Filipe Gonçalves chegou por mérito próprio ao patamar da frente! |
Moura Caetano pôr tudo de si e dos seus belíssimos cavalos, mas... |
Marcos Bastinhas é, até ao momento, o triunfador-maior desta temporada! |
Miguel Alvarenga - O cartel de ontem em
Santarém era atractivo e tinha interesse. Já não falo propriamente do concurso
de ganadarias ou do facto de os Forcados de Santarém pegarem os seis toiros em
solitário, o que só por si constitui motivos de sobra para levar público a uma
praça. Ou antes, constituia... no tempo em que havia dinheiro, no tempo em que
os reles políticos desta espécie de país eram a sério e as coisas funcionavam à
séria, sem crises e coisas do género...
Falo, sim, do cartel em si. Andamos há
trinta anos a ver o "mesmo filme", as mesmas Figuras, gastas,
desgastas, sempre bem, mas o que é de mais, enjoa. Caetano e Bastinhas (filhos)
são duas das mais importantes vedetas da nova vaga. Andam em aguerrida
competição há algum tempo e há algumas corridas. João Pedro Bolota é um
empresário visionário e empreendedor. Juntou-os por que importa juntá-los e o
público gosta de os ver "à guerra". Como terceiro, primeiro neste
caso, entrou no elenco o triunfador da corrida de segunda-feira. Muito justa e
merecidamente, Filipe Gonçalves. É de coisas novas que precisamos, se não isto
arrefece e morre. Três jovens em competição mereciam mais público na praça.
Mas...
Por muito calor que faça, a noite em
Santarém é fria. A Feira fica lá e baixo. E havia quem dissesse, se calhar com
razão, que a corrida deveria ter sido no domingo (amanhã) à tarde e não ontem
(sexta-feira) à noite. Enfim...
Resultado: muito pouco público nas
bancadas, talvez duas mil almas. O que, para Santarém, a maior praça do país, é
demasiado cimento à vista e torna o brilho da tourada num cenário desolador.
Para os toureiros, sobretudo.
Mais: os toiros não ajudaram.
Esmeraram-se os ganadeiros para apresentar belas "estampas" e nisso
não falharam. Faltou-lhes bravura. O toiro de Manuel Veiga, lidado em quinto
lugar por Moura Caetano, foi um manso perdido, a procurar refúgio nas tábuas
desde que entrou na arena. Não serviu minimamente, mas era bonito. Ganhou o
prémio de "apresentação". Justo. O cu não tem a ver com as calças. Faltou bravura, mas sobrou trapio e apresentação.
O toiro de José Infante da Câmara,
lidado em quarto lugar por Filipe Gonçalves, ganhou o prémio de
"bravura". Talvez não tenha sido bravo a ponto de ser premiado. Mas
foi o menos manso dos seis, o mais empreendedor e o mais colaborante. Trouxe
emoção e trouxe seriedade, isso sim.
Gostei também do toiro de Branco Núncio,
lidado em terceiro lugar por Marcos Bastinhas. Foi um toiro que se empregou,
que foi sempre "a mais" e que se arrancou com alegria de quase todos
os terrenos. Que também deu emoção.
O de Herdeiros de Paulino da Cunha e Silva,
que abriu praça com Filipe Gonçalves, serviu, mas era meio reservado e pouco
claro nas investidas. O de Prudêncio (segundo, para Caetano) era manso e
complicado, como tal. Andou à procura das tábuas e à procura de uma
"porta" por onde fugir. Sem qualidades de lide.
O de José Luis Vasconcellos D'Andrade
(Sommer), último da noite, lidado por Marcos Bastinhas, foi um toiro que se
deixou tourear e que permitiu o êxito ao cavaleiro. Encastado, com raça, a
pedir contas.
Agora vamos aos toureiros.
