segunda-feira, 20 de abril de 2015

Escândalo: crítico de "El País" arrasa corrida de rejoneio de ontem em Sevilha

Esta foto de José Manuel Vidal, da agência EFE, encabeça a crónica de António
Lorca, hoje, no jornal "El País" e surge também em inúmeros jornais de todo o
mundo nas referências feitas à corrida de ontem em Sevilha
Rui Fernandes, que cortou ontem uma orelha em Sevilha, é o único toureiro elogiado
na crónica do jornal "El País", hoje, pelo respeitado cronista António Lorca


Encabeçada por uma foto de José Manuel Vidal da agência EFE, que mostra Ventura com o cavalo agarrado pelos peitos pelo toiro a que ontem cortou duas orelhas em Sevilha, a crónica dada hoje à estampa no importante e prestigiado diário espanhol "El País" pelo afamado crítico taurino António Lorca (foto ao lado) arrasa por completo - mas numa base altamente construtiva para o futuro da festa e das corridas de rejoneio, há que ter em conta - o espectáculo de ontem na Real Maestranza de Sevilha.
Sob o título "Penosa e tristíssima tarde de rejoneio", o cronista afirma que se tratou de "um espectáculo penoso, muito triste e impróprio do prestígio que um dia teve a Maestranza".
Os únicos elogios, ainda que em tom pouco eufórico, são para as actuações do cavaleiro português Rui Fernandes, que obteve uma orelha e que, segundo Lorca, "templou muito bem ante o quarto e quebrou com solturas, deixou chegar ao toiro muito perto dos cavalos e saíu airoso dos encontros".
De resto, António Lorca considera que foram imerecidas as duas orelhas no segundo toiro de Ventura, que lhe permitiram a décima saída aos ombros pela Porta do Príncipe: "A Diego Ventura regalaram-lhe a sua décima Porta do Príncipe por uma faena irregular, muito afastada de outras tardes de glória protagonizadas por este cavaleiro nesta mesma praça", escreve o cronista, acrescentando que "Andrés Romero também passeou o favor imerecido das duas orelhas no sexto da tarde".
António Lorca considera que "o espectáculo de rejoneio interessa cada vez mesmo e prova disso é que uma das grandes figuras do momento actual como é Ventura não foi capaz de encher a praça". O respeitado crítico taurino acusa ainda o encontro entre o cavaleiro e o toiro ser hoje em dia "desigual", porque, explica, "se enfrentam cavalos poderosos, bem domados e alegres com toiros amorfos, desencastados e tristes". "Não existe a lide - acusa - mas sim um jogo irrespeitoso com o toiro, num espectáculo reduzido aos números circenses do cavaleiro. Dá igual cravar ao estribo ou à garupa (...) porque o importante é galopar, galopar e acertar com o rojão de morte, ainda que a sorte final se tenha convertido numa caricatura". Lorca afirma ainda que "o rejoneio está a ficar obsoleto" e "tudo soa a visto", sobretudo "como essa forma de enganar o toiro sempre com vantagens, como essa imprecisão na hora de colocar rojões e bandarilhas".
António Lorca preconiza que, se não foram tomadas medidas e se se continuarem a lidar toiros desta casta Murube (ontem eram de Bohórquez), que não transmitem e não dão emoção, "isto acaba-se". E escreve:
"Se alguém - autoridade, toureiros, rejoneadores, empresários, ganadeiros e taurinos sem graduação - não puser remédio nisto, o espectáculo taurino morrerá mais cedo do que tarde, pela sua própria inépcia e sem ajuda de opositores".
António Lorca é considerado, refere, por exemplo, o site do Clube Cocherito de Bilbau, onde recentemente deu uma palestra, um jornalista taurino "que se destaca por escrever artigos honestos, justos, íntegros, mostrando a verdade do amplo e complexo mundo taurino". A sua análise, polémica mas altamente construtiva, à corrida de rejoneio de ontem em Sevilha, deve servir de reflexão e de análise, também para nós, portugueses. Ao fim e ao cabo, se pensarmos e recuarmos um pouco, o rumo que está a levar o rejoneio (toureio a cavalo) em Espanha começa também a impôr-se em Portugal, por obra e graça dos rejoneadores que nos visitam (veja-se a recente corrida de abertura da temporada em Lisboa, por coincidência, também protagonizada pelo mesmo Diego Ventura), sem que nós façamos nada para travar esta tentativa de desvirtuar a essência da nossa Festa e do toureio a cavalo de outros tempos, que era precisamente marcado pela agora desaparecida emoção e pela verdade do toiro.
Pensem seriamente nisso e não vejam apenas nesta crónica de António Lorca uma simples - e mais cómoda de engolir - e maldosa intenção de deitar abaixo. Nada disso. O cronista espanhol, pelo contrário, procura construir e levantar aquilo que alguns estão a tentar derrubar.

Fotos José Manuel Vidal/EFE/@El País e González Arjona/aplausos.es