sábado, 15 de junho de 2013

Ontem em Santarém: Filipe confirmou, Marcos arrebatou e Caetano "bailou" com as "mais feias"...

Filipe Gonçalves chegou por mérito próprio ao patamar da frente!
Moura Caetano pôr tudo de si e dos seus belíssimos cavalos, mas...
Marcos Bastinhas é, até ao momento, o triunfador-maior desta temporada!


Miguel Alvarenga - O cartel de ontem em Santarém era atractivo e tinha interesse. Já não falo propriamente do concurso de ganadarias ou do facto de os Forcados de Santarém pegarem os seis toiros em solitário, o que só por si constitui motivos de sobra para levar público a uma praça. Ou antes, constituia... no tempo em que havia dinheiro, no tempo em que os reles políticos desta espécie de país eram a sério e as coisas funcionavam à séria, sem crises e coisas do género...
Falo, sim, do cartel em si. Andamos há trinta anos a ver o "mesmo filme", as mesmas Figuras, gastas, desgastas, sempre bem, mas o que é de mais, enjoa. Caetano e Bastinhas (filhos) são duas das mais importantes vedetas da nova vaga. Andam em aguerrida competição há algum tempo e há algumas corridas. João Pedro Bolota é um empresário visionário e empreendedor. Juntou-os por que importa juntá-los e o público gosta de os ver "à guerra". Como terceiro, primeiro neste caso, entrou no elenco o triunfador da corrida de segunda-feira. Muito justa e merecidamente, Filipe Gonçalves. É de coisas novas que precisamos, se não isto arrefece e morre. Três jovens em competição mereciam mais público na praça. Mas...
Por muito calor que faça, a noite em Santarém é fria. A Feira fica lá e baixo. E havia quem dissesse, se calhar com razão, que a corrida deveria ter sido no domingo (amanhã) à tarde e não ontem (sexta-feira) à noite. Enfim...
Resultado: muito pouco público nas bancadas, talvez duas mil almas. O que, para Santarém, a maior praça do país, é demasiado cimento à vista e torna o brilho da tourada num cenário desolador. Para os toureiros, sobretudo.
Mais: os toiros não ajudaram. Esmeraram-se os ganadeiros para apresentar belas "estampas" e nisso não falharam. Faltou-lhes bravura. O toiro de Manuel Veiga, lidado em quinto lugar por Moura Caetano, foi um manso perdido, a procurar refúgio nas tábuas desde que entrou na arena. Não serviu minimamente, mas era bonito. Ganhou o prémio de "apresentação". Justo. O cu não tem a ver com as calças. Faltou bravura, mas sobrou trapio e apresentação.
O toiro de José Infante da Câmara, lidado em quarto lugar por Filipe Gonçalves, ganhou o prémio de "bravura". Talvez não tenha sido bravo a ponto de ser premiado. Mas foi o menos manso dos seis, o mais empreendedor e o mais colaborante. Trouxe emoção e trouxe seriedade, isso sim.
Gostei também do toiro de Branco Núncio, lidado em terceiro lugar por Marcos Bastinhas. Foi um toiro que se empregou, que foi sempre "a mais" e que se arrancou com alegria de quase todos os terrenos. Que também deu emoção.
O de Herdeiros de Paulino da Cunha e Silva, que abriu praça com Filipe Gonçalves, serviu, mas era meio reservado e pouco claro nas investidas. O de Prudêncio (segundo, para Caetano) era manso e complicado, como tal. Andou à procura das tábuas e à procura de uma "porta" por onde fugir. Sem qualidades de lide.
O de José Luis Vasconcellos D'Andrade (Sommer), último da noite, lidado por Marcos Bastinhas, foi um toiro que se deixou tourear e que permitiu o êxito ao cavaleiro. Encastado, com raça, a pedir contas.
Agora vamos aos toureiros.
