terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

Enrique Fraga rende, desde o México, sentida e emotiva homenagem a Simão Comenda

A foto de Simão Comenda publicada hoje por Enrique
Fraga na página da sua ganadaria no Facebook,
expressando os sentimentos à Família

Miguel Alvarenga - "Precisava de falar com Portugal, precisava de desabafar contigo, meu querido amigo. Estou tão triste como vocês todos estão. Queria escrever qualquer coisa e não consigo...".

O meu telemóvel tocou há momentos. Do outro lado do mundo, desde o México, com a voz embargada pela emoção, falou Enrique Fraga (comigo na foto de baixo), antigo matador de toiros, antigo rejoneador, hoje respeitado ganadero, mas acima de tudo, um grande amigo de Portugal e de todos nós. Foi aqui, na velha Escola de Coruche dos irmãos Badajoz, que o Enrique deu os primeiros passos na arte de tourear a pé.

"Estou tão triste como vocês estão hoje. Vou sentir falta das conversas com Simão Comenda, do bom taurino que era e do melhor amigo que foi. O mundo perdeu-o, o céu ganhou-o. Que Deus console a sua Família", começou por me dizer.

"Quando aqui chegou ao México, em 1970, como hoje escreveste, nesse grupo comandado por Simão Malta, nós, mexicanos, não sabíamos o que eram os Forcados. E o Simão conquistou-nos a todos pela sua delicadeza, pelo grande ser humano que era, pelo forcado enorme que foi. Lembro uma corrida em Monterrey, onde um matador de toiros sofreu uma cornada brutal e o Simão o salvou, saltando à arena a corpo limpo e fazendo uma coisa que nunca tínhamos visto, rabejou o toiro e virou-o de patas arriba. O público explodiu numa ovação estrondosa, nunca tinham visto nada igual, as pessoas gritavam que estava ali um Super-Homem! Nessa noite jantámos com Pedro Louceiro e lembro-me dele dizer que há muitos anos não sentia tanto orgulho de ser português como naquela tarde, com esse feito do Simão Comenda!", recordou Enrique Fraga. E acrescentou:

"Nesse tempo eu era um rapazinho que me iniciava como novilheiro e os Forcados 'adoptaram-me' como um filho. Andava sempre com eles e normalmente era eu quem matava o toiro que eles tinham pegado. Aprendi com os Forcados e aprendi sobretudo com Simão Comenda essa forma distinta de encarar a vida, com honestidade, com verdade, sem mentiras, com amizade pelo próximo. Jamais o esquecerei. E precisava de desabafar contigo, precisava de falar com Portugal. Que Deus o receba em paz e que Deus console a sua Família, a quem abraço e apresento, desde o México, as mais sentidas condolências. Como escreveste hoje, Miguel, Homens como Simão Comenda não morrem!".

Fotos D.R.