sexta-feira, 10 de julho de 2015

Ontem no Campo Pequeno: lição de Rui Salvador na noite grande de Juan del Álamo

A arte e o valor de Juan del Álamo, que ontem conquistou o Campo Pequeno e deu
mais um importante e decisivo contributo para o renascimento da paixão pelo
toureio a pé e pelas corridas mistas, que eram o prato-forte de antigamente
nas temporadas da primeira praça do país
Segunda lide de Rui Salvador foi um portento, uma lição. Parecia o Salvador de
há trinta anos!
O matador francês Juan Bautista deu muitos passes, mas apenas cumpriu...
Bastinhas ontem esteve apenas vulgar - e com velocidade a mais... longe do
seu melhor
Um grande par de bandarilhas de Joaquim de Oliveira, que ontem se reafirmou
em Lisboa como um dos maiores da actualidade na execução deste tércio.
Arte, poder e maestria. Agradeceu as ovações de montera em mão, como dias
antes o fizera em Vila Franca
Maurício do Vale cantou com Pinto Basto o fado de Mestre Batista
O espectáculo de ontem iniciou-se com um bonito e aplaudido momento de
Fado e de Cante Alentejano nas vozes de António Pinto Basto, Teresa Tapadas
e Gustavo Pinto Basto e do Grupo Coral de Monsaraz
Prestigiante e marcante a presença de Mestre Luis Miguel da Veiga ontem no
Campo Pequeno, nas cortesias, de novo vestido de toureiro, prestes a assinalar
50 anos de alternativa (no próximo ano), o companheiro de Mestre Batista em
mais de 400 corridas nessa década de ouro de 60
Luc Jalabert voltou ao Campo Pequeno para participar nas cortesias e desta feita
homenagear o seu padrinho de alternativa. Mestre Batista doutourou-o na antiga
praça de Lisboa em 4 de Setembro de 1980 e Luc foi o primeiro cavaleiro francês
a receber tal honraria em Portugal
D. Francisco de Mascarenhas, que foi em 1958 na Moita o padrinho da alternativa
de Mestre Batista (depois de o terem chumbado no Campo Pequeno...), recebeu
calorosa ovação no início da corrida
Emoções fortes e gratas recordações de Mestre Batista na Homenagem Nacional
que ontem lhe foi prestada no Campo Pequeno na Corrida "Correio da Manhã".
No início, a viúva do grande Toureiro recebeu na arena as homenagens da
administradora da primeira praça do país, Drª Paula Resende, na presença de
António Garçoa, que foi durante muitos anos o mais directo colaborador e
bandarilheiro de confiança do cavaleiro de S. Marcos do Campo (Reguengos de
Monsaraz). Ao intervalo, foi descerrada na entrada da praça uma placa em
homenagem a Batista e alusiva a esta memorável corrida (foto de baixo)



