Miguel Alvarenga - A publicação, ontem ao final da tarde, do Decreto-Lei 7/2021, que ainda não contempla a partir desta segunda-feira a reabertura das praças, locais e instalações tauromáquicas, deixou o sector em estado de choque - mas era uma situação esperada e não passa de uma tempestade num copo de água.
Primeiro ponto: se lerem o "Farpas" para trás, confirmarão que, ao contrário de outros "mais optimistas", deixámos aqui sempre muitas reticências quanto à reabertura da actividade tauromáquica a partir de 19 de Abril, amanhã, dia em que reabrirão algumas actividades culturais, nomeadamente os cinemas e os teatros, entre outras. Afirmámos sempre aqui, por termos informações fidedignas, que antes de Maio seria difícil acreditar que as corridas recomeçassem.
Mesmo assim e ao contrário do que aconteceu no ano passado, em que todas as empresas se retraíram e cancelaram as datas que tinham anunciado, à excepção de Luis Miguel Pombeiro, que foi, honra lhe seja feita, o único que deu o passo em frente e reabriu o sector a nível mundial em Julho em Estremoz (fotos), desta vez vários empresários apressaram-se a anunciar corridas, ainda "no escuro" e sem certezas de que o Governo "abriria as portas" às praças de toiros já em Abril...
Segundo ponto: ao contrário, também, do que aconteceu no ano passado, até ao dia de hoje e ao que sei, o sector tauromáquico não apresentou ainda às autoridades governamentais e sanitárias um Plano de Contigência para a reabertura do sector. Em 2020, esse plano foi redigido por Pombeiro, se bem se lembram, apresentado a tempo e horas e devidamente apreciado pelo Governo e pela DGS e o IGAC, o que permitiu, com algumas arestas limadas, reabrir as praças de toiros. Este ano nada disso foi ainda feito...
Terceiro ponto: posso aqui assegurar, também de fonte fidedigna, que não existe nenhuma "má vontade" por parte do Governo em reabrir as praças de toiros. Até poderia haver, era legítimo e compreensível, alguma irritação do primeiro-ministro António Costa, depois do tristemente célebre episódio do cartaz da PróToiro (lembram-se?), mas não há. Há, isso sim, prudência. Bem necessária.
Há um ano, havia cerca de 800 mortos por covid-19. Hoje há mais de 17 mil. E muitas pessoas não entenderam ainda que a pandemia é um caso sério. Grave. E perigoso.
O Estoril Open (Ténis), que vai decorrer entre 24 de Abril e 2 de Maio, não terá público a assistir. E trata-se de um evento onde as pessoas estão quietas, nos seus lugares, apenas mexendo a cabeça... acompanhando o trajecto da bola de um lado para o outro...
António Costa anunciou que o desconfinamento ia decorrer "a conta gotas" e com todas as cautelas. Outra coisa não era de esperar.
Os responsáveis pelo sector tauromáquico entraram em estado de choque quando leram ontem o Decreto-Lei que ainda não contempla a reabertura da actividade. Mas a verdade é que a situação era esperada - e não significa, de modo algum e como adiante se verá, que as praças não vão abrir ou que exista, como no ano passado diziam, uma discriminação por parte do Governo em relação aos toiros e aos toureiros.
Em finais de Maio, já o disse o primeiro-ministro, espera-se que estejam vacinados a maioria dos cidadãos com mais de 60 anos. Por isso, nem acredito muito que as corridas recomecem antes do mês de Junho. Mas a situação não é alarmante. Vamos ter toiros em 2021. Há um ano, fizeram-se manifestações e actos de protesto contra o que diziam ser uma discriminação do Governo em relação aos toiros. Depois as corridas iniciaram-se e acabaram por ser das poucas manifestações culturais que mantiveram actividade no ano primeiro da pandemia. Já se esqueceram disso?
Alguns empresários apressaram-se este ano a anunciar corridas atrás de corridas. Ao contrário do ano passado, Pombeiro foi desta vez o mais calmo. E mais prudente. Provavelmente por ser o que está melhor informado. Disse sempre que só anunciaria os seus cartéis quando houvesse luz verde do Governo para a actividade recomeçar. Outros adiantaram-se e anunciaram corridas e mais corridas, datas e mais datas. Mesmo sem ter a certeza que as poderiam dar. E em condições pouco propícias à realização das mesmas...
Por exemplo: para o próximo sábado estava agendado um festival taurino em Reguengos às 10h30. Provavelmente nem se realizaria, por estar ali mesmo ao lado de Moura, um dos concelhos ainda mais afectados pela pandemia e que continua confinado. Mas mesmo que se realizasse, qual era a graça de ir ver uma tourada às dez e meia da manhã, se depois, quando terminasse, já tudo estava fechado e não havia sequer um lugar onde comer uma simples sandes? Voltávamos todos para casa cheios de fome e almoçávamos às três ou quarto da tarde quando chegássemos aos nossos poisos? Há que ter em conta que ir a uma tourada tem toda uma entourage à volta (o copo, o almocinho, o jantar...) que aí não existiria.
Não deixo de aplaudir a empresa Toiros & Tauromaquia pela iniciativa de anunciar esse festival, não confundam. Se fosse preciso realizar as corridas de manhã, que assim fosse. Mais vale de manhã (e sem almoço...) do que não as haver. Mas...
Entende-se a ansiedade de toiros. E eu próprio a tenho. Temos todos. Mas há que ser uma ansiedade comedida. E responsável.
Vivemos tempos muito complicados. A variante inglesa, dizem os especialistas, é muito mais contagiosa e muito mais perigosa. Por isso temos que nos precaver. Haverá tempo para irmos este ano aos toiros. Mas aguentem pelas vacinas. Tenham calma. E não entrem em histeria. Vai haver toiros em 2021!
Fotos M. Alvarenga