José Samuel Pereira Lupi nasceu em Lisboa a 5 de Maio de 1931 e viveu a sua infância na Herdade de Rio Frio, onde desde muito novo se familiarizou com aspectos da vida rural e da Festa Brava que haveriam de marcar para sempre a sua vida. Licenciou-se em Engenharia de Sivicultura no Instituto Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa no ano de 1954.
Em 1955 fixa-se na Herdade da Barroca D'Alva e inicia uma séria de iniciativas e acções com vista ao desenvolvimento do concelho. Foi presidente do então Grémio da Lavoura, da Casa do Povo de Alcochete e da Assembleia-Geral do Aposento do Barrete Verde de Alcochete, bem como presidente da Direcção da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Alcochete.
José Samuel Lupi estreou-se em público com apenas 17 anos, no ano de 1947, na praça de toiros "Palha Blanco" de Vila Franca de Xira, depois de aprender a arte do toureio equestre e as regras da equitação com Mestre João Branco Núncio e D. Francisco de Mascarenhas.
Na segunda metade da década de 50 e quando dava já os primeiros passos como cavaleiro amador, integrou o grupo de forcados Amadores de Santarém, juntamente com muitos daqueles que eram os seus grandes amigos de infância, entre os quais António José Teixeira, os irmãos Vasco e Fernando Fernandes, António Alcobia e António e José Torres Vaz Freire.
Ao mesmo tempo que prosseguia os estudos, iniciava o seu percurso como cavaleiro tauromáquico, tendo debutado na praça do Campo Pequeno em 1955. E foi nesse mesmo emblemático cenário que tomou a alternativa na noite de 6 de Junho de 1963, na inauguração das corridas nocturnas dessa temporada e naquela que se anunciava como a noite de consagração de Mestre João Núncio - que lhe concedeu o doutoramento, com o testemunho de Manuel Conde e David Ribeiro Telles e dos grupos de forcados de Santarém e Montemor. O toiro da alternativa chamava-se "Verdugo" e pertencia à ganadaria de D. Diogo Passanha.
A 12 de Outubro do mesmo ano estreou-se na Monumental de Madrid na Feira de Outubro e depois de muito actuar no país vizinho, no ano de 1970 fundou o célebre Quarteto da Apoteose com Álvaro Domecq e os irmãos Ángel e Rafael Peralta, recuperando a importância que perdera o toureio a cavalo (rejoneio) com a popularidade do toureio a pé, acabando com aquilo a que se denominava o "número do caballito" (um rejoneador a actuar em corridas de matadores, abrindo praça) e impondo as corridas de rejoneio como cartel principal em todas as feiras de Espanha, lado-a-lado com as corridas de matadores.
O Quarteto da Apoteose correu mundo actuando em todas as grandes praças de Espanha e também em França e na América Latina, nomeadamente na Venezuela (onde José Lupi viveu alguns anos depois da revolução do 25 de Abril) e na Colômbia.
No ano de 1971, José Samuel Lupi, integrado no Quarteto da Apoteose, somou 108 corridas de toiros em Espanha tendo cortado 302 orelhas e 73 rabos - um recorde que ficou na História.
O saudoso Jacinto Alcón foi o seu histórico apoderado durante toda a sua carreira em Espanha.
O seu cavalo mais célebre e que lhe proporcionou os maiores triunfos foi o "Sueste", com ferro Atalaya, um verdadeiro mito na história dos cavalos de toureio e que teve uma longevidade para lá do normal, já que viveu até aos 36 anos. Outros cavalos históricos que integraram a sua quadra ao longo da sua gloriosa trajectória foram o "Ultimatum", também de ferro Atalaya, o "Goldfinger" com ferro Conde Cabral, o "Feroz" com fero Gama, o "Ibail" com ferro Rio Frio e o "Cordobés" com ferro Lico, entre muitos outros.
A par da sua actividade como toureiro, José Lupi foi ainda destacado coudeleiro e também um ganadeiro de nomeada. Herdou de seu pai a ganadaria Rio Frio (de origem Pinto Barreiros) e em meados dos anos 60 fundou a sua própria ganadaria, com o seu nome, de encaste Urquijo e origem Fermín Bohórquez.
Em Março de 2001 foi distinguido em Madrid com o honroso prémio "Gabana 1800 - Siglo XX del Toreo", galardão atribuído às figuras do toureio mais importantes dos anos 60 e 70 do século passado.
A 8 de Maio de 2008 voltou a vestir a casaca para conceder no Campo Pequeno a alternativa a seu filho Manuel Lupi, um acto que foi testemunhado pelos seus companheiros do Quarteto, Álvarito Domecq e os irmãos Peralta - que em 2011, última vez em que se vestiu de toureiro, o voltariam a acompanhar numa grande homenagem que lhe foi prestada em Alcochete, onde para sempre ficou perpetuada a sua figura com um busto num dos principais largos da vila ribeirinha.
No ano de 2016, a Administração da empresa do Campo Pequeno, então presidida pela Drª Paula Mattamouros Resende, com Rui Bento a dirigir o Departamento de Tauromaquia, outorgou-lhe o prestigiado Galardão Prestígio, que lhe foi entregue a 13 de Outubro do ano seguinte, na corrida de gala que encerrou esse ano a temporada lisboeta.
Fotos Emílio de Jesus e D.R.
 |
| Uma das últimas fotos, em sua casa, em família, com os bisnetos, publicada na última semana na rede social Facebook |
