sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Alcochete: noite grande dos forcados e triunfo real de Filipe Gonçalves

João Gonçalves (à direita), dos Amadores de Alcochete, fez a pega da noite ao
sexto toiro da corrida. Extraordinária intervenção do primeiro-ajuda Diogo Toor
(de ascendência holandesa) motivou a aplaudida volta a arena da dupla - não
perca hoje, aqui no "Farpas", as sete pegas de ontem em Alcochete
Cortejo à antiga portuguesa não atraíu muito público ontem às bancadas da praça
de Alcochete
Um forcado de eleição na cara do sétimo toiro da corrida de ontem à noite em
Alcochete: o eborense João Pedro Oliveira. Pega fabulosa!
A enorme pega de Leandro Bravo (Alcochete) ao toiro branco lidado em quarto
lugar por Filipe Gonçalves
O ganadeiro Fernandes de Castro deu volta à arena no quarto toiro (o único que serviu...) com Filipe Gonçalves e o forcado Leandro Bravo (Alcochete). Na foto de
baixo, Filipe saindo do coche. Caminhava ele para um triunfo real!


Miguel Alvarenga - Filipe Gonçalves foi ontem, sem discussão, o grande triunfador da corrida de gala à antiga portuguesa que encerrou a Feira de Alcochete e a que faltou não só o brilhantismo e o ritmo das duas anteriores, como também o registo nas bancadas da imensa moldura humana que encheu aquela praça no domingo e na terça-feira. Noite fria, desagradável, pouco mais de meia entrada, sete toiros que demoraram a entrar na arena e atrasaram a função, que teve início às dez e terminou perto da uma e meia da madrugada...
Muito bem apresentados, à execepção do primeiro - que era um dos dois sobreros e substituiu um toiro que se inutilizou - os toiros de Fernandes de Castro não sairam fáceis, pelo contrário. Reservados, mansotes, com casta, a pedir contas, provocaram alguma emoção sobretudo nas pegas, mas não colaboraram para que a corrida fosse um êxito. Destacaram-se o terceiro e o sétimo e foi bom o quarto, o toiro branco, que levou o ganadeiro a ir à praça acompanhar Filipe Gonçalves e o forcado Leandro Bravo (do grupo de Alcochete) na volta à arena.
Filipe Gonçalves tirou todo o partido do seu toiro, destacando-se numa noite em que esteve inspirado e em que pôs tudo de si para sair triunfador. Resultado: ferros de muita emoção em sortes de risco e muito valor. A raça de um lutador. Terminou com um grande par de bandarilhas.
Abriu praça João Moura com o reservado sobrero que não permitiu ao Maestro luzir-se, apesar da sua entrega e do seu querer. Com o segundo, também mansote, esteve Rui Salvador empenhado e valente, atacando, provocando, indo para cima do toiro, conseguindo por obra e graça da sua imensa determinação sacar faena onde quase nada havia a fazer. Ferros "impossíveis" levantaram o público das bancadas e justificaram a aplaudida volta à arena dada pelo cavaleiro de Tomar.
Arrojada e a pôr "a carne no assador", como sempre, a valentíssima Sónia Matias fez tudo para sacar o que o seu toiro não tinha para dar. Pisou terrenos de compromisso, arriscou, esteve por cima e brilhou. O público esteve com ela, reconheceu o seu esforçado desempenho.
Dizem as leis que não há quinto mau, mas desta vez houve. O toiro que saíu a Manuel Lupi tapou-se sempre na altura da reunião, investia para fazer mal e o jovem toureiro foi desanimando de ferro em ferro. Ainda não foi desta que recuperou o fulgor da sua triunfal reaparição em Junho em Santarém.
Com o sexto, também mansote e nada colaborante, Mateus Prieto fez das tripas coração para agradar, mas havia pouca volta a dar. A maior ovação surgiu quando cravou o último ferro em sorte de "violino". O seu empenho e a sua entrega não foram suficientes para mudar o cenário traçado pela má qualidade do "Castro".
Terminou Jacobo Botero com um toiro mais empenhado, mas mesmo assim complicado. Recordo um enorme ferro curto, a arriscar tudo, de frente, reunindo ao estribo. O jovem colombiano esteve acertado, mas falhou alguns ferros e deixou cair outros e isso retirou algum brilhantismo à lide.
Enorme, em noite de quase história nenhuma, a actuação dos grupos de forcados de Évora e Alcochete, com emotivas e valentes pegas aos toiros de Castro que pouco se maçaram com os cavalos e guardaram as suas forças para as pegas.
Pelos Amadores de Évora foram caras Gonçalo Rovisco (à primeira), Dinis Caeiro (à quarta), João Madeira (à segunda) e João Pedro Oliveira (à primeira). Pelos Amadores de Alcochete, pegaram Joaquim Quintela (à primeira), Leandro Bravo (à segunda) e João Gonçalves (à primeira) na grande pega da corrida e com uma grande ajuda de Diogo Toor (de ascendência holandesa), que o acompanhou na volta à arena.
João Salvação "Ninan", o ex-cabo do Aposento do Barrete Verde que terça-feira se despediu das arenas, foi brindado pelos dois grupos.
Aplausos para todos os bandarilheiros intervenientes, sobretudo pelo seu empenhado desempenho na colocação dos toiros para os forcados. Elogio todos eles, mas destaco, pelo seu arrojo, pela sua valentia, o açoriano João Silva, da quadrilha de Prieto, que superou com toureria os sustos que lhe pregou o sexto toiro.
Pedro Reinhardt dirigiu bem a corrida. Além de ser agora o director a autorizar ou não as voltas à arena (o que me parece uma medida adequada e, pelo menos, põe alguma ordem na casa e acaba com as voltas por dá cá aquela palha, já agora, pergunto: não pode o director proibir também os cavaleiros de darem aquelas forçadas voltas a cavalo quando ainda estão a lidar?), ainda não descobri que inovadores regras trouxe o novo Regulamento que entrou há três dias em vigor. Na trincheira, por exemplo, continuam a ver-se inúmeros "curiosos"... ter-se-ão esquecido desse pormenor na nova lei?... A única inovação (ainda não entrada em vigor...) será mesmo aquela ridícula história dos lenços coloridos, à espanhola, para autorizar as voltas aos cavaleiros, aos forcados e ao ganadeiro com cores diferentes?... Que tremenda parvoíce...

Não perca hoje: as fotoreportagens de Emílio de Jesus - as pegas, uma a uma; os Momentos de Glória; os Famosos que ontem estiveram em Alcochete.

Fotos Emílio de Jesus/fotojornalistaemilio@gmail.com