Miguel Alvarenga - Ontem no Campo Pequeno, Rui Salvador prestou a mais bonita e a mais emotiva das homenagens que se podiam ter prestado à memória desse cavaleiro eterno que é e será para todo o sempre José Mestre Batista e de que ele próprio foi, também em Lisboa, o último afilhado de alternativa.
Depois de ter andado meio à deriva no seu primeiro toiro, um sobrero de Falé Filipe (por ter apresentado manifesta debilidade nos currais o de Luis Rocha que lhe cabia em primeiro lugar) que brigou o tempo todo e andou sempre danado para o atirar ao chão, sofrendo Rui evitáveis encontrões no cavalo, entrou depois em praça no sexto da noite com a decisão e a raça de outros tempos, o enorme brio profissional que sempre o caracterizou e a ousadia daqueles "ferros impossíveis", impróprios para cardíacos e que põem sempre as coisas "en su sítio". Esteve enorme, magistral e em plano de tremenda maestria, pisando terrenos de grande compromisso, saindo airosamente e com aquela arte e aquele toque de suprema magia, fazendo lembrar o Rui Salvador de há trinta anos. Foi uma actuação para recordar, para acabar de vez com a má sorte que tem tido no Campo Pequeno, a marcar de forma decisiva o querer e a garra de um Toureiro que, não estando bem no primeiro toiro, veio para a luta no segundo com todas as suas armas e com o seu coração de gigante, dizer que não baixa os braços e nunca se dá por vencido, era o que faltava. Foi, acima de tudo, uma lição na qual os mais novos (não vale a pena voltar a falar da falta de ambição de alguns que oito dias antes estiveram naquela mesma arena...) deviam pôr os olhos - e seguir à risca, se é que ainda querem ser alguém. Grande Rui Salvador!
E numa temporada onde o toureio a pé está de novo a levantar a cabeça, mais pelo empurrão que lhe têm dado os estrangeiros que aqui toureiam (primeiro "El Juli", agora Álamo), do que propriamente pela existência de figuras nacionais, os melhores momentos da noite de ontem em Lisboa foram precisamente protagonizados pela arte, pelo temple, pela entrega e pelo valor de Juan del Álamo, a nova vedeta de Espanha - que se provou merecer por inteiro esta presença no Campo Pequeno, onde veio pelo seu valor e pelo lugar que neste momento ocupa no panorama taurino mundial, muito mais que pelo simples facto de ser apoderado por Rui Bento, o director de Actividades Tauromáquicas da primeira praça do país. Isso será apenas e só uma coincidência, mas também a confirmação do estatuto de grande taurino internacional do nosso antigo matador de toiros.
Juan del Álamo entusiasmou o público do Campo Pequeno com uma primeira faena de muito bom nível e de muito bom gosto, onde pontificou a classe e os bons modos de um toureiro que vive indiscutivelmente o seu momento - e o está a aproveitar e a desfrutar como deve ser.
No segundo e último toiro da noite, outro bom exemplar de Falé Filipe, relaxou (no bom sentido), deixou adormecer a sua muleta e o resultado foi uma faena templadíssima e compassada, pés parados, a cintura a dobrar-se e o toiro a investir, como que hipnotizado, numa bonito e arrepiante bailado de maravilha, de pleno domínio e de suprema realização artística. Melhor era impossível e Juan del Álamo conquistou o Campo Pequeno, como noutros tempos o conquistaram grandes e lembrados nomes como "Paquirri", Dámaso González, "Currillo", "Niño de la Capea" e Ruiz Miguel. Esperemos que volte depressa.
O outro matador, o francês Juan Bautista, não teve nem de perto, nem de longe, o nível e o glamour de Juan del Álamo. Esteve acertado com os dois toiros de Falé Filipe, bem de capote, deu muitos passes de muleta, limitou-se a cumprir, mas sem alardes de grande destaque.
E Joaquim Bastinhas andou demasiado ao largo no seu primeiro toiro, nunca cravando de frente. Deu o show costumeiro, cravou o par, saltou do cavalo, foi muito aplaudido, mas esteve longe do seu melhor. No segundo, voltou a estar apenas vulgar e nem deu volta à arena.
Grande, grande, esteve Pedro Espinheira, cabo dos Amadores do Ribatejo, com um pegão à primeira muito idêntico, quase igual, ao de Marcelo Loia, uma semana antes. O grupo não esteve à altura e a pega valeu pela decisão do grande forcado, que aguentou monumentais derrotes, a fuga do toiro ao grupo e ali se manteve, de pedra e cal, sem nunca sair, fechado de braços e pernas como os maiores.
Outra valente pega de João Guerreiro, à segunda, marcou ontem a triunfal presença do Grupo do Ribatejo no Campo Pequeno.
Pelos Amadores de Monsaraz pegaram Nelson Campaniço (à terceira) e Luis Rodrigues numa emotiva pega à primeira.
Joaquim de Oliveira bandarilhou com a arte e o poderio com que se está a revelar como um dos primeiros em Portugal, sendo mesmo obrigado a agradecer as calorosas ovações do público de montera em mão, sagrando-se também um dos triunfadores da nocturna de ontem no Campo Pequeno. Diogo Malafaia não esteve feliz com as bandarilhas, havendo ainda a destacar dois grandes pares dos subalternos da quadrilha de Bautista.
Duros, a pedir contas, mas lidáveis, os três toiros de Luis Rocha. De boa nota os de Falé Filipe lidados a pé, com destaque para o segundo (quarto da noite) e para o último.
O espectáculo iniciou-se com um bonito espectáculo de Fado a cargo de António Pinto Basto, Teresa Tapadas e Gustavo Pinto Basto e que contou com intervenção especial de Maurício do Vale, que cantou com António o fado de Mestre Batista que o falecido João Braza imortalizou. Aplaudida presença, também, dos cantares alentejanos com a actuação do Grupo Coral de Monsaraz.
Nesta sexta corrida da temporada do Campo Pequeno, que foi a do jornal "Correio da Manhã", prestou-se emotiva homenagem à memória do saudoso cavaleiro José Mestre Batista. Ao início da corrida, a viúva do cavaleiro, Tininha Batista, recebeu na arena as homenagem da administração do Campo Pequeno, na pessoa da Drª Paula Resende e depois, na presença do presidente da Câmara de Reguengos e de António Garçoa, antigo bandarilheiro de confiança de Batista, fez ao Museu do Campo Pequeno a oferta de uma casa castanha de seu marido. Durante a corrida, Bastinhas e os forcados brindaram a Tininha Batista e Rui Salvador ergueu o tricórnio aos céus oferecendo a primeira lide ao seu padrinho de alternativa e a segunda a Luis Miguel da Veiga, companheiro de Batista em mais de 400 corrida nos anos de ouro de 60.
A primeira grande ovação da noite foi para a presença na arena, de novo vestido de toureiro, de Mestre Luis Miguel da Veiga, que participou simbolicamente nas cortesias, bem como o cavaleiro francês Luc Jalabert, o primeiro toureiro gaulês a receber a alternativa em Portugal, no Campo Pequeno, apadrinhado por Mestre Batista. Duas nostálgicas presenças numa noite de emoções e gratas recordações.
Manuel Gama dirigiu ontem a corrida de Lisboa, com o habitual acerto, mas com algumas condescendências. Não se entendeu muito bem porque autorizou a volta à arena a Salvador e ao forcado no segundo toiro da noite, nem como a permitiu a Juan Bautista no terceiro, depois de não ter exibido o lenço branco ao matador. Presumo que Bautista desconheça essa nova moda dos lenços (mas alguém o devia ter instruído nesse sentido) e que Gama apenas tenha tido um gesto de boa educação ao não mandá-lo retirar-se assim que este iniciou a volta não autorizada. Enfim...
Resumindo e concluindo, apesar de ter sido a corrida com menos público desta temporada no Campo Pequeno (cerca de meia entrada), a primeira praça do país voltou a marcar pelo glamour e continua a ir "a mais", permanecendo indiscutivelmente na moda. A corrida foi de oito toiros, como eram as mistas de antigamente, mas não resultou enfadonha, teve ritmo e durou poucos minutos mais que a da semana passada, a da TV, de triste memória. 
Ontem deu-se mais um passo importante em prol da reconsolidação do toureio a pé, mercê da arte de Juan del Álamo. E assistimos a uma lição enorme de raça e de brio profissional de Rui Salvador, que vai marcar esta temporada.

Fotos Emílio de Jesus/fotojornalistaemilio@gmail.com