quarta-feira, 15 de abril de 2015

As confissões de Marcelo Mendes: "Só triunfando em praças importantes atingirei o patamar que ambiciono"

Marcelo Mendes e o cavalo "Único": uma sinfonia de arte na recente corrida de
Páscoa na praça de Sousel
"O 'Único' é um génio! É nele que vejo a minha ambição"
Depois do triunfo em Sousel, Marcelo Mendes toureia no próximo dia 9 de Maio
em Moura (Concurso de Ganadarias) com Luis Rouxinol e Filipe Gonçalves
Ontem, na Quinta da Chapuceira (Torres Vedras): um dia com Marcelo Mendes




Começou a temporada com um triunfo notável em Sousel, tem um cavalo que é verdadeiramente e não só de nome, "Único" e reuniu finalmente uma quadra sólida e consistente para poder fazer face aos grandes desafios que sonha alcançar. Ontem, na Quinta da Chapuceira, em Freixofeira, Torres Vedras, o "Farpas" registou as confissões, os sonhos, as ambições e os desejos do jovem e valoroso cavaleiro Marcelo Mendes para a temporada de 2015. Apoderado pelo conhecido empresário Ricardo Levesinho, espera regressar este ano à "Palha Blanco" (Vila Franca), onde em 2014 obteve sonoros êxitos em Maio e em Outubro e tem como meta voltar à primeira arena do país, a do Campo Pequeno, onde nunca mais foi repetido. Tourear de frente e com verdade é o lema deste valente cavaleiro que diariamente trabalha com o firme objectivo de alcançar um pantamar de cima do difícil mundo da tauromaquia. Vamos ouvi-lo já a seguir.

Entrevista de Maria João Mil-Homens 
(texto e fotos)

