quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Ontem em Alcochete: o adeus de "Ninan" e a noite grande, enorme, de Rui Fernandes!

Rui Fernandes, o grande triunfador de ontem à noite em Alcochete, dando a volta
com o forcado, os campinos e bandarilheiros... e a sua filha, a pequena "Lupita"
(Guadalupe) às cavalitas!
Alfredo Caballero, dos forcados mexicanos de Querétaro, que executou ontem
(e bem) a terceira pega da noite, dando a volta à arena com João Ribeiro Telles
"Ninan" de volta à trincheira depois de ter executado com enorme raça a última
pega da sua honrosa carreira de forcado; e, na foto de baixo, o momento em que
o nosso Emílio registava a homenagem do presidente da Câmara de Alcochete
ao cabo do grupo do Barrete Verde 



Miguel Alvarenga - Ser Figura do Toureio é exactamente isto, sem pôr nem tirar: chegar, vencer e convencer, afirmar uma posição e mantê-la, continuando a galvanizar e a marcar a diferença, seguindo entre os primeiros com o passar dos anos. Rui Fernandes cumpre essa postura há quinze anos. Ontem em Alcochete, na segunda grande corrida da feira, outra vez com praça cheia e uma admirável moldura humana nas bancadas, sem cimento à vista, foi dele a noite com duas lides enormes numa corrida onde se esperava muito mais no que à competição diz respeito.
Rui Fernandes atingiu a maturidade total e perfeita no toureio. Tem vindo a manter, com invejável notoriedade, uma linha regular de permanentes triunfos, sem oscilações, sempre na crista da onda.
Os dois toiros de José Samuel Lupi que ontem enfrentou tiveram comportamentos distintos, mas Rui esteve lá, em cima deles, desenvolvendo as lides adequadas e com os cavalos certos, fazendo alarde da sua extraordinária quadra.
Não se pode dizer que vive a sua melhor temporada, porque está fartinho de ter grandes temporadas. Dir-se-à que vive um momento alto de plena consagração. Foi um toureiro que veio do nada, sem antecedentes na família a não ser a enorme aficion de seu Pai, a quem chamaram todos os nomes na tentativa de o despromover e dengerir ("Lady Di" terá sido o mais forte e também o mais célebre...), que subiu a corda a pulso e soube estar e triunfar nos sítios certos e nas horas certas. Vingou pelo seu valor. Um valor tremendo.
Construíu Rui Fernandes uma história sólida e consistente. É hoje, indiscutivelmente, uma das grandes Figuras do toureio equestre mundial, estatuto que continua a confirmar, como o fez este ano com triunfais participações nas duas mais importantes feiras taurinas de Espanha - as de Sevilha e Madrid - e mais recentemente com a conquista do seu quinto "Rojão de Ouro", que já ganhara também no ano passado, o mais importante e prestigiado galardão outorgado em França (Mejanes) ao toureio a cavalo e que voltou a trazer para Portugal numa tarde em que era disputado também, apenas e só, por Pablo Hermoso de Mendoza e Ginés Cartagena Jr. na tarde da sua alternativa.
Ontem em Alcochete, Rui Fernandes não deixou dúvidas a ninguém: lidou magistralmente os seus dois toiros, bregou com maestria e cravou com emoção e imensa verdade. Sagrou-se triunfador-maior de uma corrida que se esperava de grande competição e que, afinal e feitas as contas, foi só sua.
Moura e Telles não foram propriamente e apenas espectadores da apoteose de Fernandes - mas quase.
João Moura Jr. "adormeceu na fila" diante do seu primeiro, destacando-se apenas num grande ferro curto. No segundo esteve melhor. Lidou os piores "Lupis" da noite, mas também não conseguiu estar por cima deles. Melhor lide no quinto da ordem, mas mesmo assim todos sabemos que sabe e pode estar muito melhor.
João Ribeiro Telles Jr. cravou um ferro monumental no seu primeiro, num palmo de terreno e com o toiro fechado em tábuas. Na lide do último, esteve desenvolto e certeiro, chegou ao público com uma lide emotiva marcada por ferros de risco e em terrenos de muita verdade. Não se entende como aquele que foi um dos grandes triunfadores da última temporada tem actuado tão pouco este ano.
Nenhum dos dois esteve mal, ressalve-se. Apenas estiveram algo distanciados do que todos estávamos à espera. Esta primeira corrida do Clube Náutico "Alfoz" (que eu visse, não houve nenhum brinde dos artistas a ninguém que o representasse) chegou mesmo a ser denominada como "a do ano", mas feitas as contas, não se passou nada de relevante no que à competição diz respeito.
Marcante, sem dúvida, foi a actuação dos Forcados do Aposento do Barrete Verde de Alcochete na noite de mudança do cabo, tendo-se despedido o valente João Salvação "Ninan", que o chefiava desde 2005 e ontem passou o testemunho a Marcelo Loia, sétimo cabo do grupo desde a sua fundação em 1965. Salvação pegou o maior toiro da corrida e realizou a sorte com a maestria, a arte, a técnica e a perfeição a que sempre nos habituou. No final, despiu a jaqueta no centro da arena, entregou-a ao seu sucessor e pôs termo a uma carreira notável com uma emotiva e muito aplaudida volta à arena aos ombros dos companheiros. Ainda em praça, recebeu a homenagem do presidente da Câmara de Alcochete, Luis Franco. Destaque ainda para as restantes pegas do grupo, rijas e valentes, em particular a do novo cabo Marcelo Loia (a primeira da noite, brindada a "Ninan", executada ao primeiro intento) e a do mexicano Alfredo Caballero ao terceiro da ordem e também à primeira. O grupo ontem esteve reforçado com três forcados mexicanos do Grupo de Querétaro, que tiveram honrosa participação no espectáculo. Foram autores das outras pegas os forrcados César Nunes (segunda da noite, à segunda tentativa), Bruno Amaro (à segunda também) e A. Gomes (última, ao primeiro intento)
Boa intervenção de todos os bandarilheiros, com realce para João Prates "Belmonte", Nuno Oliveira, João CurtoErnesto ManuelJorge Alegrias e João Santos, numa corrida muito bem dirigida por Tiago Tavares com assessoria do médico veterinário Jorge Moreira da Silva. Esta foi a primeira corrida de toiros em Portugal com o novo Regulamento Tauromáquico a funcionar (entrou ontem em vigor). Tudo foi igual ao que era antes. Só faltaram mesmo os tais lencinhos coloridos exibidos pelo "inteligente"...
Bem apresentados, com raça e com casta, mas a transmitir pouco, os toiros de José Lupi "deixaram-se tourear" sem suscitar nenhuns "ais" ou "paragens cardíacas" nas bancadas e nos próprios artistas. Por outras palavras, colaboraram sem assustar. O Eng. José Lupi recusou dar a volta quando o chamaram a vir receber os aplausos que considerou não serem ontem merecidos.
Os toiros foram muito bem recolhidos a cavalo pelos campinos, tendo-se vivido no quarto toiro um momento de susto com a colhida contra as tábuas e a espectacular queda de um deles, felizmente sem consequências de maior.

Não perca: a grande fotoreportagem de Emílio de Jesus - os Momentos de Glória, as pegas uma a uma, os Famosos que marcaram ontem presença em Alocchete.

Fotos M. Alvarenga