Marcelo Mendes e o cavalo "Único": uma sinfonia de arte na recente corrida de Páscoa na praça de Sousel |
"O 'Único' é um génio! É nele que vejo a minha ambição" |
Depois do triunfo em Sousel, Marcelo Mendes toureia no próximo dia 9 de Maio em Moura (Concurso de Ganadarias) com Luis Rouxinol e Filipe Gonçalves |
Ontem, na Quinta da Chapuceira (Torres Vedras): um dia com Marcelo Mendes |
Começou a temporada com um triunfo
notável em Sousel, tem um cavalo que é verdadeiramente e não só de nome,
"Único" e reuniu finalmente uma quadra sólida e consistente para
poder fazer face aos grandes desafios que sonha alcançar. Ontem, na Quinta da
Chapuceira, em Freixofeira, Torres Vedras, o "Farpas" registou as
confissões, os sonhos, as ambições e os desejos do jovem e valoroso cavaleiro
Marcelo Mendes para a temporada de 2015. Apoderado pelo conhecido empresário
Ricardo Levesinho, espera regressar este ano à "Palha Blanco" (Vila
Franca), onde em 2014 obteve sonoros êxitos em Maio e em Outubro e tem como
meta voltar à primeira arena do país, a do Campo Pequeno, onde nunca mais foi
repetido. Tourear de frente e com verdade é o lema deste valente cavaleiro que
diariamente trabalha com o firme objectivo de alcançar um pantamar de cima do
difícil mundo da tauromaquia. Vamos ouvi-lo já a seguir.
Entrevista de Maria João Mil-Homens
(texto e fotos)
(texto e fotos)
- De frente e com verdade! É esse o
lema, Marcelo?
- Sim, tourear de frente e com verdade
foi sempre o meu conceito, embora nem sempre tenhamos os toiros a arrancarem
como desejamos.
- Tem hoje a quadra ideal?
- Neste momento tenho uma quadra que me
dá a segurança e a possibilidade de fazer na arena o toureio que sinto. Para
além do "Útil" e essencialmente o "Único", que me tem dado
uma amizade e uma entrega diária que me tem proporcionado grandes actuações e
que será um cavalo que me marcará para sempre, conseguir juntar na quadra o "Mourinho",
o "Celta", o "Danúbio", o "Equador", o
"Valente" e o "Girassol" e estão em preparação mais três ou
quatro cavalos que me fazem sentir capaz de, como disse, interpretar e mostrar
o toureio que me faz sentir realizado.
- Nova temporada, novas montadas, novos
desafios e a ambição de...
- De me sentir cada vez mais capaz de
fazer frente a grandes desafios e a estar nos palcos mais importantes, tendo
condições para o melhor das minhas características como toureiro.
- Marcelo Mendes e o cavalo
"Único" são a simbiose perfeita do seu estilo de tourear?
- O "Único" é um génio, é nele
que vejo a minha ambição. Permite-me executar um toureio de proximidade que
antes de o conhecer pensei não ser possível. A ele devo a emoção que me faz
sentir em tantas tardes e toda a vida lhe estarei grato, não só pelo que tem
feito, mas também pelo que me ensina e me ajuda na preparação dos outros
cavalos. Mais que falar em mim, realço o grande cavalo de toureio que ele é!
Consegue diariamente surpreender-me. Quer sempre mais. Se eu o não agarrar, ele
manda-se para cima dos toiros com os seus ladeios e com a sua alegria que é
indescritível. Tem-me ajudado muito e por isso não me canso de lhe ser
totalmente agradecido.
- Sendo um cavaleiro de emoção, acha que
consegue transmitir essa emoção ao público?
- Sempre que entro na arena tenho um
compromisso comigo mesmo que é dar tudo lá dentro. Creio que isso, só por si,
chega às pessoas. As coisas nem sempre se conseguem como desejamos, por
diversos motivos que tento entender e melhorar diariamente, mas nunca por falta
de dar tudo da minha parte e o mesmo exijo dos meus cavalos, com os quais
trabalho todos os dias nesse sentido e com esse objectivo.
- Há um público específico que se
identifica com a sua forma de tourear ou considera que qualquer público entende
e vibra com o seu toureio?
