Presença em palco de João Ferreira Rosa foi um dos momentos altos do concerto de José Cid ontem no Fórum Cultural de Alcochete |
"Sons ibéricos" em dueto com Zé Perdigão, o novo grande valor da música popular portuguesa - que em breve gravará o seu primeiro cd em espanhol |
José Cid viajou pelos principais temas da sua carreira ao longo de mais de duas horas. Foi um concerto memorável |
Momento em que elementos do Grupo de Forcados de Alcochete presentavam os artistas com lembranças |
O concerto terminou em apoteose com José Cid a cantar "A minha música" com um coro muito especial: Ferreira Rosa e Zé Perdigão |
Público aplaudiu os artistas de pé - e a pedir mais! |
Miguel Alvarenga - Cantou, encantou e
viajou pela sua inigualável carreira através das suas mais famosas canções -
que todos trauteamos de cor e salteado há muitos anos. Foi uma noite memorável
aquela que José Cid porporcionou ontem a todos os que enchiam o auditório do
Fórum Cultural de Alcochete e onde cantou a favor do Fundo de Assistência do
Grupo de Forcados Amadores de Alcochete.
O "Tio Zé" esteve mais de duas
horas em palco, sem fazer intervalo, com a mesma garra e a eterna voz,
recordando-nos alguns dos seus maiores êxitos, desde "A Lenda d'El-Rei D.
Sebastião" aos célebres "Vinte anos", passando pela "Cabana
junto à praia", pela "Rosa que te dei", por "Um grande,
grande amor", pela "Anita" que "não é bonita, mas acredita
que a noite cai" (uma letra de sua prima, a saudosa e grande poetisa Maria
Manuel Cid), até ao "Macaco gosta de banana", "Cai neve em Nova
Iorque" ou "Ontem, hoje e amanhã", temas quer fizeram, fazem e
farão sempre parte da nossa própria história, das nossas recordações e do nosso
eterno imaginário. José Cid faz parte das nossas vidas, das nossas infâncias,
crescemos, muitos dos que ali estavam ontem, a ouvi-lo cantar... "há muito, muito tempo...".
"Demos-lhe o telefone", "convidámo-la para jantar" e ela
adorou "ver a nossa colecção" - quantos não passaram por isto ao longo das (nossas) vidas e
"lembraram a canção"?
Momento alto e esperado da noite foi
aquele em que José Cid teve a seu lado em palco o fadista João Ferreira Rosa,
ainda e sempre a maior referência do Fado e, como Cid referiu, "o mais
fiel seguidor" do Fado segundo Alfredo Marceneiro.
Cantaram em dueto "A Fragata"
e depois Ferreira Rosa "abriu o livro" - e a garganta! - e
brindou-nos, à sua maneira e como só ele sabe e só ele canta, com "Os Saltimbancos" e o inevitável "Embuçado". A pedido do público e depois da presença em palco de
dois elementos do Grupo de Forcados Amadores de Alcochete que entregaram
lembranças aos dois artistas, João Ferreira Rosa cantou ainda - e com que voz!
- o seu "Fado de Alcochete", uma letra de sua autoria que é o
auto-retrato das suas vivências na vila ribeirinha, de que se tornou filho
adoptivo. Foi um momento único, que José Cid enalteceu afirmando que "os
outros cantam o fado-canção, o João canta o Fado!".
José Cid apelou à autarquia de Alcochete
para que "não deixe morrer a arte de Ferreira Rosa" e o apoie no
lançamento de um novo cd. Oxalá alguém tenha ouvido e cumpra o desejo - que não
é apenas de Cid, mas de todos nós, também.
O concerto prosseguiu com o público
ensusiasmado e participativo, colaborando nos coros e voltou a ter mais um
convidado (não anunciado) em palco, desta vez Zé Perdigão, autor do cd
"Sons Ibéricos" (que em breve gravará também em espanhol), que já nos
fora apresentado no recente concerto do Campo Pequeno e que ontem reafirmou
estarmos em presença de um "vozeirão" e de um novo grande valor da música popular portuguesa - mas
não só.
Com o público de pé a pedir mais e mais,
José Cid terminou o memorável concerto de ontem à noite em Alcochete cantando
"Nasci para a música"
num fantástico terceto com João Ferreira Rosa e Zé Perdigão.
Notável o apoio dos três à arte
tauromáquica. Se já todos conheciámos a aficion de José Cid e de Ferreira Rosa,
ficámos ontem a conhecer também a de Zé Perdigão, que se confessou aficionado e
amante das tradições, deixando palavras simpáticas de carinho e de alento aos
Forcados de Alcochete e aos praticantes da arte nas arenas em geral.
Para lá de um considerável número de
forcados do Grupo de Alcochete, onde se destacavam os antigos cabos António
Manuel Cardoso "Nené" e João Pedro Bolota, o actual cabo Vasco Pinto
e as antigas glórias que tão bem honraram anos a fio aquela histórica jaqueta de ramagens, António José Pinto, Francisco Marques "Chalana"
e José Barrinha da Cruz, entre muitos mais, marcaram também presença na
primeira fila os cavaleiros Rui Fernandes e Filipe Gonçalves, aos quais José
Cid dedicou um fado de sua autoria.
Fotos M. Alvarenga