segunda-feira, 13 de julho de 2015

Setúbal abriu temporada com noite de grandes triunfos


Três quartos de praça na primeira corrida do ano em Setúbal, este sábado. Toiros
de Manuel Veiga que, não primando pela bravura (destacaram-se o primeiro e o
sexto), cresceram ao castigo e acabaram por se deixar tourear. Noite grande
para os cavaleiros Vitor Ribeiro, Moura Caetano e João Moura Jr., para os três
grupos de forcados (Ribatejo, Moita e Montijo) e para o jovem estreante Sebastián
Peñaherrera (equatoriano), que deixou bom ambiente na sua primeira actuação em
Portugal, apesar da pouca importância do novilho de Rio Frio que, por lei, foi
obrigado a enfrentar em vez do Passanha com 430 quilos que lhe tinham destinado
e que estava nos currais da praça "Carlos Relvas"
No conjunto das duas actuações, o triunfo coube a
Vitor Ribeiro, que teve duas lides emotivas e de grande
valor, cravando em terrenos de compromisso ferros
que levantaram o público das bancadas
João Moura Caetano teve uma fantástica actuação, com a arte e o temple que
o caracterizam, no segundo toiro da noite. No quinto, mansote, deu tudo diante
de um oponente que não deu nada. Recusou dar a volta à arena - mas merecia
Esforçado no seu primeiro toiro, manso, João Moura Júnior "rebentou com o
quadro"
no sexto da noite, protagonizando uma actuação daquelas que são mais
um passo na afirmação da liderança. Soma e segue e no domingo estará em Moura
Sebastián Peñaherra, pupilo de Rui Fernandes, estreou-se no nosso país com uma
emotiva actuação, onde tudo foi bem feito e onde demonstrou que tem raça e
valor para aqui fazer história, como aconteceu com Jacobo Botero. O triunfo do
jovem equatoriano só não teve a importância que mereceu ter pela pequenez do
novilho que enfrentou, mercê de se apresentar com o estatuto de amador e lhe
ter sido recusada a lide de um novilho de Passanha com 430 quilos, que estava
nos currais da praça - e com o qual o seu triunfo teria tido outro impacto
A primeira pega da noite foi executada à segunda tentativa, após violento derrote
na primeira intervenção, por João Espinheira, do Grupo do Ribatejo
A segunda pela dos Forcados do Ribatejo foi consumada ao quarto toiro da
noite por Ruben Durães à primeira tentativa
Francisco Mirrado pegou à primeira o segundo toiro da corrida, concretizando
com êxito a primeira intervenção do grupo moitense
Os Amadores da Moita fecharam a sua intervenção com a quinta pega da noite,
por intermédio de Fernando Grilo, que só consumou à terceira
A primeira pega dos montijenses (terceira da ordem) teve na cara um forcado
veterano e sempre em forma, o valente Isidoro Cirne, que consumou ao primeiro
intento, com a decisão e a técnica de sempre
A segunda pega dos Amadores do Montijo (sexta da noite) foi consumada à
terceira tentativa por Ricardo Parracho. Na foto de baixo, a sétima pega, ao
novilho de Rio Frio, executada por Duarte Pinedo ao primeiro intento, com
intervenção de elementos dos três grupos actuantes



