sexta-feira, 18 de setembro de 2020

A heróica e muito dura epopeia do Aposento da Moita ontem na comemoração dos seus 45 anos de glória

Miguel Alvarenga - A história (de glória e mil triunfos) do grupo de forcados Amadores do Aposento da Moita confunde-se com a história da "revolução" que em Abril de 1974 mergulhou o país no caos... a que eles chamam "democracia".

Decorria o atribulado "Verão Quente" de 1975 quando a "revolucionarite aguda" atacou o seio do então consagrado grupo de forcados Amadores da Moita, um mal contraído ao tempo por muita gente e que acabou por ser "curado" com os anos e é hoje uma situação completamente ultrapassada. 

Inconformado com a situação, português de gema e valente como as casas, o forcado José Manuel Pires da Costa decide na altura abandonar o grupo - e atrás deles vai um punhado de valentes que também não aceitava a "nova cor" política do seu antigo agrupamento - e formar outro, o Aposento da Moita, que se estreia na praça "Daniel do Nascimento" a 25 de Maio desse conturbado ano de 1975.

Pires da Costa solidificou e consagrou um grupo que viria ao longo dos anos a conquistar o estatuto de um dos melhores do país, passando por várias fases e que teve como cabos, depois dele, Manuel Vieira Duque, João Simões, Hélder Queiroz, Tiago Ribeiro, José Pedro Pires da Costa (filho do cabo fundador), José Maria Bettencourt e actualmente Leonardo Mathias.

Ontem estiveram fardados os antigos cabos Hélder Queiroz, Tiago Ribeiro (que brilhou, como sempre, a rabejar vários toiros) e José Pedro Pires da Costa. E à paisana estavam também José Manuel Pires da Costa,  Manuel Duque e João Simões - aos quais o actual cabo Leonardo Mathias brindou a primeira pega da noite.

Em 45 anos de existência, por obra e graça dos grandes forcados que por lá passaram, o Aposento da Moita marcou a história da forcadagem e escreveu muitas páginas a letras de ouro. Ontem, na sua praça, celebrou precisamente o seu 45º aniversário. Numa noite duríssima, frente a toiros da ganadaria Mata-o-Demo que não queriam à viva força ser pegados e os obrigaram a um total de 17 tentativas - heróicas - para pegar os seis, só com uma à primeira, enorme, do já retirado Fernando Parente.

Com força, a derrotar com violência e "a levar tudo à frente", como comboios de alta cilindrada, os Mata-o-Demo não permitiram aos valentes forcados - entre os quais muitos "antigos" que regressaram por uma noite - a festa de triunfo sonhada. Mas nem por isso o Aposento da Moita manchou os seus pergaminhos de tanta glória. E felizmente, para lá de algumas mazelas, não houve acidentes graves - que poderiam ter acontecido.

Ficam aqui as emotivas sequências de uma noite de muito trabalho, sem a vida facilitada, antes pelo contrário, mas sem perder a dignidade e a decidida valentia com que todos os forcados estiveram na cara dos toiros.

Parabéns, Aposento da Moita!

Fotos M. Alvarenga

José Manuel Pires da Costa, o cabo fundador
O cabo Leonardo Mathias e os antigos cabos Hélder Queiroz,
Tiago Ribeiro e José Pedro Pires da Costa
Eternas glórias do grupo nas cortesias















O cabo Leonardo Mathias foi quatro vezes à cara do primeiro
toiro, estando sempre bem a aguentar a investida, a recuar
e a fechar-se. Mas os violentos derrotes falaram sempre mais
alto. Não foi fácil - mas foi uma pega de valentia. Na primeira
tentativa, sofreu aparatosa colhida o antigo cabo Tiago
Ribeiro, como o documentam algumas das primeiras fotos







Luis Fera, um ícone do Aposento da Moita, fardou-se de novo
e enfrentou com a raça e a técnica de sempre o segundo toiro
da noite, depois de brindar a Nuno "Mata". Sofreu um brutal
derrote na primeira tentativa e consumou à segunda. Ainda
e sempre, um grande Forcado!



















Forcado experiente e de méritos consagrados, João Ventura
aguentou estoicamente violentíssimos derrotes nas três
primeiras tentativas para pegar o terceiro toiro, sem nunca
virar a cara. À quarta foi de vez, já com as ajudas bem em
cima. Neste e noutros toiros destacou-se a rabejar o antigo
cabo Tiago Ribeiro (fotos de cima), a quem o público da
Moita tributou 
ontem estrondosas ovações





Lá diz o povo que quem sabe jamais esquece e quem é rei
nunca perde a majestade - e foi isso mesmo que nos disse
ontem o grande Fernando Parente, forcado retirado, que
fez ao quarto toiro da corrida a grande pega da noite, única
consumada ao primeiro intento











Forcado poderoso, de apurada técnica e enorme valentia,
Martim Cosme Lopes foi o quinto cara da noite. Pega enorme,
tudo em pé a aplaudir, mas que acabou desfeita por um
violentíssimo derrote já junto às tábuas. Saíu visivelmente
diminuído e em mangas de camisa. No derrote, o toiro
despiu-lhe a jaqueta. Recompôs-se e voltou que nem um 
herói à cara do toiro, consumando a pega à segunda com
intervenção fantástica do primeiro ajuda, que o acompanhou
depois na ida à praça, bem como os campinos, ontem 
merecedores dessa honraria











Manso, o novilho-toiro lidado em último lugar pelo cavaleiro
praticante Tristão R. Telles, tinha "gatos na barriga", força
desmedida e derrotava com violência. Fábio Matos pegou-o
à quarta, depois de ter tido, ele e o grupo, uma valente
carga de trabalho nas três primeiras tentativas