A estocada, a saída em ombros e o momento de euforia em que Mário Coelho era aclamado pelo público, tendo a seu lado Mário Freire, que foi seu fiel e dedicado apoderado e bandarilheiro |
No dia da sua morte, recordamos a tarde histórica de 12 de Setembro de 1984, quando Mário Coelho matou na Moita o toiro "Corisco" de Ernesto de Castro
Cumprem-se 36 anos no próximo mês de Setembro. Era a tarde de 12 de Setembro de 1984, Feira da Moita, corrida à espanhola, com picadores, com o matador português Mário Coelho (ao tempo com 48 anos) e os espanhóis Pedro Gutiérrez Moya "Niño de la Capea" e Paco Ojeda, sendo os toiros da ganadaria de Ernesto de Castro.
Mário Coelho deu nessa tarde um estocada fulminante ao toiro "Corisco", que deixou a praça em delírio. Cortaram as orelhas e o rabo ao toiro e o diestro passeou-as numa apoteótica volta à arena aos ombros. O primeiro matador de toiros português Diamantino Vizeu assumiu então o lugar de director de corrida, depois de a autoridade ter abandonado a praça face ao acto do matador.
"Entusiasmado por uma corrida à espanhola, cujo curro apresenta toiros com cinco anos, naturalmente em pontas, picadores e ao lado de duas figuras máximas da tauromaquia espanhola e mundial, Mário decide acabar com a vida de 'Corisco', da ganadaria de Ernesto de Castro", recorda o jornalista e escritor António de Sousa Duarte no livro biográfico do matador vilafranquense ("Mário Coelho - Um Homem Inteiro", Âncora Editores), acrescentando:
"O caso culminou com Mário Coelho sentado no banco dos réus e um Ministério Público desesperado por lhe aplicar uma pena exemplar. Mas as suas alegações na sala de audiências e a narração, entusiástica e genuína, de um acto não premeditado mas simplesmente contagiado pela emoção e pelo apoio vibrante do público terão contribuído para uma sentença apesar de tudo tolerável e não extremada".
Os dois empresários promotores da corrida, Jorge Pereira dos Santos e Manuel Bento, foram condenados em multas de 65 contos cada, como aqui nos recorda um recorte do jornal "Diário Popular" da época.
À margem do sucedido, conta António de Sousa Duarte no livro, António Luis de Castro, filho do ganadeiro Ernesto de Castro e hoje responsável pela ganadaria Fernandes de Castro, "mantém ainda hoje a acusação a Mário Coelho por ter estoqueado um toiro que 'daria um possível semental', pois, sublinha, 'tratava-se de um toiro que tinha sido muito mimado para reproduzir e a prova disso é que deu uma lide de bandeira'. O ganadeiro queixa-se de que quando protestou nas trincheiras com o toureiro levou uma bofetada de David Medina, um matador mexicano que se encontrava na teia e que não perdoou a António Castro a tentetiva de perturbar a onda de entusiasmo gerada pelo golpe misericordioso do matador português".
Trinta e seis anos depois, Mário Coelho afirma, no livro, a Sousa Duarte ter "uma ideia muito vaga do sucedido" e enfatiza:
"A verdade é que aqueles momentos foram um êxtase indescritível e não me passa pela cabeça que perderia tempo com alguém que protestasse o que quer que fosse, não é?".
Mário Coelho viria a retirar-se das arenas seis anos depois da estocada na Moita, no ano de 1990, na praça de toiros do Campo Pequeno, onde seu filho, o também matador de toiros Mário Vizeu Coelho, lhe cortou a coleta.
Fotos Henrique de Carvalho Dias e D.R.