sexta-feira, 18 de maio de 2018

Campo Pequeno: fora Tavares, viva Caetano!

João Moura Caetano foi, nos seus dois toiros, uma antologia da arte de bem
tourear. Triunfador absoluto e incontestável da nocturna de ontem!
Ontem, António Telles andou apenas regular. E nesta arte, estar regular é quase
nada...
Pablo Hermoso esteve à altura do seu inigualável palmarés de grande figura
A emotiva pega de Martim Lopes, dos Amadores de Lisboa, ao primeiro da noite
Amadores de Coruche foram muito maltratados pelo último toiro


Miguel Alvarenga - Somos, definitivamente, um país estúpido e de brandos costumes. Em Espanha, quando o povo pede orelhas merecidas e a presidência as não concede, a bronca dura longos minutos. Aqui, passa-se tudo com uma anormalidade assustadora. E, mais grave, fica tudo como estava…
Tinha alguma admiração e respeito pelo director de corrida Tiago Tavares. Ontem, tenho imensa pena, mas deixei de ter. É inqualificável conceder música a João Moura Caetano (no seu primeiro toiro) e depois não o autorizar a dar a volta à arena. Bem sei que a intervenção daquele louco holandês do costume (grande Francisco Palha, que sem tourear, até ontem foi triunfador ao saltar à arena e o imobilizar) fez esquecer a atitude do director de corrida de não conceder (incrível!) a volta a Caetano, mas as coisas não podem ficar assim. 
Não podemos, sob pena de isto um dia acabar a sério, continuar a permitir atentados destes. Atentados, foi mesmo o que escrevi, não tenham dúvidas.
O senhor Tiago Tavares não tem competência (é preciso que a IGAC tome nota disto) para dirigir uma corrida de toiros. O senhor Tiago Tavares não pode estar à frente da direcção de uma corrida na primeira praça do país. Lisboa não pode estar à mercê de uma coisa destas. Estraga-se um espectáculo e um ambiente destes apenas e só porque o senhor Tiago Tavares acha que tem autoridade, sem entender patavina disto? Continuamos eternamente a brincar? É por estas e por outras que esta espécie de país está como está. E ninguém faz nada? Não acham que já chega de mais de quarenta anos de bandalheira? Não será tempo de tomar uma atitude e devolver a Portugal o seu carisma, a sua identidade, o seu fulgor de outras eras?
As touradas vão continuar a ser sempre esta parvoíce, esta incompetência, este não faz sentido? Ninguém faz nada?
É preciso, com a máxima das urgências, explicar à IGAC que o senhor Tiago Tavares não pode continuar a dirigir corridas. A sua desatenção, a sua falta de conhecimento, a sua incompetência, são um perigo para a continuidade do espectáculo tauromáquico. O homem é uma simpatia, uma educação, mas não sabe o que anda a fazer. E para se sentar na cadeira em que se senta - e oxalá nunca se sente mais - é preciso, é urgente e necessário que saiba ver uma corrida de toiros. E o senhor não sabe.
Feitas as contas, a corrida de ontem no Campo Pequeno teve um ambiente enorme, esteve a praça quase cheia. Mas ficou pouca história para contar, para além do triunfo apoteótico de João Moura Caetano, absoluto e grande triunfador da noite.
Os toiros de Ribeiro Telles, de apresentação indiscutível, “deixaram-se andar” sem emocionar, sem transmitir grande coisa, permitindo alguns sucessos aos cavaleiros e dando algumas dificuldades aos forcados. Não foram demasiado “murubes”, mas também não foram grande espiga quanto ao que se chama toiros de verdade, dos que emocionam e pedem contas. Pediram-nas apenas qb
António Ribeiro Telles esteve ontem apenas regular. Depois dos triunfos tão sérios em Vila Franca e em Salvaterra, esperava-se mais. Bem sei que estes toiros não são os toiros do campeonato do grande António. Ele precisa de toiros que batam, que assustem e que emocionem. Andou meio irregular no seu primeiro e um pouco melhor no segundo, mas sem o fulgor costumeiro. 
