Rui Fernandes, o grande triunfador de ontem à noite em Alcochete, dando a volta com o forcado, os campinos e bandarilheiros... e a sua filha, a pequena "Lupita" (Guadalupe) às cavalitas! |
Alfredo Caballero, dos forcados mexicanos de Querétaro, que executou ontem (e bem) a terceira pega da noite, dando a volta à arena com João Ribeiro Telles |
Miguel Alvarenga - Ser Figura do Toureio
é exactamente isto, sem pôr nem tirar: chegar, vencer e convencer, afirmar uma
posição e mantê-la, continuando a galvanizar e a marcar a diferença, seguindo
entre os primeiros com o passar dos anos. Rui Fernandes cumpre essa postura há
quinze anos. Ontem em Alcochete, na segunda grande corrida da feira, outra vez
com praça cheia e uma admirável moldura humana nas bancadas, sem cimento à
vista, foi dele a noite com duas lides enormes numa corrida onde se esperava
muito mais no que à competição diz respeito.
Rui Fernandes atingiu a maturidade total
e perfeita no toureio. Tem vindo a manter, com invejável notoriedade, uma linha
regular de permanentes triunfos, sem oscilações, sempre na crista da onda.
Os dois toiros de José Samuel Lupi que
ontem enfrentou tiveram comportamentos distintos, mas Rui esteve lá, em cima
deles, desenvolvendo as lides adequadas e com os cavalos certos, fazendo alarde
da sua extraordinária quadra.
Não se pode dizer que vive a sua melhor
temporada, porque está fartinho de ter grandes temporadas. Dir-se-à que vive um
momento alto de plena consagração. Foi um toureiro que veio do nada, sem
antecedentes na família a não ser a enorme aficion de seu Pai, a quem chamaram
todos os nomes na tentativa de o despromover e dengerir ("Lady Di"
terá sido o mais forte e também o mais célebre...), que subiu a corda a pulso e
soube estar e triunfar nos sítios certos e nas horas certas. Vingou pelo seu
valor. Um valor tremendo.
Construíu Rui Fernandes uma história
sólida e consistente. É hoje, indiscutivelmente, uma das grandes Figuras do
toureio equestre mundial, estatuto que continua a confirmar, como o fez este
ano com triunfais participações nas duas mais importantes feiras taurinas de
Espanha - as de Sevilha e Madrid - e mais recentemente com a conquista do seu
quinto "Rojão de Ouro", que já ganhara também no ano passado, o mais
importante e prestigiado galardão outorgado em França (Mejanes) ao toureio a
cavalo e que voltou a trazer para Portugal numa tarde em que era disputado
também, apenas e só, por Pablo Hermoso de Mendoza e Ginés Cartagena Jr. na
tarde da sua alternativa.
Ontem em Alcochete, Rui Fernandes não
deixou dúvidas a ninguém: lidou magistralmente os seus dois toiros, bregou com
maestria e cravou com emoção e imensa verdade. Sagrou-se triunfador-maior de
uma corrida que se esperava de grande competição e que, afinal e feitas as
contas, foi só sua.
Moura e Telles não foram propriamente e
apenas espectadores da apoteose de Fernandes - mas quase.
João Moura Jr. "adormeceu na
fila" diante do seu primeiro, destacando-se apenas num grande ferro curto.
No segundo esteve melhor. Lidou os piores "Lupis" da noite, mas
também não conseguiu estar por cima deles. Melhor lide no quinto da ordem, mas
mesmo assim todos sabemos que sabe e pode estar muito melhor.
João Ribeiro Telles Jr. cravou um ferro
monumental no seu primeiro, num palmo de terreno e com o toiro fechado em
tábuas. Na lide do último, esteve desenvolto e certeiro, chegou ao público com
uma lide emotiva marcada por ferros de risco e em terrenos de muita verdade.
Não se entende como aquele que foi um dos grandes triunfadores da última
temporada tem actuado tão pouco este ano.
Nenhum dos dois esteve mal, ressalve-se.
Apenas estiveram algo distanciados do que todos estávamos à espera. Esta
primeira corrida do Clube Náutico "Alfoz" (que eu visse, não houve
nenhum brinde dos artistas a ninguém que o representasse) chegou mesmo a ser
denominada como "a do ano", mas feitas as contas, não se passou nada
de relevante no que à competição diz respeito.
Marcante, sem dúvida, foi a actuação dos
Forcados do Aposento do Barrete Verde de Alcochete na noite de mudança do cabo,
tendo-se despedido o valente João Salvação "Ninan", que o chefiava
desde 2005 e ontem passou o testemunho a Marcelo Loia, sétimo cabo do grupo
desde a sua fundação em 1965. Salvação pegou o maior toiro da corrida e
realizou a sorte com a maestria, a arte, a técnica e a perfeição a que sempre
nos habituou. No final, despiu a jaqueta no centro da arena, entregou-a ao seu
sucessor e pôs termo a uma carreira notável com uma emotiva e muito aplaudida
volta à arena aos ombros dos companheiros. Ainda em praça, recebeu a homenagem
do presidente da Câmara de Alcochete, Luis Franco. Destaque ainda para as
restantes pegas do grupo, rijas e valentes, em particular a do novo cabo
Marcelo Loia (a primeira da noite, brindada a "Ninan", executada ao primeiro
intento) e a do mexicano Alfredo Caballero ao terceiro da ordem e também à
primeira. O grupo ontem esteve reforçado com três forcados mexicanos do Grupo
de Querétaro, que tiveram honrosa participação no espectáculo. Foram autores
das outras pegas os forrcados César Nunes (segunda da noite, à segunda
tentativa), Bruno Amaro (à segunda também) e A. Gomes (última,
ao primeiro intento)
Boa intervenção de todos os
bandarilheiros, com realce para João Prates "Belmonte", Nuno
Oliveira, João Curto, Ernesto Manuel, Jorge Alegrias e João Santos, numa corrida muito bem
dirigida por Tiago Tavares com assessoria do médico veterinário Jorge Moreira
da Silva. Esta foi a primeira corrida de toiros em Portugal com o novo
Regulamento Tauromáquico a funcionar (entrou ontem em vigor). Tudo foi igual ao
que era antes. Só faltaram mesmo os tais lencinhos coloridos exibidos pelo
"inteligente"...
Bem apresentados, com raça e com casta,
mas a transmitir pouco, os toiros de José Lupi "deixaram-se tourear"
sem suscitar nenhuns "ais" ou "paragens cardíacas" nas
bancadas e nos próprios artistas. Por outras palavras, colaboraram sem
assustar. O Eng. José Lupi recusou dar a volta quando o chamaram a vir receber
os aplausos que considerou não serem ontem merecidos.
Os toiros foram muito bem recolhidos a
cavalo pelos campinos, tendo-se vivido no quarto toiro um momento de susto com
a colhida contra as tábuas e a espectacular queda de um deles, felizmente sem
consequências de maior.
Não perca: a grande fotoreportagem de Emílio de Jesus - os Momentos de Glória, as pegas uma a uma, os Famosos que marcaram ontem presença em Alocchete.