sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

"Nené": lembrar uma vida dedicada à Tauromaquia

"Nené" ladeado por João Mimo, cabo fundador do GFA de Alcochete, a que
sucedeu em 1984 e por João Pedro Bolota, o cabo a que passou o testemunho
da chefia do grupo em 1995 numa Corrida da Rádio no Campo Pequeno
O último encontro com o seu antigo sócio Rogério Amaro, testemunhado pelo
"Farpas", há duas semanas na Taberna "Saudade" em Lisboa. Um jantar
inesquecível
"Nené" era actualmente apoderado do cavaleiro João Ribeiro Telles, para o qual
projectava uma grande campanha em 2018, comemorativa dos seus 10 anos de
alternativa
Com o cavaleiro praticante António Prates, no ano passado em Beja, que também
apoderava neste momento
A última vez que se fardou de forcado, em Junho de 2016, pegando o seu último
toiro em Alcochete na corrida comemorativa dos 45 anos do GFA de Alcochete.
"Lá estarei dentro de cinco anos, outra vez, nos 50 anos do grupo", prometera
numa entrevista a Diogo Marcelino para o programa "Faenas TV"
"Nené" com o seu filho António José, que lhe seguiu os passos e era também
valoroso forcados dos Amadores de Alcochete

Recordamos em traços largos a trajectória do histórico Forcado e último dos grandes empresários taurinos nacionais, António Manuel Cardoso "Nené", que ontem perdeu tragicamente a vida num brutal acidente de automóvel, ao início da noite, próximo de Alcochete, quando regressava de Mourão, onde assistira ao festejo inaugural da temporada de 2018.

António Manuel Cardoso "Nené" nasceu em Alcochete a 16 de Junho de 1954, tinha 64 anos. Em Agosto de 1971, com apenas 17 anos, vestiu pela primeira vez a jaqueta dos Forcados Amadores de Alcochete, estreando-se numa corrida na Monumental do Montijo.
Foi o segundo cabo dos Amadores de Alcochete, que comandou entre 1984 e 1995, sucedendo a João Mimo, o cabo fundador. Durante a sua permanência como líder do grupo viveu momentos difíceis com a morte de Helder Antono, quando executava uma pega em Alcochete e, pouco tempo depois, também o desaparecimento de Nini, outro grande valor, que morreu também num acidente de automóvel. Ainda no ano passado, voltara a história gloriosa dos Amadores de Alcochete a ficar ensombrada com a morte de Fernando Quintella, vítima de colhida fatal quando pegava um toiro em Setembro na última corrida da Feira da Moita. "Esta merda nunca mais acaba...", desabafou ao "Farpas", mal adivinhando que a próxima tragédia teria a ver consigo.
Em onze anos como cabo, elevou bem alto o prestígio e o nome dos Amadores de Alcochete, retirando-se em 31 de Agosto de 1995 numa Corrida da Rádio na praça do Campo Pequeno, passando nessa noite o testemunho a João Pedro Bolota. Já depois de cumprir 60 anos de idade, voltou a pegar em 2014 (sofrendo dura colhida de que resultou uma lesão no ombro) e em 2016 na corrida comemorativa dos 45 anos do seu grupo, ambas na praça de Alcochete. Depois desta última pega, numa entrevista ao programa "Faenas TV" (que aqui reproduzimos há momentos), manifestou o desejo de "daqui a cinco anos voltar a pegar nos 50 anos do grupo".
No início dos anos 80, tornou-se também empresário tauromáquico, formando a empresa Toiros & Tauromaquia com Rogério Amaro. Impuseram o toiro-toiro nas suas praças e geriram vários taudródromos nacionais. Só num ano, estiveram à frente de 13 praças de toiros, as principais do continente e também a de Angra do Heroísmo, na Ilha Terceira, Açores.
Paralelamente, exerceu, primeiro em parceria com Rogério Amaro e depois a solo, o apoderamento de vários toureiros, entre os quais o saudoso José Mestre Batista (foram os seus últimos apoderados), Vitor Mendes, Joaquim Bastinhas, Paulo Caetano, João Palha Ribeiro Telles, João Salgueiro, Rui Bento e outros. Nos últimos anos, apoderou João Maria Branco, Rui Guerra e Mateus Prieto e actualmente, era apoderado de João Ribeiro Telles e do praticante António Prates.
"Nené" geria neste momento as praças de Évora e de Alcochete (esta, há quase trinta anos) e concorrera recentemente à adjudicação da de Vila Franca de Xira, que foi entregue à Tauroleve de Ricardo Levesinho. Caso tivesse ganho o concurso da "Palha Blanco", praça que em anos anteriores já gerira, primeiro com Rogério Amaro e de 2004 a 2007 sózinho, confessara ao "Farpas" que tinha idealizado para a corrida do Colete Encarnado, em Julho, um "cartel monstro" com Pablo Hermoso, João Telles, o matador espanhol Curro Díaz e os Forcados de Vila Franca. Estava já a delinear a temporada nas duas referidas praças, Évora e Alcochete, tendo prevista para a 16 de Agosto em Alcochete a apresentação no nosso país de Guillermo Hermoso de Mendoza, filho de Pablo. Com grande entusiasmo, projectava também uma grande campanha para João Ribeiro Telles, que nesta temporada comemora os seus dez anos de alternativa e também a temporada do lançamento definitivo de António Prates rumo à alternativa, depois de ter sido o cavaleiro-revelação de 2017.
Era, como bem refere Paulo Pessoa de Carvalho, presidente da Associação Portuguesa de Empresários Tauromáquicos (APET), o "último grande empresário taurino nacional" na verdadeira acepção da palavra. Vivia da sua actividade empresarial, era um profissional "dos pés à cabeça", um "homem de ideias e de ideais", como também sublinha João Moura Caetano na sua página oficial do Facebook.
Como já referimos, António Manuel Cardoso era casado com Paula Cardoso, de quem tinha dois filhos, Margarida e António José, também valoroso forcado dos Amadores de Alcochete, sendo também pai de Cláudia, fruto do seu primeiro casamento.

Fotos Emílio de Jesus, Maria Mil-Homens e M. Alvarenga