segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Monforte, ontem: grande tarde de toiros, muitas interrogações e algumas certezas...

Artística faena de João Augusto Moura com um belíssimo novilho-toiro da sua
ganadaria, Torre de Onofre, que também vai marcar presença na Feira da Moita
Maestria Mourista superou ausência dos melhores cavalos da quadra, que estavam
no estrangeiro ao serviço do filho Miguel. Mesmo assim, João brilhou e empolgou
Alguém explica por que toureia Francisco Cortes tão pouco?...
Duas grandes faenas de Moura Caetano ontem em Monforte

Miguel Alvarenga - Muita mítica, mas também muitos mistérios, envolvem, desde os seus primórdios, o mundo apaixonante da tauromaquia. Os tempos mudaram e as vontades, como dizia Camões, também. A corrida de ontem à tarde na praça de Monforte, a que tem o nome de João Moura, saudoso Pai do Maestro e avô de João e Miguel, foi daquelas que nos deixam a pensar e a meditar sobre os porquês de muita coisa estranha que ocorre nos dias de hoje, mais nos bastidores do que propriamente nas arenas. A corrida deixou no ar não sei quantas interrogações, algumas dúvidas e também várias certezas.
Por exemplo: alguém explica as razões por que Francisco Cortes leva este ano toureadas apenas duas ou três corridas, a última das quais ocorrera há dois meses, em Junho, na praça de Portalegre, onde ganhou o troféu para a melhor lide - disputado por mais cinco cavaleiros, entre os quais primeiras figuras - nunca mais voltando depois a ser chamado para actuar em praça nenhuma? Há razões que a razão desconhece e esta será, na actualidade, uma das mais pertinentes.
Francisco Cortes monta como um catedrático, toureia como os melhores, enche uma praça de alegria, tem um poder intuitivo de chegar ao público que herdou do Senhor seu Pai, o Maestro José Maldonado Cortes, tudo isto não chega para que as empresas o contratem? Será que Francisco Cortes, por não estar ligado a nenhuma empresa e não ter por isso trocas para fazer, por nunca se ter envolvido nem de perto nem de longe com o chamado "lado obscuro" do negócio taurino, vai continuar em casa, à espera que o chamem para tourear daqui por mais dois meses... quando a temporada encerrar?
Não valeu de nada ter ganho o troféu em Portalegre, não terá valido de nada o seu triunfo de ontem em Monforte? Talvez este exemplo de Cortes dê para melhor se entender os porquês de a nossa Festa ter chegado onde chegou, ser hoje movida por interesses e negociatadas de bastidores completamente alheias ao valor e aos triunfos dos toureiros...
Francisco Cortes actuava a substituir o ainda lesionado Marcos Bastinhas e, como era de prever, agarrou a oportunidade com unhas e dentes. Esteve soberbo e senhor de si no primeiro toiro, com uma lide emotiva e inteligente, aproveitando as qualidades do oponente e dando-lhe a lide adequada. No segundo, desenvolveu uma lide mais "à antiga", sem momentos mortos, lembrando as actuações desenvoltas e alegres que caracterizaram a carreira gloriosa e tão preenchida (outros tempos...) de seu Pai. Um toureiro assim faz falta em todas as praças e nos principais cartéis - tomem nota, senhores empresários!
Outra questão: toureando como ontem voltou a tourer, no primeiro toiro foram tais os dois primeiros compridos, de praça a praça, a aguentar até ao fim, que o director de corrida Rogério Jóia lhe concedeu logo música (e muito bem!), como se explica que João Moura Caetano, triunfador das duas últimas temporadas, ande este ano tão arredado das primeiras praças e das principais competições, sem ainda ter pisado sequer a arena de Lisboa? Terá havido jogadas de bastidores para o tentar travar?
Triunfador na véspera em Espanha, esteve ontem inspirado em Monforte e embalado para nos brindar com dois grandes triunfos. Com o "Zeus", o "Temperamento", o "Aramis" e os demais craques, protagonizou Moura Caetano duas actuações de um mérito sem fim, bordando o toureiro com ferros e detalhes de soberba execução. Parado porquê? Alguém explica a injustiça?
Dúvidas, tenho estas: Cortes e Caetano. Certezas tenho uma: Moura soma e segue e continua sendo o primeiro. A cumprir uma maratona de sete corridas (que culminou hoje, segunda-feira, com saída em ombros em Tafalla, na festa dos 25 anos de alternativa de Pablo Hermoso) em seis dias e ainda por cima com os cavalos-craques da quadra em Espanha e França com seu filho Miguel, o Maestro socorreu-se ontem do que tinha em mãos e mesmo assim alcançou um saboroso triunfo no seu segundo toiro, numa lide à antiga maneira, onde fez alarde da sua maestria e das suas mais-valias para chegar ao triunfo. No primeiro, mais reservado e de pior jogo, esteve apenas regular.
Outra certeza que este ano se tem vindo a confirmar: o toureio a pé ainda mexe com o nosso público e tem valores de sobra para poder voltar a vingar, assim nele apostem as empresas. Ontem em Monforte, o regressado João Augusto Moura encheu-nas as medidas diante de um belíssimo exemplar da sua ganadaria, Torre de Onofre. Cingidas "verónicas" abriram, com o capote, o recital de João Augusto, que depois realizou de muleta uma faena artística e templada, pelos dois lados, com profundos muletazos reveladores dos bons modos e da arte de um toureiro que felizmente está de volta e que vamos poder rever em Setembro na Feira da Moita.
No tércio de bandarilhas, dois aplaudidos pares por Joaquim Oliveira e Rodolfo Barquinha, cheios de poder e valor, a merecer que se tivessem "desmonterado".
Com um sol abrasador, mas mesmo assim com muito público nos sectores mais baratos e com a sombra bem preenchida (cerca de três quartos de casa), a corrida de ontem em Monforte celebrava o 14º aniversário dos Forcados da terra, que executaram rijas pegas aos bons e bem apresentados toiros de Lopes Branco (ganadaria de Coruche, representada por Zé André, que deu volta no terceiro). Foram caras Nuno Toureiro (à primeira), André Xerepe (à primeira), Pedro Peixoto (à primeira), João Diogo (que executou ao segundo intento, a dobrar Rui Russo, que se lesionou num braço após tentar pegar por duas vezes), Luis Aranha (à segunda) e Vitor Carreiras (à segunda).
A corrida contou com a presença de Gonçalo Lagem, presidente da Câmara de Monforte, que assistiu numa barreira e foi brindado por forcados e cavaleiros e na direcção esteve Rogério Jóia - que, como sempre, pautou a sua actuação pela aficion e o saber, dando ritmo ao espectáculo com a seriedade e o bom senso que o carcaterizam - assessorado pelo médico veterinário Dr. José Guerra e com intervenção aplaudida do cornetim Nuno Narciso.

Não perca: as pegas uma a uma, os Momentos de Glória, os Famosos, a grande fotoreportagem de Maria João Mil-Homens.

Fotos Maria João Mil Homens