- De frente e com verdade! É esse o lema, Marcelo?
- Sim, tourear de frente e com verdade foi sempre o meu conceito, embora nem sempre tenhamos os toiros a arrancarem como desejamos.
- Tem hoje a quadra ideal?
- Neste momento tenho uma quadra que me dá a segurança e a possibilidade de fazer na arena o toureio que sinto. Para além do "Útil" e essencialmente o "Único", que me tem dado uma amizade e uma entrega diária que me tem proporcionado grandes actuações e que será um cavalo que me marcará para sempre, conseguir juntar na quadra o "Mourinho", o "Celta", o "Danúbio", o "Equador", o "Valente" e o "Girassol" e estão em preparação mais três ou quatro cavalos que me fazem sentir capaz de, como disse, interpretar e mostrar o toureio que me faz sentir realizado.
- Nova temporada, novas montadas, novos desafios e a ambição de...
- De me sentir cada vez mais capaz de fazer frente a grandes desafios e a estar nos palcos mais importantes, tendo condições para o melhor das minhas características como toureiro.
- Marcelo Mendes e o cavalo "Único" são a simbiose perfeita do seu estilo de tourear?
- O "Único" é um génio, é nele que vejo a minha ambição. Permite-me executar um toureio de proximidade que antes de o conhecer pensei não ser possível. A ele devo a emoção que me faz sentir em tantas tardes e toda a vida lhe estarei grato, não só pelo que tem feito, mas também pelo que me ensina e me ajuda na preparação dos outros cavalos. Mais que falar em mim, realço o grande cavalo de toureio que ele é! Consegue diariamente surpreender-me. Quer sempre mais. Se eu o não agarrar, ele manda-se para cima dos toiros com os seus ladeios e com a sua alegria que é indescritível. Tem-me ajudado muito e por isso não me canso de lhe ser totalmente agradecido.
- Sendo um cavaleiro de emoção, acha que consegue transmitir essa emoção ao público?
- Sempre que entro na arena tenho um compromisso comigo mesmo que é dar tudo lá dentro. Creio que isso, só por si, chega às pessoas. As coisas nem sempre se conseguem como desejamos, por diversos motivos que tento entender e melhorar diariamente, mas nunca por falta de dar tudo da minha parte e o mesmo exijo dos meus cavalos, com os quais trabalho todos os dias nesse sentido e com esse objectivo.
- Há um público específico que se identifica com a sua forma de tourear ou considera que qualquer público entende e vibra com o seu toureio?
- Se todos se identificassem, seria mau sinal. É natural, foi sempre assim com todos os toureiros, que haja quem goste mais e quem goste menos. Tenho-me esforçado e vou esforçar-me sempre por ser sincero e verdadeiro comigo mesmo e o que vier na sequência desta forma de estar vai-me fazer sentir feliz e realizado.
- Como é o seu dia-a-dia, Marcelo?
- Chego à quinta às nove horas e desde esse momento começam os preparativos para o dia de trabalho com a minha equipa. Por norma, trabalho diariamente como cada cavalo cerca de 45 minutos em condições normais. Se entender que o objectivo pretendido não se está a conseguir, repito esse cavalo ao longo do dia, tentando obter o procurado. Monto cerca de dez cavalos todos os dias, tentando melhorar e preparar os cavalos que já toureiam e também ir ponto os cavalos novos, que são sempre os desafios que mais me ilusionam.
- Planos, projectos e sonhos a curto prazo...
- Continuar a senda de actuações conseguidas na temporada passada, que sinto cada vez mais regulares. Como é evidente e acho normal, desejo e anseio para mim os maiores sucessos e luto diariamente para os conseguir alcançar. São estes os meus sonhos para hoje e para amanhã!
- O que se pensa quando se está em cima do cavalo, em frente a um toiro?
- Sinceramente, penso em desfrutar do que tanto gosto, fazer e mostrar o trabalho que faço diariamente em casa, procurar fazer passar para as bancadas a mensagem de que podem continuar comigo e procurar que sintam que estou cá para lutar ao lado dos meus companheiros pelos triunfos em cada tarde. Essencialmente é isso que penso.
- Esquece o perigo?
- O toureio é uma profissão de alto risco! Apesar de colocar a vida em perigo, porque entendo o toureio com emoção, lá dentro esqueço-me desse perigo e só quero ser feliz e sentir que faço as pessoas felizes com as minhas actuações.
- No ano passado tiveram para si um sabor especial os triunfos que obteve na praça de Vila Franca em Maio e depois em Outubro?
- Graças a Deus, no ano passado, tive a sorte e o valor de conseguir boas actuações ao longo do ano, mas obviamente que esses dois triunfos em Vila Franca, uma praça das mais importantes do país, perante um público tão exigente e lidando toiros de Veiga Teixeira e de Palha, foram triunfos que me satisfizeram em especial, como profissional era o que mais necessitava e mais procurava para dar mais um passo na luta que tem sido a minha carreira.
- Foram momentos que o marcaram, Marcelo?
- Foram momentos extraordinários e que me marcaram muito, muito mesmo. Penso que mostraram que estou no caminho certo para atingir o sucesso na minha profissão, com o público a respeitar-me e a reconhecer o meu trabalho, vendo que eu estava ali para dar tudo, indo de frente para os toiros.
- O novo empresário da "Palha Blanco", Paulo Pessoa de Carvalho, ainda não manifestou a intenção de o repetir este ano?
- Sinceramente, não sei se já houve alguma conversação com o meu apoderado. Mas Paulo Pessoa de Carvalho é um empresário à antiga e antigamente repetiam-se os toureiros que triunfavam. Não estou na primeira corrida de Vila Franca, em Maio, mas acredito que voltarei este ano à "Palha Blanco". Estou totalmente disponível e desejo muito lá voltar para demonstrar que poderei repetir o triunfo e assim desfrutar mais vezes daquele ambiente extraordinário. Como também gostaria muito de regressar ao Campo Pequeno, para mim a praça mais importante do mundo no que respeita ao toureio a cavalo. É mais que evidente o meu desejo de voltar a ver-me anunciado em Lisboa e condeguir o sonhado triunfo, pois só triunfando nas praças importantes conseguirei atingir o patamar que ambiciono.
- Resumindo e concluindo, Marcelo, moral em alta e muita ambição para realizar uma grande temporada?
- Como já referi anteriormente, sinto-me cada vez mais preparado para grandes desafios, sejam eles as praças onde actuo, os cartéis que tenho a honra de integrar e as ganadarias e os toiros que me aparecem pela frente. Quando vou para a praça é para triunfar e se não o conseguir, pelo menos tenho que demonstrar ao público que estou lá para dar tudo de mim e dos meus cavalos.