Filipe Gonçalves merece o momento que está a viver. Veio do nada, lutou e luta todos os dias pelo lugar que aos poucos está a ocupar - entre os primeiros. Chegou a Santarém moralizado e disposto a confirmar que não foi por acaso que saíu triunfador da corrida anterior. Voltou a brilhar num e noutro toiro mercê da sua enorme vontade, do seu querer e da sua tremenda raça. Desenhou duas lides distintas, mas em ambas colocou emoção, destemor, ousadia e verdade - muita verdade. Está num momento alto e do qual já não vai sair tão cedo. A empresa do Campo Pequeno acaba de reconhecê-lo e de o colocar numa das corridas fortes do mês de Julho. O público vibra com o seu toureio. E é disso mesmo que estamos todos precisados - novos valores, emoção e aficionados em alvoroço nas bancadas. Filipe é uma das "receitas" para o sucesso desta temporada.
João Moura Caetano, justa e merecidamente proclamado triunfador da última temporada, está este ano a ser vítima do azar nos sorteios. Depois de lhe ter tocado um "bronco" toiro de Crujo em Lisboa, "bailou" ontem em Santarém com as "mais feias" da festa. Os toiros de Prudêncio e Veiga que enfrentou não tinham ponta por onde se lhes pegasse. Deus põe, o homem dispõe e o toiro descompõe. E ontem não havia mesmo nadinha a fazer. Trazia casaca verde, mas não houve esperança que lhe valesse. Pôs tudo de si e dos seus belíssimos cavalos nas duas lides. Mas onde não há ovos não pode haver uma só omeleta. Não deu voltas à arena e saíu da praça certamente desmoralizado. O azar toca a todos, mesmo aos triunfadores. Oxalá a sorte volte a aparecer no seu caminho e nos toiros dos seus sorteios. Assim, não dá. Força, João!
Marcos Bastinhas é, dos novos, o grande triunfador desta temporada - até ao momento. Vive dias de euforia, tem as "máquinas" (cavalos) super-afinadas e ele próprio está a viver a sua carreira como nunca, depois do salto quantitativo e qualitativo que deu na época anterior. Tem o "selo" da casa, vê-se que é filho de quem é, mas está a personalizar o seu toureio e a dar-lhe a força de que precisava para avançar sózinho, como Marcos e não apenas como o "filho de Bastinhas". Depois de o ter visto enorme na Barquinha, vi-o ontem ainda maior em Santarém. Não falha nada. Bate tudo certo. Põe e dispõe, está um Senhor Toureiro, tem na alma e no querer uma espécie de rastilho que incendeia a "populaça", arrebata as bancadas e, ao mesmo tempo, enche a alma aos verdadeiros aficionados com um toureio sério, profundo, sentido e de alto risco. Tem neste momento tudo na mão para ser o grande triunfador desta temporada. Gosto cada vez mais de te ver, Marcos!
Sabem que não faço grandes referências aos forcados, com tremenda pena minha, dada a existência, ainda, de um processo movido em tribunal, pela associação que os representa, ao "Farpas". Mas muito injusto seria se aqui não aplaudisse hoje a valente actuação do Grupo de Santarém ontem na praça da sua glória. Grande noite com a juventude e a garra de um grupo cheio de história. Grandes os forcados da cara. Nem sempre à altura deles os forcados a ajudar. Mesmo assim, noite dura e rija, a enaltecer o espírito dos últimos românticos da Festa. Chamada justíssima do grupo à praça no final. Um olé bem alto para vocês todos!
Frente a toiros duros e difíceis, viram-se grandes toureiros (peões de brega) e há que destacar o empenhamento de todos: aplausos para Cláudio Miguel e Duarte Alegrete, Pedro Paulino "China" e João Diogo Fera, Ricardo Raimundo e João Prates "Belmonte". Temos de novo em Portugal um naipe de belíssimos bandarilheiros. E isso é de louvar. Não há como os nossos!
Lourenço Luzio voltou a dirigir muito bem a corrida de ontem em Santarém, depois de haver brilhado também na anterior. É um director sério, participativo e, sobretudo, muito aficionado.
Lamente-se apenas que, com tanto palavreado aos altifalantes da praça, se tenham esquecido de nos informar a constituição do júri que decidiu a vitória das ganadarias neste concurso. De resto, correu tudo bem e a corrida viu-se com agrado, apesar do frio...

Fotos Emílio de Jesus/fotojornalistaemilio@gmail.com