quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Campo Pequeno: célebre corrida da Maioria Silenciosa foi há 43 anos

D. José João Zoio foi o grande protagonista da noite.
Ao abrir, quando dava a volta à arena, um cartaz da
manifestação da Maioria Silenciosa, exibindo-o ao
público, ficou "democraticamente" vetado pelos
"revolucionários" que ao tempo dominavam o Sindicato
dos Toureiros e foi obrigado a ir tourear para Espanha...
Ao intervalo da corrida, Spínola e Vasco Gonçalves estiveram num beberete com
os toureiros realizado no Salão Nobre da praça do Campo Pequeno. Podem
ver-se nesta foto, entre outros, o forcado Carlos Serra, os bandarilheiros Manolito
dos Santos, César Marinho, Francisco Farinha, Joaquim Gonçalves e Jorge
Marques e o cavaleiro Emídio Pinto (mesmo atrás do general Spínola)
Vasco Gonçalves (vaiado) e Spínola (aclamado) no camarote presidencial do
Campo Pequeno na célebre corrida de 26 de Setembro de 1974. Atrás, à direita,
vêem-se o major Sanches Osório e o general Galvão de Melo
Recorte da imprensa da época dando conta dos desacatos verificados no final
da corrida e, em baixo, o célebre cartaz da manifestação da Maioria Silenciosa

Passaram ontem 43 anos sobre a famosa corrida de toiros que ficou conhecida como a da Maioria Silenciosa, realizada na praça do Campo Pequeno em 26 de Setembro de 1974 e que serviu como "ensaio geral" para a anunciada manifestação de apoio ao então presidente da República, General António de Spínola, promovida pela Direita e nomeadamente pelo Partido do Progresso e pelo Partido Liberal, entre outras organizações.
A manifestação da denominada Maioria Silenciosa (cujo "boneco" fora idealizado por Quito Hipólito Raposo, já falecido - cartaz ao lado) pretendia, cinco meses depois do 25 de Abril, marcar uma posição manifestamente anti-comunista e em favor de Spínola e contra o então primeiro-ministro Vasco Gonçalves, conotado com o Partido Comunista e a "revolução dos cravos".
A manifestação, marcada para sábado, 28 de Setembro, na Praça do Império, defronte do Palácio de Belém, acabaria por não se realizar e Spínola demitir-se-ia dias depois, passando o país a ser dirigido pela Esquerda, até ao 25 de Novembro do ano seguinte, assumindo a presidência da República o General Costa Gomes.
Dois dias antes da data marcada para a manifestação, realizou-se na praça do Campo Pequeno aquela que era a tradicional corrida anual da Liga dos Combatentes, cuja organização estava em perfeita sintonia com os promotores da manifestação da Maioria Silenciosa.
Spínola e Vasco Gonçalves, respectivamente presidente da República e primeiro-ministro, assistiam à corrida no camarote presidencial. O cartel era de seis cavaleiros, entre os quais D. José João Zoio que acabaria por se transformar num dos protagonistas desta noite: quando dava a triunfal volta à arena, recebeu, atirado por um espectador, um cartaz da manifestação da Maioria Silenciosa, que abriu e exibiu.
Esse acto valeu-lhe depois ser vetado pelo Sindicato dos Toureiros, ao tempo dominado por toureiros "revolucionários", que o proibiram de tourear em Portugal. Zoio "emigrou" para Espanha e só no ano seguinte viria a reaparecer em Portugal, nos tempos "quentes" do PREC (Processo Revolucionário Em Curso) e precisamente na praça de toiros de Évora, em pleno "território dos comunistas", tendo a corrida sido organizada pela dupla Quintano Paulo/António Sousa - recebendo a maior ovação de que há memória naquela e noutras arenas, durante mais de quinze minutos o público aplaudiu-o de pé!
Na corrida do Campo Pequeno, com a praça esgotada, no tempo em que a lotação era de mais de 9  mil espectadores, Spínola foi aclamado aos gritos de "Portugal! Portugal! Ultramar! Ultramar!", enquanto Vasco Gonçalves foi vaiado. No final da corrida, registaram-se inúmeros desacatos no exterior da praça, entre bandos de "anti-fascistas" e partidários da Maioria Silenciosa.
Passaram ontem 43 anos.

Fotos Botán e D.R.