Cortejo à antiga portuguesa não atraíu muito público ontem às bancadas da praça de Alcochete |
Um forcado de eleição na cara do sétimo toiro da corrida de ontem à noite em Alcochete: o eborense João Pedro Oliveira. Pega fabulosa! |
A enorme pega de Leandro Bravo (Alcochete) ao toiro branco lidado em quarto lugar por Filipe Gonçalves |
Miguel Alvarenga - Filipe Gonçalves foi
ontem, sem discussão, o grande triunfador da corrida de gala à antiga
portuguesa que encerrou a Feira de Alcochete e a que faltou não só o
brilhantismo e o ritmo das duas anteriores, como também o registo nas bancadas
da imensa moldura humana que encheu aquela praça no domingo e na terça-feira.
Noite fria, desagradável, pouco mais de meia entrada, sete toiros que demoraram
a entrar na arena e atrasaram a função, que teve início às dez e terminou perto
da uma e meia da madrugada...
Muito bem apresentados, à execepção do
primeiro - que era um dos dois sobreros e substituiu um toiro que se inutilizou
- os toiros de Fernandes de Castro não sairam fáceis, pelo contrário.
Reservados, mansotes, com casta, a pedir contas, provocaram alguma emoção
sobretudo nas pegas, mas não colaboraram para que a corrida fosse um êxito.
Destacaram-se o terceiro e o sétimo e foi bom o quarto, o toiro branco, que
levou o ganadeiro a ir à praça acompanhar Filipe Gonçalves e o forcado Leandro
Bravo (do grupo de Alcochete) na volta à arena.
Filipe Gonçalves tirou todo o partido do
seu toiro, destacando-se numa noite em que esteve inspirado e em que pôs tudo
de si para sair triunfador. Resultado: ferros de muita emoção em sortes de
risco e muito valor. A raça de um lutador. Terminou com um grande par de
bandarilhas.
Abriu praça João Moura com o reservado
sobrero que não permitiu ao Maestro luzir-se, apesar da sua entrega e do seu
querer. Com o segundo, também mansote, esteve Rui Salvador empenhado e valente,
atacando, provocando, indo para cima do toiro, conseguindo por obra e graça da
sua imensa determinação sacar faena onde quase nada havia a fazer. Ferros
"impossíveis" levantaram o público das bancadas e justificaram a
aplaudida volta à arena dada pelo cavaleiro de Tomar.
Arrojada e a pôr "a carne no
assador", como sempre, a valentíssima Sónia Matias fez tudo para sacar o
que o seu toiro não tinha para dar. Pisou terrenos de compromisso, arriscou,
esteve por cima e brilhou. O público esteve com ela, reconheceu o seu esforçado
desempenho.
Dizem as leis que não há quinto mau, mas
desta vez houve. O toiro que saíu a Manuel Lupi tapou-se sempre na altura da
reunião, investia para fazer mal e o jovem toureiro foi desanimando de ferro em
ferro. Ainda não foi desta que recuperou o fulgor da sua triunfal reaparição em
Junho em Santarém.
Com o sexto, também mansote e nada
colaborante, Mateus Prieto fez das tripas coração para agradar, mas havia pouca
volta a dar. A maior ovação surgiu quando cravou o último ferro em sorte de
"violino". O seu empenho e a sua entrega não foram suficientes para
mudar o cenário traçado pela má qualidade do "Castro".
Terminou Jacobo Botero com um toiro mais
empenhado, mas mesmo assim complicado. Recordo um enorme ferro curto, a
arriscar tudo, de frente, reunindo ao estribo. O jovem colombiano esteve
acertado, mas falhou alguns ferros e deixou cair outros e isso retirou algum
brilhantismo à lide.
Enorme, em noite de quase história
nenhuma, a actuação dos grupos de forcados de Évora e Alcochete, com emotivas e
valentes pegas aos toiros de Castro que pouco se maçaram com os cavalos e
guardaram as suas forças para as pegas.
Pelos Amadores de Évora foram caras
Gonçalo Rovisco (à primeira), Dinis Caeiro (à quarta), João Madeira (à segunda)
e João Pedro Oliveira (à primeira). Pelos Amadores de Alcochete, pegaram
Joaquim Quintela (à primeira), Leandro Bravo (à segunda) e João Gonçalves (à
primeira) na grande pega da corrida e com uma grande ajuda de Diogo Toor (de ascendência holandesa), que o acompanhou na volta à arena.
João Salvação "Ninan", o ex-cabo
do Aposento do Barrete Verde que terça-feira se despediu das arenas, foi
brindado pelos dois grupos.
Aplausos para todos os bandarilheiros
intervenientes, sobretudo pelo seu empenhado desempenho na colocação dos toiros
para os forcados. Elogio todos eles, mas destaco, pelo seu arrojo, pela sua
valentia, o açoriano João Silva, da quadrilha de Prieto, que superou com
toureria os sustos que lhe pregou o sexto toiro.
Pedro Reinhardt dirigiu bem a corrida.
Além de ser agora o director a autorizar ou não as voltas à arena (o que me
parece uma medida adequada e, pelo menos, põe alguma ordem na casa e acaba com
as voltas por dá cá aquela palha, já agora, pergunto: não pode o director
proibir também os cavaleiros de darem aquelas forçadas voltas a cavalo quando
ainda estão a lidar?), ainda não descobri que inovadores regras trouxe o novo
Regulamento que entrou há três dias em vigor. Na trincheira, por exemplo,
continuam a ver-se inúmeros "curiosos"... ter-se-ão esquecido desse pormenor na nova lei?... A única inovação (ainda não entrada em vigor...) será mesmo aquela ridícula história dos lenços coloridos, à espanhola, para autorizar as voltas aos cavaleiros, aos forcados e ao ganadeiro com cores diferentes?... Que tremenda parvoíce...
Não perca hoje: as fotoreportagens de
Emílio de Jesus - as pegas, uma a uma; os Momentos de Glória; os Famosos que
ontem estiveram em Alcochete.
Fotos Emílio de
Jesus/fotojornalistaemilio@gmail.com