Uma monumental pega de Fernando Quintella em Évora |
O valoroso Grupo de Forcados Amadores de Alcochete volta a pegar já na próxima sexta-feira, dia 29, na Corrida das Vindimas em Évora, duas semanas depois da trágica morte de Fernando Quintella na Moita. "Iremos mostrar uma vez mais o nosso carisma, o verdadeiro espírito de um grupo que, infelizmente, precisou conhecer a dor da perda já por duas vezes, mas que segue firme, com fé, com muita amizade e força", diz-nos o cabo Nuno Santana (foto ao lado) a três dias do regresso às arenas.
Entrevista de Miguel Alvarenga
- O GFA de Alcochete volta a pegar na próxima sexta-feira em Évora e, ainda para mais, uma corrida de Irmãos Moura Caetano anunciada como “o maior curro da temporada”, depois da tragédia há duas semanas na Moita, em que morreu Fernando Quintella. Qual o estado de espírito da rapaziada e como encaram este regresso às arenas depois de um momento tão duro e tão triste para todos vós?
- É um momento de muita tristeza e dor, mas como homens de muita fé, há que aceitar e receber a vontade de Deus em cada decisão, em cada escolha. Com a ajuda dos antigos elementos que passaram infelizmente também por um momento semelhante, dos amigos, dos aficionados, encontraremos a força necessária para ultrapassar esta adversidade e continuaremos a dignificar o nome de quem deu a vida pela nossa jaqueta. Certamente que na próxima sexta-feira é isso que irá acontecer, honraremos a jaqueta dando uma resposta à altura daquilo que são os pergaminhos do Grupo de Alcochete.
- Curiosamente, voltam a competir com o Grupo de Évora, com quem pegavam na Moita na fatídica noite de 15 de Setembro e estão também no cartel dois dos cavaleiros que actuavam nessa corrida, Moura Jr. e João Telles: isso diz-lhe alguma coisa, Nuno?
- Não lhe chamaria competição. É uma honra e um prazer ombrear com o Grupo de Évora por quem nutro uma grande relação de amizade, apreço e admiração, sendo que o nosso adversário será sempre o toiro, e nunca o grupo que pegará connosco. Em relação aos cavaleiros em questão, por quem também tenho grande estima e amizade, é sinal que estão bem e por isso mesmo, muitas vezes contratados, portanto é um privilégio poder pegar toiros toureados por eles, encaro isso como meras coincidências.
- Considera que a morte de dois forcados no curto espaço de dez dias foi apenas e só uma triste coincidência ou alguma coisa de errado se está a passar nas arenas no que aos Forcados diz respeito?
- Mera coincidência e uma infeliz coincidência. A vida nunca pára de ensinar e o Destino a Deus pertence.
- Concorda que vai ser necessário meditar e rever algumas situações para evitar futuras tragédias?
- Seria necessário minimizar o perigo. Tudo o que seja inerente à segurança de uma corrida de toiros, a meu ver, devia-se especializar a segurança e assistência médica, para que assim, o único perigo existente seja apenas e só o toiro.
- Fernando Quintella foi, depois de Helder Antono, o segundo Forcado dos Amadores de Alcochete a morrer vítima de colhida numa arena. É evidente e compreensível que isso tenha afectado a moral do Grupo e a sua, como cabo. Mas há que seguir em frente. Perspectivas para esta sexta-feira em Évora…
- Sexta-feira iremos mostrar, mais uma vez, o nosso carisma, o verdadeiro espírito de um grupo que, infelizmente, precisou conhecer a dor da perda, já por duas vezes, mas que segue firme, com fé, com muita amizade e força. Da mesma forma que nos ensinaram outrora, e na altura tiveram força para elevar cada vez mais o nome do Grupo de Alcochete. Não será de todo diferente. A vida não pára de nos ensinar.
- Para terminar, peço-lhe que recorde em poucas palavras o Homem e o Forcado que foi Fernando Quintella.
- Como Homem, um exemplo de simplicidade e humildade raramente vista, uma pessoa de fé e um exemplo de filho, irmão e amigo para qualquer pessoa. Um Forcado "franzino" que tornava toiros difíceis em fáceis, com uma maneira mágica de “tourear” bastante peculiar, tirando assim a maldade aos toiros que pudessem ter. Sinto e sei que estará connosco em todos os momentos.
Fotos D.R., Florindo Piteira e Maria Mil-Homens