Filipe Gonçalves merece o momento que
está a viver. Veio do nada, lutou e luta todos os dias pelo lugar que aos
poucos está a ocupar - entre os primeiros. Chegou a Santarém moralizado e
disposto a confirmar que não foi por acaso que saíu triunfador da corrida
anterior. Voltou a brilhar num e noutro toiro mercê da sua enorme vontade, do
seu querer e da sua tremenda raça. Desenhou duas lides distintas, mas em ambas
colocou emoção, destemor, ousadia e verdade - muita verdade. Está num momento
alto e do qual já não vai sair tão cedo. A empresa do Campo Pequeno acaba de
reconhecê-lo e de o colocar numa das corridas fortes do mês de Julho. O público
vibra com o seu toureio. E é disso mesmo que estamos todos precisados - novos
valores, emoção e aficionados em alvoroço nas bancadas. Filipe é uma das
"receitas" para o sucesso desta temporada.
João Moura Caetano, justa e merecidamente proclamado
triunfador da última temporada, está este ano a ser vítima do azar nos
sorteios. Depois de lhe ter tocado um "bronco" toiro de Crujo em
Lisboa, "bailou" ontem em Santarém com as "mais feias" da
festa. Os toiros de Prudêncio e Veiga que enfrentou não tinham ponta por onde
se lhes pegasse. Deus põe, o homem dispõe e o toiro descompõe. E ontem não
havia mesmo nadinha a fazer. Trazia casaca verde, mas não houve esperança que
lhe valesse. Pôs tudo de si e dos seus belíssimos cavalos nas duas lides. Mas
onde não há ovos não pode haver uma só omeleta. Não deu voltas à arena e saíu
da praça certamente desmoralizado. O azar toca a todos, mesmo aos triunfadores.
Oxalá a sorte volte a aparecer no seu caminho e nos toiros dos seus sorteios.
Assim, não dá. Força, João!
Marcos Bastinhas é, dos novos, o grande
triunfador desta temporada - até ao momento. Vive dias de euforia, tem as
"máquinas" (cavalos) super-afinadas e ele próprio está a viver a sua
carreira como nunca, depois do salto quantitativo e qualitativo que deu na
época anterior. Tem o "selo" da casa, vê-se que é filho de quem é,
mas está a personalizar o seu toureio e a dar-lhe a força de que precisava para
avançar sózinho, como Marcos e não apenas como o "filho de
Bastinhas". Depois de o ter visto enorme na Barquinha, vi-o ontem ainda
maior em Santarém. Não falha nada. Bate tudo certo. Põe e dispõe, está um
Senhor Toureiro, tem na alma e no querer uma espécie de rastilho que incendeia
a "populaça", arrebata as bancadas e, ao mesmo tempo, enche a alma
aos verdadeiros aficionados com um toureio sério, profundo, sentido e de alto
risco. Tem neste momento tudo na mão para ser o grande triunfador desta
temporada. Gosto cada vez mais de te ver, Marcos!
Sabem que não faço grandes referências
aos forcados, com tremenda pena minha, dada a existência, ainda, de um processo
movido em tribunal, pela associação que os representa, ao "Farpas".
Mas muito injusto seria se aqui não aplaudisse hoje a valente actuação do Grupo
de Santarém ontem na praça da sua glória. Grande noite com a juventude e a
garra de um grupo cheio de história. Grandes os forcados da cara. Nem sempre à
altura deles os forcados a ajudar. Mesmo assim, noite dura e rija, a enaltecer
o espírito dos últimos românticos da Festa. Chamada justíssima do grupo à praça
no final. Um olé bem alto para vocês todos!
Frente a toiros duros e difíceis,
viram-se grandes toureiros (peões de brega) e há que destacar o empenhamento de
todos: aplausos para Cláudio Miguel e Duarte Alegrete, Pedro Paulino
"China" e João Diogo Fera, Ricardo Raimundo e João Prates
"Belmonte". Temos de novo em Portugal um naipe de belíssimos
bandarilheiros. E isso é de louvar. Não há como os nossos!
Lourenço Luzio voltou a dirigir muito
bem a corrida de ontem em Santarém, depois de haver brilhado também na
anterior. É um director sério, participativo e, sobretudo, muito aficionado.
Lamente-se apenas que, com tanto
palavreado aos altifalantes da praça, se tenham esquecido de nos informar a
constituição do júri que decidiu a vitória das ganadarias neste concurso. De
resto, correu tudo bem e a corrida viu-se com agrado, apesar do frio...
Fotos Emílio de
Jesus/fotojornalistaemilio@gmail.com