Artística faena de João Augusto Moura com um belíssimo novilho-toiro da sua ganadaria, Torre de Onofre, que também vai marcar presença na Feira da Moita |
Maestria Mourista superou ausência dos melhores cavalos da quadra, que estavam no estrangeiro ao serviço do filho Miguel. Mesmo assim, João brilhou e empolgou |
Alguém explica por que toureia Francisco Cortes tão pouco?... |
Duas grandes faenas de Moura Caetano ontem em Monforte |
Miguel Alvarenga - Muita mítica, mas
também muitos mistérios, envolvem, desde os seus primórdios, o mundo apaixonante
da tauromaquia. Os tempos mudaram e as vontades, como dizia Camões, também. A
corrida de ontem à tarde na praça de Monforte, a que tem o nome de João Moura,
saudoso Pai do Maestro e avô de João e Miguel, foi daquelas que nos deixam a
pensar e a meditar sobre os porquês de muita coisa estranha que ocorre nos dias
de hoje, mais nos bastidores do que propriamente nas arenas. A corrida deixou
no ar não sei quantas interrogações, algumas dúvidas e também várias certezas.
Por exemplo: alguém explica as razões
por que Francisco Cortes leva este ano toureadas apenas duas ou três corridas,
a última das quais ocorrera há dois meses, em Junho, na praça de Portalegre,
onde ganhou o troféu para a melhor lide - disputado por mais cinco cavaleiros,
entre os quais primeiras figuras - nunca mais voltando depois a ser chamado
para actuar em praça nenhuma? Há razões que a razão desconhece e esta será, na
actualidade, uma das mais pertinentes.
Francisco Cortes monta como um
catedrático, toureia como os melhores, enche uma praça de alegria, tem um poder
intuitivo de chegar ao público que herdou do Senhor seu Pai, o Maestro José
Maldonado Cortes, tudo isto não chega para que as empresas o contratem? Será
que Francisco Cortes, por não estar ligado a nenhuma empresa e não ter por isso
trocas para fazer, por nunca se ter envolvido nem de perto nem de longe com o
chamado "lado obscuro" do negócio taurino, vai continuar em casa, à
espera que o chamem para tourear daqui por mais dois meses... quando a
temporada encerrar?
Não valeu de nada ter ganho o troféu em
Portalegre, não terá valido de nada o seu triunfo de ontem em Monforte? Talvez
este exemplo de Cortes dê para melhor se entender os porquês de a nossa Festa
ter chegado onde chegou, ser hoje movida por interesses e negociatadas de
bastidores completamente alheias ao valor e aos triunfos dos toureiros...
Francisco Cortes actuava a substituir o
ainda lesionado Marcos Bastinhas e, como era de prever, agarrou a oportunidade
com unhas e dentes. Esteve soberbo e senhor de si no primeiro toiro, com uma
lide emotiva e inteligente, aproveitando as qualidades do oponente e dando-lhe
a lide adequada. No segundo, desenvolveu uma lide mais "à antiga", sem
momentos mortos, lembrando as actuações desenvoltas e alegres que
caracterizaram a carreira gloriosa e tão preenchida (outros tempos...) de seu
Pai. Um toureiro assim faz falta em todas as praças e nos principais cartéis -
tomem nota, senhores empresários!
Outra questão: toureando como ontem
voltou a tourer, no primeiro toiro foram tais os dois primeiros compridos, de
praça a praça, a aguentar até ao fim, que o director de corrida Rogério Jóia
lhe concedeu logo música (e muito bem!), como se explica que João Moura Caetano,
triunfador das duas últimas temporadas, ande este ano tão arredado das
primeiras praças e das principais competições, sem ainda ter pisado sequer a
arena de Lisboa? Terá havido jogadas de bastidores para o tentar travar?
Triunfador na véspera em Espanha, esteve
ontem inspirado em Monforte e embalado para nos brindar com dois grandes
triunfos. Com o "Zeus", o "Temperamento", o
"Aramis" e os demais craques, protagonizou Moura Caetano duas
actuações de um mérito sem fim, bordando o toureiro com ferros e detalhes de
soberba execução. Parado porquê? Alguém explica a injustiça?
Dúvidas, tenho estas: Cortes e Caetano.
Certezas tenho uma: Moura soma e segue e continua sendo o primeiro. A cumprir
uma maratona de sete corridas (que culminou hoje, segunda-feira, com saída em
ombros em Tafalla, na festa dos 25 anos de alternativa de Pablo Hermoso) em
seis dias e ainda por cima com os cavalos-craques da quadra em Espanha e França
com seu filho Miguel, o Maestro socorreu-se ontem do que tinha em mãos e mesmo
assim alcançou um saboroso triunfo no seu segundo toiro, numa lide à antiga
maneira, onde fez alarde da sua maestria e das suas mais-valias para chegar ao
triunfo. No primeiro, mais reservado e de pior jogo, esteve apenas regular.
Outra certeza que este ano se tem vindo
a confirmar: o toureio a pé ainda mexe com o nosso público e tem valores de
sobra para poder voltar a vingar, assim nele apostem as empresas. Ontem em
Monforte, o regressado João Augusto Moura encheu-nas as medidas diante de um
belíssimo exemplar da sua ganadaria, Torre de Onofre. Cingidas
"verónicas" abriram, com o capote, o recital de João Augusto, que
depois realizou de muleta uma faena artística e templada, pelos dois lados, com
profundos muletazos reveladores dos bons modos e da arte de um toureiro que
felizmente está de volta e que vamos poder rever em Setembro na Feira da Moita.
No tércio de bandarilhas, dois
aplaudidos pares por Joaquim Oliveira e Rodolfo Barquinha, cheios de poder e
valor, a merecer que se tivessem "desmonterado".
Com um sol abrasador, mas mesmo assim
com muito público nos sectores mais baratos e com a sombra bem preenchida
(cerca de três quartos de casa), a corrida de ontem em Monforte celebrava o 14º
aniversário dos Forcados da terra, que executaram rijas pegas aos bons e bem
apresentados toiros de Lopes Branco (ganadaria de Coruche, representada por Zé
André, que deu volta no terceiro). Foram caras Nuno Toureiro (à primeira),
André Xerepe (à primeira), Pedro Peixoto (à primeira), João Diogo (que executou
ao segundo intento, a dobrar Rui Russo, que se lesionou num braço após tentar
pegar por duas vezes), Luis Aranha (à segunda) e Vitor Carreiras (à segunda).
A corrida contou com a presença de
Gonçalo Lagem, presidente da Câmara de Monforte, que assistiu numa barreira e
foi brindado por forcados e cavaleiros e na direcção esteve Rogério Jóia - que,
como sempre, pautou a sua actuação pela aficion e o saber, dando ritmo ao
espectáculo com a seriedade e o bom senso que o carcaterizam - assessorado pelo
médico veterinário Dr. José Guerra e com intervenção aplaudida do cornetim Nuno
Narciso.
Não perca: as pegas uma a uma, os
Momentos de Glória, os Famosos, a grande fotoreportagem de Maria João
Mil-Homens.
Fotos Maria João Mil Homens