Miguel Alvarenga - Cerca de três quartos das bancadas preenchidas e ambiente triunfal marcado pelo êxito dos cavaleiros e forcados, sábado passado, na corrida que inaugurou a temporada na praça de Setúbal, a "Carlos Relvas", uma promoção da empresa "Aplaudir", que aos poucos tem vindo a conseguir recuperar o carisma e a importância que este tauródromo teve em tempos não muito distantes.
Os toiros de Manuel Veiga, de apresentação q.b. e comportamento desigual - destacaram-se o primeiro e o último - proporcionaram, apesar da mansidão e reserva de alguns deles, um bom espectáculo, já que na maioria dos casos cresceram ao castigo e acabaram por se empregar.
No conjunto das duas actuações, a regularidade triunfal coube a Vitor Ribeiro, que foi autor de duas lides emotivas e sempre em crescendo, com ferros que fizeram levantar o público. O cavaleiro aproveitou até à exaustão a qualidade (distinta) dois seus dois oponentes e soube tirar-lhes todo o partido, pisando terrenos de compromisso, demonstrando que, apesar de não estar a tourear muito este ano, se encontra preparado e montado para enfrentar todos os desafios. Rui Bento estava presente e por isso, espera-se agora que Vitor Ribeiro entre na segunda parte da temporada lisboeta - merece-o.
João Moura Caetano rubricou uma actuação de sucesso, com o temple e a arte que são apanágio do seu toureio de bom gosto, frente ao primeiro Veiga e no segundo, um manso reservado, deu tudo - mesmo tudo - diante de um toiro que não deu quase nada. Foi uma lide de muita entrega e de valor, mas o cavaleiro recusou no final dar a volta, consciente de que a sua actuação não tivera o brilho desejado, limitando-se a vir ao centro da arena agradecer as ovações e apesar de a volta lhe ter sido, merecidamente, concedida pelo director de corrida João Cantinho.
João Moura Júnior empenhou-se e deu a volta ao seu primeiro toiro, mansote, conseguindo, mercê da sua entrega e do brilhante desempenho das suas montadas, um meio-triunfo. Todos os toiros têm lide, até os menos bons e Moura provou-o nesta sua primeira intervenção. O segundo toiro tinha qualidades e João "rebentou com o quadro". O segundo ferro curto, em terrenos de "aperto", frente à porta dos cavalos, foi o ferro da noite numa lide de afirmação e de consagração de um cavaleiro que está a assumir a liderança nesta temporada de 2015.
Em último lugar toureou o rejoneador equatoriano Sebastián Peñaherrera, trajado à goyesca como Pablo Hermoso (seu mestre) e que fazia a sua estreia em Portugal. Deixou ambiente, mostrou ter classe e saber da arte, teve detalhes muito bons e tudo o que fez foi bem feito. A lide não teve o brilho e a importância que se impunha - e que ele deu - dada a pequenez insignificante do novilho que lidou e que teve qualidade, mas que retirou toda a importância que teve, e teve mesmo, o desempenho do equatoriano. E aqui há que dizer duas palavras.
Para o jovem Peñaherrera estava nos currais da "Carlos Relvas" um novilho de Passanha com 430 quilos que foi recusado por a lei impor que um cavaleiro amador só pode enfrentar reses com 300 e poucos quilos. Se assim é e se Peñaherrera se apresenta em Portugal na qualidade de toureiro amador, não sabiam de antemão que não poderia enfrentar um novilho com 430 quilos?
Em cima da hora, foram buscar o novilhote que acabou por lidar à ganadaria de Rio Frio e o resultado acabou por ser uma lide brilhante sem a importância que deveria ter tido.
Talvez seja melhor rever a situação de Sebastián Peñaherrera. Se já tem a alternativa, que recebeu em 2013 no Equador das mãos de Pablo Hermoso de Mendoza, por que razão vai tourear entre nós como amador?
No que aos forcados diz respeito, houve excelentes pegas por parte dos três grupos. Pelos Amadores do Ribatejo pegaram João Espinheira (à segunda) e Ruben Durães (também ao primeiro intento); pelos Amadores da Moita foram caras Francisco Mirrado (à primeira) e Fernando Grilo (à terceira); e pelos Amadores do Montijo pegaram o veterano Isidoro Cirne (ao primeiro intento, fechando-se com decisão, um forcadão de valor por quem os anos não passam) e Ricardo Parracho (à terceira). O novilho de Rio Frio cabia, por ordem, ao Grupo do Ribatejo, mas este teve o bonito de gesto de convidar elementos dos dois outros grupos e a pega foi consumada à primeira por Duarte Pinedo. Um exemplo de camaradagem que fica sempre bem e honra a imagem do forcado amador.
A primeira corrida do ano em Setúbal teve público, teve ritmo, foi agradável e João Cantinho dirigiu-a com muito acerto.

Fotos Emílio de Jesus/fotojornalistaemilio@gmail.com