Populares assistindo ao festejo na varanda de um prédio contíguo |
O valoroso bandarilheiro Manuel dos Santos "Becas" frente ao corpolento novilho de Palha. O toureiro actuou com uma mão engessada, fruto de uma lesão |
Miguel Alvarenga - Viu-se com agrado,
mercê de um elenco diversificado e "para todos os gostos", o festival
que ontem à tarde se realizou em Samora Correia e que ninguém percebeu a favor
do que era ou de quem era. Pelos vistos, está na moda realizar festivais
taurinos, independentemente dos fins para que se realizam. Modernices. Noutros
tempos, que cada vez me convenço mais que eram mesmo da fidalguia, havia
meia-dúzia de festivais por ano e sempre por razões que se justificavam. Hoje,
há festivais a torto e a direito, em qualquer momento da temporada, sem que
ninguém entenda os seus porquês. Enfim...
O de ontem, quer queiram, quer não
queiram, ficou marcado pela queda de uma criança de quatro anos de uma quarta
fila da bancada, felizmente sem a gravidade que podia ter tido, mas originando
uma verdadeira onda de pânico na praça (na trincheira e nas bancadas...) depois
de correr a "notícia" de que era um toiro que andava à solta por
ali...
Valeu a serenidade do director de corrida
Rogério Jóia, que uma vez mais marcou a diferença e acalmou os ânimos, não
permitindo que o espectáculo prosseguisse sem primeiro se certificar de que a
criança estava livre de perigo e consciente. Lamente-se que os bombeiros, que
se encontravam do lado oposto, tivessem demorado tanto tempo a entender que
eram precisos ali para socorrer a criança.
Artisticamente, o festejo valeu por
pormenores, sem se poder dizer que tenha havido um claro triunfador ou mesmo um
toureiro que se tenha destacado mais que os outros.
Houve erales, novilhos e toiros de
vários tamanhos e feitios... num festival, vale tudo, seja isso ou não benéfico
para o bom nome da arte tauromáquica... Ontem, ao que me apercebo, a única
coisa que importava mesmo era abafar a queda da criança das bancadas, não fosse os
anti-taurinos a usarem contra nós... Lamentavelmente (o costume), os (ditos)
homens dos toiros pouco se preocuparam com o resto... Mas o festejo teve coisas
bem mais preocupantes. Como, por exemplo, profissionais a lidarem novilhotes e
uma toureira amadora a fazer frente a um toiro de quatro anos. É normal? Ou
serei eu que estou a ver mal as coisas?...
António Maria Brito Paes lidou um toiro
da ganadaria Prudêncio com qualidade, que colaborou, mas que não tinha
presença. Esteve bem o cavaleiro, perfeito e a exibir excelentes montadas. Pena
que as empresas se esqueçam muitas vezes do seu valor.
Com um novilho complicado de Santa
Maria, o jovem Marcos Bastinhas deixou a sua marca no último ferro, em que
entrou de frente e ao piton contrário. Antes, esforçou-se e empenhou-se a
fundo, mas não teve opositor à sua altura. Voltou contudo a mostrar que está
num momento alto e a iniciar a temporada com segurança e maturidade. Sabe ao
que vem e vem de novo para triunfar.
Duarte Pinto atingiu a perfeição diante
de um novilho também da ganadaria Prudêncio, que lidou primorosamente do início
ao fim. Fez tudo bem feito e o público premiou-o com calorosas ovações.
Depois do incidente da criança, Marcelo
Mendes enfrentou um novilho de João Ramalho, pequenote e que não facilitava.
Mas o toureiro também esteve muito aquém do seu melhor. Desorientado,
destacou-se apenas no primeiro comprido, cravado de frente. O resto foi para
esquecer.
O novilho de Palha foi o que mais emoção
deixou na arena, desde que entrou. João Salgueiro da Costa deu-lhe vantagens,
teve uma lide em crescendo e terminou com dois curtos de parar corações, com a
marca da casa. A pega tardou a ser concretizada e o público parece que se
esqueceu do João. Nem uma ovação. O toureiro ficou-se pela trincheira.
Em último e frente a um toiro de Nuno
Casquinha com quatro anos, toureou a jovem amadora Mara Pimenta. Nunca a tinha
visto. Tem garra, tem sobretudo graça, monta bem, tem bons cavalos, um
belíssimo camion e é destemida. Em seu redor, pulula um vasto, e certamente
desinteressado, grupo de apoiantes. Mas há que deixá-la respirar sossegada. É
um projecto que demonstra - e bem - ter pés para andar. Assim lho permitam, sem
procurar à pressa colocar a carroça pela frente dos bois. Quero vê-la de novo.
Valente e honrada intervenção dos grupos
de forcados do Ribatejo e da Arruda dos Vinhos. Os Amadores do Ribatejo abriram
a tarde com uma pega fácil de Nelson Silva ao primeiro intento; tiveram
dificuldades na intervenção seguinte, com João Oliveira a concretizar só à
quarta; e voltaram a tê-las com o exemplar de Palha, pegado também à quarta e a
sesgo por Joaquim Consolado, com o grupo coeso e valente nas ajudas.
Melhor estiveram ontem os Amadores da
Arruda. Depois de uma primeira pega menos feliz a cargo do jovem Luis Lourenço
(à terceira), o grupo destacou-se nas intervenções seguintes de Bruno Silva (à
primeira) e Pedro Sabino, também à primeira, na melhor pega da tarde.
Excelente direcção, como já referimos,
de Rogério Jóia, que esteve ontem assessorado pelo médico veterinário Dr.
Miguel Matias.
Fotos M. Alvarenga