado mas, por fim, feliz Natal!

No nosso jantar de Natal! O melhor dos últimos 20 anos!
24 de Dezembro, almoço: a chegada a casa. E a promessa cumprida:
queria "douradinhos", estavam a apetecer-lhe, após 11 dias de Hospital!
O meu Herói dando-me força! A força que ma faltava
Com as manas no Hospital: a Alexandra a dar-lhe o almoço
e a Maria Ana a registar o momento para a posteridade!
Em Santa Marta, com as manas Alexandra e Maria Ana


Miguel Alvarenga - Ouvi sempre dizer que Natal é sempre que um homem quiser - mas sei hoje que é, sobretudo, sempre que Deus quiser. O meu foi assim - e passo a explicar.
Quis Deus - e eu que andava tão pouco crente, agradeço-lhe! - que, afinal, eu tivesse Natal. E com o meu querido filho Guilherme a meu lado. Jantámos os dois no dia 24 - e foi a melhor noite de Natal da minha vida, exceptuando a outra de há dois anos, quando passei o dia 25 no Linhó, mas na véspera comemorei em casa a festa natalícia com os meus dois filhos.
Estas coisas não são para se contar - e o Guilherme, sobretudo, gosta muito da sua privacidade e de não tornar públicas as estórias da sua vida. Assim tínhamos combinado e assim foi. Mas como tudo, graças a Deus, já acabou e ele também já publicou algumas fotos das suas "andanças" hospitalares nos últimos dias, achei agora por bem contar e convosco partilhar aqueles que foram os momentos mais difíceis da minha vida, pelo menos nos últimos vinte anos.
O Gui é alto, magro e "seco". Faz desporto. Mas fumava. Fumava, digo bem. Já não fuma. Há um mês e meio que esta saga começou. Sentiu-se mal, seguiu-se uma noite no Hospital de São José, onde lhe detectaram um pneumotórax no pulmão esquerdo. Em "termos técnicos", é ar na pleura, que envolve o pulmão e o comprime. A seguir, vieram semanas de tratamento e acompanhamento no Hospital de Santa Marta, em Lisboa - que eu desconhecia ter sido considerado (sabiam?) o primeiro da Europa no que respeita a tratamentos de coração e pulmões. Estava, por isso, muito bem entregue.
Após um mês de tratamento - à base de repouso em casa, acima de tudo - não melhorou. Teve que ser internado. Colocaram-lhe um dreno, coisa incómoda e dolorosa, que aguentou heroicamente durante quatro dias. "Não se preocupe, Pai, eu aguento tudo!", disse-me tantas vezes. O Guilherme é um verdadeiro Herói. Eu, com doenças, não posso ser mais mariquinhas. Ele, não. Tem a força que me falta nestes momentos. E transmite-a. Com um sorriso tão terno que arrepia!
Retirado o dreno, a coisa continuou sem grandes melhoras. Pode acontecer. Nem sempre o dreno consegue solucionar o problema de ar na pleura, explicaram os médicos. O passo seguinte é operar. E teve mesmo que ser.
Na quinta-feira passada, ao final do dia, o Gui entrou sorridente no bloco operatório. Piscou-lhe o olho. "Vai tudo correr bem, Pai, não se preocupe!". E deu-me um beijo. Só Deus sabe o que senti, o que me passou pela cabeça, o que me ia na alma naquele segundo.
A operação em si durou 45 minutos. Foi feita por método endoscópico, isto é, não foi "aberto", foram-lhe colocados dois tubos, através dos quais foi feita a intervenção cirúrgica. Uma operação de "baixo risco", como me explicaram os médicos, mas que não deixou de ser uma operação, com anestesia geral.
Passaram duas horas e picos, o tempo de todo o processo, se bem que a intervenção em si durasse pouco tempo, quando os médicos vieram por fim ter connosco. Duas horas e picos que mais pareciam uma eternidade daquelas que nunca mais têm fim. Graças a Deus - é nessas alturas que não nos cansamos de dar mesmo graças a Deus! - tinha corrido tudo bem. O pulmão reagira, expandira-se, o Gui estava a recuperar bem. Pude visitá-lo, a correr, nos Cuidados Intensivos, com a Mãe. Tinha os olhos em lágrimas e disse-nos apenas que "gostava muito de nós". A seguir entrou a Maria Ana e ele disse o mesmo. "Gosto muito de ti, mana!". Saímos dali meio desfeitos, mas mais tranquilos. Tudo tinha corrido bem.
Os dias que se seguiram foram dias de esperança. Com o Gui a recuperar muito bem. Os últimos raio-x indicaram que o pulmão estava bem. No dia 24 teve alta, finalmente. Jantámos os dois calmamente em casa. Foi, repito, a melhor noite de Natal. A mais feliz, pelo menos. A seguir, vimos o filme "Polar Express", que tínhamos visto no cinema há ooto anos, era ele ainda uma criança.
Seguem-se dias de repouso e recuperação. Amanhã regressa a Santa Marta para fazer mais um raio-x e controlar a situação. Dentro de um mês, se Deus quiser, fará de novo a sua vida normal, desporto incluído, e "esquecerá que foi operado", como disseram os médicos. Fumar é que não. Nunca mais. E eu próprio estou a ver se me solidarizo com ele e deixo também esse maldito vício.
Adoro-te, Guilherme! Amo-te!
Faltava contar isto: este ano, no Campo Pequeno, na corrida do Pablo Hermoso, salvo erro em Maio, o Gui veio encantado com a pega no Nuno Carvalho "Mata", "a melhor que vi na minha vida", disse-mo várias vezes. Viveu, por isso, de forma impressionada, o acidente que o Nuno sofreu em Agosto na mesma arena. Várias vezes, no hospital, quando ia ao raio-x de cadeira de rodas, dizia-me: "Pai, comparado com o que sofreu o forcado, o que eu tenho não é nada. E vendo como ele encara tudo isso, tenho que ser igual, tenho que olhar em frente, tudo vai melhorar!".
Não quero deixar de aqui agradecer publicamente a toda a equipa que acompanhou e operou o Gui: aos Drs. Pedro Batista, Ivan e Manuel Magalhães e aos restantes que por ele torceram nesta fase complicada. A todo o pessoal de enfermagem e auxiliares de Santa Marta e São José. Aos amigos dos toiros (poucos) que, sabendo do sucedido, não me largaram mais durante estes últimos dias. O Gui agradece também.
E agora, meu filho - em frente, marche!
Um beijo do tamanho, ou maior, que o mundo!

Fotos D.R.