sábado, 9 de outubro de 2021

Morreu "Gonzalito", o moço de espadas de Curro Romero que descobriu e lançou Vitor Mendes na alta roda do toureio mundial

Miguel Alvarenga - Conheci bem "Gonzalito", Gonzalo Sánchez Conde, tal como muitos outros portugueses o conheceram e com ele privaram, nos tempos em que apoderava o Maestro Vitor Mendes e o acompanhava sempre que toureava em Portugal. Era uma figura simpática, um taurino incrível, um homem inquieto, sempre a girar de um lado para o outro. Encontrámo-nos depois várias vezes em Madrid, no Hotel Rainha Victória, que era o hotel dos toureiros e onde ele chegou mesmo a viver antes de comprar a casa ali mesmo defronte, nessa emblemática e tão movimentada Plaza de Santa Ana - onde esta manhã sua filha o encontrou já sem vida. Tinha 90 anos.

Simpático, afável, conversador, sempre o admirei como grande taurino que era. E tinha graça. Fazia-me lembrar o actor italiano Totó.

"Gonzalito" era andaluz, nascido em Gibraleón (Huelva), os toiros e o flamenco eram os seus dois grandes amores. Nos anos 50 alternou com os maiores da época no escalafón de novilheiros. Mas foi ao lado do Maestro Curro Romero, de que foi moço de espadas a partir dos anos 60 e ao longo de trinta temporadas, que se tornou uma figura mediática e querida no meio taurino mundial. Esteve ao lado de Curro Romero de 1967 até 1999, quando este anunciou a sua retirada das arenas.

As suas grandes ligações ao nosso país e as muitas amizades que aqui granjeou ficaram a dever-se ao facto de ter sido ele quem lançou Vitor Mendes na alta roda do toureio mundial. Foi "Gonzalito" quem um dia descobriu Vitor Mendes em Vila Franca e o levou para Espanha (nesse tempo, com a ajuda e o apoio do inesquecível Ludovino Bacatum) - mais concretamente para Pañoleta, Camas, Sevilha, terra do "Faraó" Curro Romero -, lançando-o como novilheiro, levando-o à alternativa, co-apoderando o toureiro português com o famoso Teodoro Matilla.

Em Maio de 1977, na célebre corrida de morte na "Palha Blanco", Vitor Mendes integrava, como bandarilheiro, a quadrilha do matador venezuelano "Rayito da Venezuela", que "Gonzalito" acompanhava ao tempo.

"Ao ver-me bandarilhar e tourear de capote, convidou-me a ir para a Espanha" - recordou Vitor Mendes em várias ocasiões em entrevistas que deu.

"Gonzalito" começara por ser moço de espadas do matador Manolo Carra e foi depois António Márquez, que muitos conheciam como o "Belmonte Rubio", quem o levou para a quadrilha de Curro Romero.

Depois de se reformar como moço de espadas, continuou a ajudar e a apoiar inúmeros toureiros, desde Manuel Jesús "El Cid", Julián Guerra, António Barrera, Francisco José Palazón (sobrinho neto de Curro Romero) e, nos últimos meses acompanhava o recém-alternativado Francisco de Manuel, que é apoderado pelo seu amigo de sempre José Maguilla "El Gallo de Morón". Chegou também, por um curto período de tempo, a apoderar em Espanha o matador luso Luis Vital "Procura".

Em 2008, recebeu a última grande homenagem por parte do Círculo Amigos da Dinastia Bienvenida, "um justo reconhecimento aos seus méritos alcançados na sua dilatada e relevante trajectória profissional no mundo dos toiros e como pessoa benemérita adornada de virtudes e qualidades humanas excepcionais".

Que em paz descanse.

Fotos D.R.

"Gonzalito": 30 anos ao lado de Curro Romero

Em 2008, a última homenagem do Círculo Amigos da Dinastia
Bienvenida
Com Luis Francisco "Esplá"
Uma das últimas fotos. Na Monumental de Madrid