No nosso jantar de Natal! O melhor dos últimos 20 anos! |
24 de Dezembro, almoço: a chegada a casa. E a promessa cumprida: queria "douradinhos", estavam a apetecer-lhe, após 11 dias de Hospital! |
O meu Herói dando-me força! A força que ma faltava |
Com as manas no Hospital: a Alexandra a dar-lhe o almoço e a Maria Ana a registar o momento para a posteridade! |
Em Santa Marta, com as manas Alexandra e Maria Ana |
Miguel Alvarenga - Ouvi sempre dizer que Natal é sempre que um homem quiser - mas sei hoje que é, sobretudo, sempre que Deus quiser. O meu foi assim - e passo a explicar.
Quis Deus - e eu que andava tão pouco
crente, agradeço-lhe! - que, afinal, eu tivesse Natal. E com o meu querido
filho Guilherme a meu lado. Jantámos os dois no dia 24 - e foi a melhor noite
de Natal da minha vida, exceptuando a outra de há dois anos, quando passei o
dia 25 no Linhó, mas na véspera comemorei em casa a festa natalícia com os meus
dois filhos.
Estas coisas não são para se contar - e
o Guilherme, sobretudo, gosta muito da sua privacidade e de não tornar públicas
as estórias da sua vida. Assim tínhamos combinado e assim foi. Mas como tudo,
graças a Deus, já acabou e ele também já publicou algumas fotos das suas
"andanças" hospitalares nos últimos dias, achei agora por bem contar
e convosco partilhar aqueles que foram os momentos mais difíceis da minha vida,
pelo menos nos últimos vinte anos.
O Gui é alto, magro e "seco".
Faz desporto. Mas fumava. Fumava, digo bem. Já não fuma. Há um mês e meio que
esta saga começou. Sentiu-se mal, seguiu-se uma noite no Hospital de São José,
onde lhe detectaram um pneumotórax no pulmão esquerdo. Em "termos
técnicos", é ar na pleura, que envolve o pulmão e o comprime. A seguir,
vieram semanas de tratamento e acompanhamento no Hospital de Santa Marta, em
Lisboa - que eu desconhecia ter sido considerado (sabiam?) o primeiro da Europa
no que respeita a tratamentos de coração e pulmões. Estava, por isso, muito bem
entregue.
Após um mês de tratamento - à base de
repouso em casa, acima de tudo - não melhorou. Teve que ser internado.
Colocaram-lhe um dreno, coisa incómoda e dolorosa, que aguentou heroicamente
durante quatro dias. "Não se preocupe, Pai, eu aguento tudo!", disse-me
tantas vezes. O Guilherme é um verdadeiro Herói. Eu, com doenças, não posso ser
mais mariquinhas. Ele, não. Tem a força que me falta nestes momentos. E transmite-a. Com um sorriso tão terno que arrepia!
Retirado o dreno, a coisa continuou sem
grandes melhoras. Pode acontecer. Nem sempre o dreno consegue solucionar o
problema de ar na pleura, explicaram os médicos. O passo seguinte é operar. E
teve mesmo que ser.
Na quinta-feira passada, ao final do
dia, o Gui entrou sorridente no bloco operatório. Piscou-lhe o olho. "Vai
tudo correr bem, Pai, não se preocupe!". E deu-me um beijo. Só Deus sabe o
que senti, o que me passou pela cabeça, o que me ia na alma naquele segundo.
A operação em si durou 45 minutos. Foi
feita por método endoscópico, isto é, não foi "aberto", foram-lhe
colocados dois tubos, através dos quais foi feita a intervenção cirúrgica. Uma
operação de "baixo risco", como me explicaram os médicos, mas que não
deixou de ser uma operação, com anestesia geral.
Passaram duas horas e picos, o tempo de
todo o processo, se bem que a intervenção em si durasse pouco tempo, quando os
médicos vieram por fim ter connosco. Duas horas e picos que mais pareciam uma
eternidade daquelas que nunca mais têm fim. Graças a Deus - é nessas alturas
que não nos cansamos de dar mesmo graças a Deus! - tinha corrido tudo bem. O
pulmão reagira, expandira-se, o Gui estava a recuperar bem. Pude visitá-lo, a
correr, nos Cuidados Intensivos, com a Mãe. Tinha os olhos em lágrimas e
disse-nos apenas que "gostava muito de nós". A seguir entrou a Maria
Ana e ele disse o mesmo. "Gosto muito de ti, mana!". Saímos dali meio
desfeitos, mas mais tranquilos. Tudo tinha corrido bem.
Os dias que se seguiram foram dias de
esperança. Com o Gui a recuperar muito bem. Os últimos raio-x indicaram que o
pulmão estava bem. No dia 24 teve alta, finalmente. Jantámos os dois calmamente
em casa. Foi, repito, a melhor noite de Natal. A mais feliz, pelo menos. A
seguir, vimos o filme "Polar Express", que tínhamos visto no cinema
há ooto anos, era ele ainda uma criança.
Seguem-se dias de repouso e recuperação.
Amanhã regressa a Santa Marta para fazer mais um raio-x e controlar a situação.
Dentro de um mês, se Deus quiser, fará de novo a sua vida normal, desporto
incluído, e "esquecerá que foi operado", como disseram os médicos.
Fumar é que não. Nunca mais. E eu próprio estou a ver se me solidarizo com ele
e deixo também esse maldito vício.
Adoro-te, Guilherme! Amo-te!
Faltava contar isto: este ano, no Campo
Pequeno, na corrida do Pablo Hermoso, salvo erro em Maio, o Gui veio encantado
com a pega no Nuno Carvalho "Mata", "a melhor que vi na minha
vida", disse-mo várias vezes. Viveu, por isso, de forma impressionada, o
acidente que o Nuno sofreu em Agosto na mesma arena. Várias vezes, no hospital,
quando ia ao raio-x de cadeira de rodas, dizia-me: "Pai, comparado com o
que sofreu o forcado, o que eu tenho não é nada. E vendo como ele encara tudo
isso, tenho que ser igual, tenho que olhar em frente, tudo vai melhorar!".
Não quero deixar de aqui agradecer
publicamente a toda a equipa que acompanhou e operou o Gui: aos Drs. Pedro
Batista, Ivan e Manuel Magalhães e aos restantes que por ele torceram nesta
fase complicada. A todo o pessoal de enfermagem e auxiliares de Santa Marta e
São José. Aos amigos dos toiros (poucos) que, sabendo do sucedido, não me
largaram mais durante estes últimos dias. O Gui agradece também.
E agora, meu filho - em frente, marche!
Um beijo do tamanho, ou maior, que o
mundo!
Fotos D.R.