No conjunto das duas actuações, o triunfo coube a Vitor Ribeiro, que teve duas lides emotivas e de grande valor, cravando em terrenos de compromisso ferros que levantaram o público das bancadas |
A primeira pega da noite foi executada à segunda tentativa, após violento derrote na primeira intervenção, por João Espinheira, do Grupo do Ribatejo |
A segunda pela dos Forcados do Ribatejo foi consumada ao quarto toiro da noite por Ruben Durães à primeira tentativa |
Francisco Mirrado pegou à primeira o segundo toiro da corrida, concretizando com êxito a primeira intervenção do grupo moitense |
Os Amadores da Moita fecharam a sua intervenção com a quinta pega da noite, por intermédio de Fernando Grilo, que só consumou à terceira |
A primeira pega dos montijenses (terceira da ordem) teve na cara um forcado veterano e sempre em forma, o valente Isidoro Cirne, que consumou ao primeiro intento, com a decisão e a técnica de sempre |
Miguel Alvarenga - Cerca de três quartos
das bancadas preenchidas e ambiente triunfal marcado pelo êxito dos cavaleiros
e forcados, sábado passado, na corrida que inaugurou a temporada na praça de
Setúbal, a "Carlos Relvas", uma promoção da empresa "Aplaudir", que aos poucos tem vindo a conseguir recuperar o carisma e a importância que este tauródromo teve em tempos não muito distantes.
Os toiros de Manuel Veiga, de
apresentação q.b. e comportamento desigual - destacaram-se o primeiro e o
último - proporcionaram, apesar da mansidão e reserva de alguns deles, um bom
espectáculo, já que na maioria dos casos cresceram ao castigo e acabaram por se
empregar.
No conjunto das duas actuações, a
regularidade triunfal coube a Vitor Ribeiro, que foi autor de duas lides
emotivas e sempre em crescendo, com ferros que fizeram levantar o público. O
cavaleiro aproveitou até à exaustão a qualidade (distinta) dois seus dois
oponentes e soube tirar-lhes todo o partido, pisando terrenos de compromisso,
demonstrando que, apesar de não estar a tourear muito este ano, se encontra
preparado e montado para enfrentar todos os desafios. Rui Bento estava presente
e por isso, espera-se agora que Vitor Ribeiro entre na segunda parte da
temporada lisboeta - merece-o.
João Moura Caetano rubricou uma actuação
de sucesso, com o temple e a arte que são apanágio do seu toureio de bom gosto,
frente ao primeiro Veiga e no segundo, um manso reservado, deu tudo - mesmo
tudo - diante de um toiro que não deu quase nada. Foi uma lide de muita entrega
e de valor, mas o cavaleiro recusou no final dar a volta, consciente de que a
sua actuação não tivera o brilho desejado, limitando-se a vir ao centro da
arena agradecer as ovações e apesar de a volta lhe ter sido, merecidamente,
concedida pelo director de corrida João Cantinho.
João Moura Júnior empenhou-se e deu a
volta ao seu primeiro toiro, mansote, conseguindo, mercê da sua entrega e do
brilhante desempenho das suas montadas, um meio-triunfo. Todos os toiros têm
lide, até os menos bons e Moura provou-o nesta sua primeira intervenção. O
segundo toiro tinha qualidades e João "rebentou com o quadro". O
segundo ferro curto, em terrenos de "aperto", frente à porta dos
cavalos, foi o ferro da noite numa lide de afirmação e de consagração de um
cavaleiro que está a assumir a liderança nesta temporada de 2015.
Em último lugar toureou o rejoneador
equatoriano Sebastián Peñaherrera, trajado à goyesca como Pablo Hermoso (seu
mestre) e que fazia a sua estreia em Portugal. Deixou ambiente, mostrou ter
classe e saber da arte, teve detalhes muito bons e tudo o que fez foi bem
feito. A lide não teve o brilho e a importância que se impunha - e que ele deu
- dada a pequenez insignificante do novilho que lidou e que teve qualidade, mas
que retirou toda a importância que teve, e teve mesmo, o desempenho do
equatoriano. E aqui há que dizer duas palavras.
Para o jovem Peñaherrera estava nos
currais da "Carlos Relvas" um novilho de Passanha com 430 quilos que
foi recusado por a lei impor que um cavaleiro amador só pode enfrentar reses
com 300 e poucos quilos. Se assim é e se Peñaherrera se apresenta em Portugal
na qualidade de toureiro amador, não sabiam de antemão que não poderia
enfrentar um novilho com 430 quilos?
Em cima da hora, foram buscar o
novilhote que acabou por lidar à ganadaria de Rio Frio e o resultado acabou por
ser uma lide brilhante sem a importância que deveria ter tido.
Talvez seja melhor rever a situação de
Sebastián Peñaherrera. Se já tem a alternativa, que recebeu em 2013 no Equador
das mãos de Pablo Hermoso de Mendoza, por que razão vai tourear entre nós como
amador?
No que aos forcados diz respeito, houve
excelentes pegas por parte dos três grupos. Pelos Amadores do Ribatejo pegaram
João Espinheira (à segunda) e Ruben Durães (também ao primeiro intento); pelos Amadores da Moita foram caras Francisco
Mirrado (à primeira) e Fernando Grilo (à terceira); e pelos Amadores do Montijo pegaram o veterano Isidoro
Cirne (ao primeiro intento, fechando-se com decisão, um forcadão de valor por quem os anos não passam) e Ricardo Parracho (à terceira). O
novilho de Rio Frio cabia, por ordem, ao Grupo do Ribatejo, mas este teve o
bonito de gesto de convidar elementos dos dois outros grupos e a pega foi
consumada à primeira por Duarte Pinedo. Um exemplo de camaradagem que fica sempre bem e honra
a imagem do forcado amador.
A primeira corrida do ano em Setúbal
teve público, teve ritmo, foi agradável e João Cantinho dirigiu-a com muito
acerto.
Fotos Emílio de Jesus/fotojornalistaemilio@gmail.com