- Se todos se identificassem, seria mau
sinal. É natural, foi sempre assim com todos os toureiros, que haja quem goste
mais e quem goste menos. Tenho-me esforçado e vou esforçar-me sempre por ser
sincero e verdadeiro comigo mesmo e o que vier na sequência desta forma de
estar vai-me fazer sentir feliz e realizado.
- Como é o seu dia-a-dia, Marcelo?
- Chego à quinta às nove horas e desde
esse momento começam os preparativos para o dia de trabalho com a minha equipa.
Por norma, trabalho diariamente como cada cavalo cerca de 45 minutos em
condições normais. Se entender que o objectivo pretendido não se está a
conseguir, repito esse cavalo ao longo do dia, tentando obter o procurado.
Monto cerca de dez cavalos todos os dias, tentando melhorar e preparar os
cavalos que já toureiam e também ir ponto os cavalos novos, que são sempre os
desafios que mais me ilusionam.
- Planos, projectos e sonhos a curto
prazo...
- Continuar a senda de actuações
conseguidas na temporada passada, que sinto cada vez mais regulares. Como é
evidente e acho normal, desejo e anseio para mim os maiores sucessos e luto
diariamente para os conseguir alcançar. São estes os meus sonhos para hoje e
para amanhã!
- O que se pensa quando se está em cima
do cavalo, em frente a um toiro?
- Sinceramente, penso em desfrutar do
que tanto gosto, fazer e mostrar o trabalho que faço diariamente em casa,
procurar fazer passar para as bancadas a mensagem de que podem continuar comigo
e procurar que sintam que estou cá para lutar ao lado dos meus companheiros
pelos triunfos em cada tarde. Essencialmente é isso que penso.
- Esquece o perigo?
- O toureio é uma profissão de alto
risco! Apesar de colocar a vida em perigo, porque entendo o toureio com emoção,
lá dentro esqueço-me desse perigo e só quero ser feliz e sentir que faço as
pessoas felizes com as minhas actuações.
- No ano passado tiveram para si um
sabor especial os triunfos que obteve na praça de Vila Franca em Maio e depois
em Outubro?
- Graças a Deus, no ano passado, tive a
sorte e o valor de conseguir boas actuações ao longo do ano, mas obviamente que
esses dois triunfos em Vila Franca, uma praça das mais importantes do país,
perante um público tão exigente e lidando toiros de Veiga Teixeira e de Palha,
foram triunfos que me satisfizeram em especial, como profissional era o que
mais necessitava e mais procurava para dar mais um passo na luta que tem sido a
minha carreira.
- Foram momentos que o marcaram,
Marcelo?
- Foram momentos extraordinários e que
me marcaram muito, muito mesmo. Penso que mostraram que estou no caminho certo
para atingir o sucesso na minha profissão, com o público a respeitar-me e a
reconhecer o meu trabalho, vendo que eu estava ali para dar tudo, indo de
frente para os toiros.
- O novo empresário da "Palha
Blanco", Paulo Pessoa de Carvalho, ainda não manifestou a intenção de o
repetir este ano?
- Sinceramente, não sei se já houve
alguma conversação com o meu apoderado. Mas Paulo Pessoa de Carvalho é um
empresário à antiga e antigamente repetiam-se os toureiros que triunfavam. Não
estou na primeira corrida de Vila Franca, em Maio, mas acredito que voltarei
este ano à "Palha Blanco". Estou totalmente disponível e desejo muito
lá voltar para demonstrar que poderei repetir o triunfo e assim desfrutar mais
vezes daquele ambiente extraordinário. Como também gostaria muito de regressar
ao Campo Pequeno, para mim a praça mais importante do mundo no que respeita ao
toureio a cavalo. É mais que evidente o meu desejo de voltar a ver-me anunciado
em Lisboa e condeguir o sonhado triunfo, pois só triunfando nas praças
importantes conseguirei atingir o patamar que ambiciono.
- Resumindo e concluindo, Marcelo, moral
em alta e muita ambição para realizar uma grande temporada?
- Como já referi anteriormente, sinto-me
cada vez mais preparado para grandes desafios, sejam eles as praças onde actuo,
os cartéis que tenho a honra de integrar e as ganadarias e os toiros que me
aparecem pela frente. Quando vou para a praça é para triunfar e se não o
conseguir, pelo menos tenho que demonstrar ao público que estou lá para dar
tudo de mim e dos meus cavalos.