Numa profissão como esta, tem que se estar bem, super bem, tem que se fazer a diferença. Não se pode estar apenas regular. Estar regular não é nada. E ontem, António esteve quase nada.
Pablo Hermoso de Mendoza deu o seu espectáculo de arte e de grande experiência nos dois toiros que lidou. O público aplaudiu e pediu mais. E Pablo correspondeu - sem galvanizar. Não esteve bem? Que ideia! Pablo está sempre bem - e esteve. Genial em todos os recortes, maestro em todos os lances, emotivo em todos os ferros. Teve música e deu aplaudidas voltas à arena.
O triunfo maior, ontem, coube a João Moura Caetano. Esteve enorme na lide do seu primeiro toiro, dando toda a prioridade ao oponente na cravagem de três compridos a aguentar barbaridades de praça a praça. Brilhante nos curtos, com o fantástico “Temperamento”, a bregar com arte, a citar e a cravar com verdade. Uma lide de elevado nível e mesmo assim, chegou ao fim e o director de corrida não lhe permitiu dar a volta. Verdadeiramente incrível. E assustador. Fora com este director de corrida!
No último toiro da corrida, Moura Caetano atingiu a perfeição a todos os títulos. Não há palavras para descrever uma lide tão fantástica, tão brilhante e tão acima de todas as médias.
Foi, talvez, a melhor actuação de Moura Caetano em Lisboa - e noutras praças - nos últimos anos. Pelo sentimento, pela arte, pelo temple que impôs em todos os momentos, sem uma falha, sem nada a apontar, apenas e só, com uma desenvoltura apoteótica e inigualável.
Merecia sair em ombros? Merecia isso e muito mais. Mas a Festa em Portugal está como está. E acreditem que com incidentes como os de ontem não vai durar muito tempo…
É preciso que se faça, depressa e em força, alguma coisa. Assim, com parvoíces destas - como a nega do senhor director de corrida na volta à arena de Caetano, contra tudo e contra todos, mas sem os protestos que se impunham, ou seja, comeram e calaram - podem ter a certeza que não vamos longe.
As pegas foram valentes. E rijas. Pelos Amadores de Lisboa foram caras Martim Lopes (muito bem, à primeira), Duarte Mira (pega vulgar, à primeira, mas mesmo assim deu volta e ainda foi ao centro, sem o cavaleiro, como se tivesse estado brilhante…) e João Varanda (grande pega, à segunda, brindada a Simão Malta).
Pelos de Coruche, pegaram Miguel Ribeiro Lopes (bem, à primeira), João Ferreira (boa pega, também ao primeiro intento) e no último toiro, complicado, foi cara António Tomás, à sexta, a dobrar Miguel Raposo, que saiu de maca.
A corrida não foi má, teve enorme ambiente e praça quase cheia. Mas a história da não concessão de volta a Caetano no terceiro da noite ensombrou a festa, deixou uma áurea de revolta no público (não se falava de outra coisa, noite dentro, nos copos que se beberam nos bares da praça até madrugada) e uma imagem degradante do que não é e devia ser o espectáculo tauromáquico. Infelizmente, hoje é uma espécie de brincadeira de mau gosto. Mas não temos que nos admirar. Num país que é campeão da corrupção e da vergonha, num país onde o futebol é uma cena de porrada, como é que os toiros haviam de andar bem?
Tenham cautela, senhores. Eu avisei - e aviso. Com senhores Tiagos Tavares, isto vai ao fundo num instante. E dizem-me agora que essa coisa chamada IGAC aprovou mais de quarenta candidaturas de novos directores de corrida. Valha-nos Deus, Nosso Senhor!
O que é que para aí virá?
O último a sair, faça a fineza de fechar a porta. Que isto não vai durar muito mais tempo… 

Fotos Emílio de Jesus e Maria Mil-Homens