segunda-feira, 23 de maio de 2022

José Pedro Suissas: novo cabo dos Amadores do Montijo apoiado pelas antigas glórias na temporada da renovação

José Pedro Suissas no sábado em Setúbal na tertúlia de Francisco
Costa e, em baixo, numa histórica pega em 2018 na Monumental
do Montijo

Miguel Alvarenga - José Pedro Suissas tem 24 anos e é o novo cabo do grupo de forcados Amadores do Montijo, uma formação com prestígio e muita história e que dentro de dois anos celebra o 60º aniversário da sua fundação (em 1964, sendo primeiro cabo José Jacinto Carvalheira).

José Pedro é o 13º cabo dos Amadores do Montijo e sucedeu no final da temporada passada a Ricardo Figueiredo, que o comandava desde 2003. Iniciou-se nos treinos com apenas 15 anos de idade e pegou o seu primeiro toiro, defendendo a jaqueta do grupo que agora comanda, na desactivada praça da Póvoa de Varzim, quando acabara de completar 16 anos.


“Sempre me dediquei muito ao Grupo do Montijo e por isso fiquei muito satisfeito quando no ano passado o antigo cabo e todos os elementos me elegeram a mim para ser o novo cabo”, afirma, frisando:

 

“Estou consciente da enorme responsabilidade deste desafio que aceitei e o meu objectivo agora é levar o grupo para a frente e defender e consolidar o seu nome entre os primeiros”.


“Vou tentar e vou conseguir”, diz, com convicção.


“Temos no grupo muita matéria nova para conseguir andar para a frente. Já tivemos alguns treinos, o último dos quais nos foi proporcionado no seu tentadero pelo Maestro António Ribeiro Telles, há muitos jovens com valor e que estão agora a rodar, tenho no grupo vários rapazes que são filhos e até netos de antigos elementos do grupo”, afirma José Pedro Suissas, considerando que “neste momento vamos dar início a uma fase de renovação”.


“Estamos a renovar o grupo e a crescer para o futuro. A meta e o primeiro objectivo é recuperar todo o historial deste grupo que já foi dos primeiros do país e em 1970 foi galardoado com o Prémio de Imprensa, que era nesse tempo um dos principais troféus que existiam no país. Este será o meu primeiro ano como cabo, vamos rodar os novos forcados e preparar o grupo para em 2024 celebrar o seu 60º aniversário”, acrescenta.


A primeira corrida da temporada será no próximo dia 2 de Julho, a tradicional de São Pedro na Monumental do Montijo. Depois, outras virão, mas José Pedro Suissas não pretende fazer muitas corridas nesta primeira temporada como cabo e explica porquê:


“Há já alguns contactos para ir a outras praças, mas certas não tenho ainda muitas corridas, nem pretendo este ano fazer um número muito grande. Sei que as coisas não estão fáceis, há hoje muitos grupos a pegar, mas além disso vamos iniciar, como disse, uma fase de renovação total no grupo e o grande objectivo é rodar os novos forcados nesta e na próxima temporada por forma a que tenhamos de novo um grande grupo dentro de dois anos para então comemorarmos com toda a dignidade que se impõe o nosso 60º aniversário”.


Glórias do GFA do Montijo a apoiar o novo cabo. Da esquerda 
para a direita: Mário Pereira, Francisco Costa, José Pedro Suissas,
António Sécio e Ernesto Fernandes


A minha conversa com José Pedro Suissas teve lugar no último sábado durante um almoço em Setúbal em casa de Francisco Costa Montezo, que foi uma das grandes glórias dos Amadores do Montijo e depois comandou o grupo de Amadores Lusitanos - e que está agora, com outros antigos elementos do GFA do Montijo, a apoiar esta nova fase do grupo liderada pelo novo cabo.

Neste encontro marcaram também presença mais três glórias dos Amadores do Montijo: Ernesto Fernandes, membro da fundação do grupo, o antigo e emblemático cabo António Sécio e Mário Pereira, o mais novo dos quatro, já afastado das arenas também, mas que nunca se retirou oficialmente. “Aprendi com o saudoso José Luis Figueiredo que um forcado nunca se retira, é forcado até ao fim da vida”, diz-me o Mário.


Estes quatro antigos forcados, juntamente com outros que não puderam no sábado comparecer ao almoço, constituem agora o “núcleo duro” de antigas glórias que estão a dar todo o apoio ao novo cabo José Pedro Suissas nesta decisiva fase de renovação do grupo - que todos eles continuam a sentir na alma e no coração.


“O grupo não é só os elementos actuais, tenho que contar também com os forcados antigos e com os acompanhantes do grupo, que são muitos, é com eles todos que vou contar para renovar o Grupo do Montijo”, afirma José Pedro, salientando “a importância de os ter a meu lado e de com eles poder aconselhar-me e aprender com as suas vivências e com a sua muita experiência”.


Quando lhe perguntei se considera que hoje existem grupos de forcados a mais, José Pedro Suissas nem pestanejou: “Há, claro que há. Ou há grupos a mais ou então há menos corridas do que as havia antes, mas não há corridas para tantos grupos, isso é uma realidade”.


Embora esse prémio hoje já não exista, mas pela importância e pelo significado que ele teve na história do GFA do Montijo, simbolicamente, será que vamos ter o grupo a ganhar de novo o Prémio de Imprensa?


“Espero bem que sim! Gostava muito que isso acontecesse!”, respondeu o novo cabo, falando depois das suas expectativas para a temporada:


“Sinceramente não estou à espera de uma grande temporada, no que respeita ao número de corridas. É a minha primeira como cabo e estou em fase de renovar o grupo, como disse anteriormente, mas tenho uma boa expectativa, tenho elementos com raça e com valentia e acho que vai ser uma boa temporada, mas com poucas corridas”.


