quinta-feira, 9 de julho de 2015

Mestre Batista: recordações de um toureiro único

Campo Pequeno: onde esta noite o vamos todos lembrar
Tininha e Mestre Batista nos anos 60 numa gala em Lisboa
Tininha Mestre Batista fotografada pelo "Correio da Manhã", esta semana, no
Museu de Reguengos de Monsaraz que reúne o espólio e as memórias do Toureiro
À conversa no Campo Pequeno, no Salão Nobre da praça do Campo Pequeno,
no acto de apresentação da última corrida que ali actuou, em 1984 e que foi a de
apresentação na praça de Lisboa do cavaleiro mexicano Ramón Serrano
No Hotel Altis, com o seus últimos apoderados, Rogério Amaro e "Nené", na ceia
da alternativa de Rui Salvador, a quem doutorou no Campo Pequeno e que esta
noite também actuará na grande Homenagem Nacional que todos lhe vamos prestar
Em sua casa, em Vila Franca, final dos anos 70, numa entrevista para o jornal
"A Rua", a primeira que lhe fiz. "Não sou comunista!", era o título, para desfazer
de uma vez por todas os equívocos. Em baixo, com Joaquim Bastinhas, seu afilhado
de alternativa e que esta noite actuará também em Lisboa. E com o saudoso
bandarilheiro Jorge Marques

Miguel Alvarenga - Momentos únicos que tive a sorte de viver ao lado de um grande Toureiro que foi meu ídolo de juventude e que mais tarde vim a conhecer e a entrevistar mais que uma vez. Hoje apetece-me recordá-los aqui, partilhá-los com os leitores do "Farpas", recordar essa Figura ímpar que marcou uma época na História do Toureio e que hoje à noite será homenageado no Campo Pequeno - José Mestre Batista.
Entrevistei-o pela primeira vez em sua casa, o seu templo sagrado, em Vila Franca de Xira, lá em cima, com vista para a Lezíria (foto de cima). Foi em 1977 ou 78, não recordo, para o jornal "A Rua". O título da entrevista era bem sugestivo: "Nunca fui comunista!" e acabava de vez com a polémica criada em torno da sua figura, por posições que tomou a seguir ao "25 de Abril" e o faziam supor "vermelhusco".
Acompanhei-o depois em algumas corridas, sobretudo quando Fernando Camacho o apoderou. Ri-me muito, era um homem divertidíssimo, com uma cultura enorme e uma grande e saudável dose de loucura.
Chamava-me Einstein, porque dizia que eu tinha que ser muito inteligente para escrever como escrevia, sendo tão novinho. E eu achava graça.
Vimo-nos pela última vez em Dezembro de 1984, ali no Campo Pequeno, estava ele um dia no Café "Arena". Cheio de projectos, contou-me que no ano seguinte iria tourear pela primeira vez ao México. Morreu em Fevereiro, vítima de um ataque de asma quando passava as férias de Carnaval em Zafra (Espanha) com a Tininha, a Mulher de uma vida e o filho João. Há dias perguntei à Tininha pelo João, tem 40 anos... o tempo passa de corrida.
Escrevi um livro sobre ele, "A História de um Vencedor", que nunca cheguei a publicar. Ainda nem publiquei o da história da minha prisão no Linhó. O meu tempo corre sem tempo. Mas prometo muito em breve (este Inverno, assim que acalmarem as touradas) dá-los à estampa. Tenho que o fazer em nome da memória do José Mestre Batista. Esta noite sei que estará a nosso lado no Campo Pequeno. Vai ser bonito ver o Luis Miguel da Veiga nas cortesias, seu companheiro de tanta história, ver o Luc Jalabert, lembro-me como se fosse hoje da noite da sua alternativa em Lisboa, promovida pelo também meu saudoso amigo Manuel Gonçalves, apadrinhada por Batista. Esta noite vou lembrar-me dos "ferros à Batista", do Toureiro enorme, da história tão marcante que ele escreveu nas arenas. Hoje fala-se muita vez deste e daquele cavaleiro que "toureiam como o Batista", mas a verdade é que não há, não pode haver nunca, comparações possíveis. Batista houve só um. Aquele que logo à noite vamos todos homenagear no Campo Pequeno.

Fotos D.R., "Correio da Manhã" e Luis Azevedo/Estúdio Z