Perguntei-lhe, para terminar a nossa conversa, o que significa para ele ser forcado:


“É uma coisa inexplicável! É um conjunto de sensações, de ética e de moral que nem todos conseguem ter. É ter humildade para saber ouvir, para crescer, para saber aprender. Não é para qualquer um, mas é uma maneira muito especial de estar na vida e de a encarar com um profundo sentido de amizade e de solidariedade, um por todos, todos por um!”.



Ouvi depois os antigos forcados (a meu lado na foto de cima) e comecei precisamente por perguntar ao antigo cabo António Sécio que expectativas tem para esta nova fase da vida de um grupo que lhe diz tanto:

“Diz-me mesmo muito! São muitos anos, eu estou ligado ao grupo desde 1965, passei pelas fases todas, fases grandes, fases menos boas, mas em que, no fundo, o grupo seguiu sempre em frente. E é de louvar que estejamos próximo de cumprir 60 anos e possamos dizer que durante todos este anos nunca interrompemos as nossas actuações, a nossa actividade. Somos um grupo formado em 1964 e que nunca esteve parado ano nenhum. Eu acho que isto é um facto importante. Infelizmente, muitos grupos interrompem a sua carreira, depois continuam a chamar a sua antiguidade à data da formação, coisa com que não estou de acordo, mas a ANGF não tem feito nada nesse sentido, no sentido de clarificar essas situações menos claras. Mas, seguindo em frente e em relação a este novo período que o GFA do Montijo vai agora iniciar sob a chefia do José Pedro Suissas, eu espero muito dele, é um elemento novo, com muita vontade, com sonhos como os que eu também já tive quando me iniciei no grupo e procurei sempre fazer tudo o que me era possível, e às vezes até o que era impossível. Portanto, o grupo faz parte necessariamente da minha vida, da minha história, da minha tradição e o que eu desejo é poder contribuir para que o José Pedro continue essa tradição e que leve o grupo onde nós queremos e onde nós sonhamos, com bons elementos, com certa humildade, dentro da ética que sempre tivemos, sempre com galhardia e com vontade de se afirmar nas praças”.


E, do alto da autoridade que lhe confere todo o seu enorme historial como forcado, acrescenta Sécio:


"Os tempos que vivemos são outros. Considero que há hoje uma enorme falta de respeito pelo Forcado Amador e, lamentavelmente, isso parte dos próprios empresários que temos actualmente e que são, quase todos, antigos forcados, o que é inconcebível. Olhe, antigamente, não havia corrida em que nos programas não viesse a total composição de cada grupo, com os nomes de todos os forcados. Essa tradição perdeu-se por completo e é pena. Tenho que dar os meu parabéns ao José Luis Gomes, agora empresário da praça da Chamusca, que no cartaz da corrida do próximo dia 26 colocou os nomes de todos os elementos dos dois grupos que vão pegar, como se fazia antigamente. Mas isso é raríssimo acontecer hoje em dia e é lamentável, às vezes põe só o grupo nos programas e nem o nome do cabo vem... Olhe, por exemplo, vi um cartaz da corrida do próximo dia 2 de Julho no Montijo em que o nome do novo cabo do nosso grupo vem completamente errado: João Pedro Suiças... e ele chama-se José Pedro Suissas! Acho que com isto digo tudo: hoje não se respeita o Forcado!".


E depois deste importante depoimento de um antigo elemento e ex-cabo do grupo que continua a ser uma referência eterna e respeitada nos Amadores do Montijo e no seio da forcadagem nacional, dei a palavra a Mário Pereira, dos quatro presentes o mais novo, começando precisamente por lhe perguntar se ainda o vamos ver fardado de novo nas arenas:


“O meu forcado de elite foi o José Luis Figueiredo, foi quem me ensinou a pegar toiros, que sempre disse que os grande forcados nunca fazem despedidas, apenas se retiram das arenas. Gostava de me voltar a fardar na corrida dos 60 anos do grupo, em 2024, mas apenas nessa”.


E, sobre esta fase de renovação, afirma:


“Espero que o José Pedro leve o grupo a bom porto, ele lidera agora um grupo com muita história, espero que o grupo vá por diante. E depois das palavras sábias de Mestre António Sécio, penso que ficou tudo dito e que não preciso de acrescentar mais nada. Estou aqui para dar todo o meu apoio ao novo cabo”.


A palavra agora a Ernesto Fernandes, elemento da formação do grupo:


“Sou fundador do GFA do Montijo com muito orgulho e faço votos para que este novo cabo José Pedro tenha os êxitos que eu e todos nós tivemos naqueles primeiros tempos”.


E, sobre os inícios do grupo, recordou com alguma emoção:


“Eu peguei durante seis anos, integrei a primeira formação do grupo em 1964, foi nosso primeiro cabo o José Jacinto Carvalheira, que graças a Deus ainda está vivo, reside na Bélgica, mas afastou-se por completo do meio taurino. Sempre tentei ajudar o grupo conforme sabia e como fui ensinado pelos meus grandes amigos Carlos Gato e Júlio Nepomuceno, que estavam ligados ao Grupo de Santarém, mas eram uma espécie de mentores do Grupo do Montijo, nessa altura havia uma grande ligação entre os dois grupos. E agora aqui estou de novo para apoiar o novo cabo e lhe dar toda a força e toda a colaboração. Até que a voz me doa, como canta a Maria da Fé!”.



Por fim, ouvi Francisco Costa Montezo, que no meio taurino todos conhecem por Xico Moura (por ser natural da vila alentejana de Moura) ou por Xico Costa, que foi uma das grandes glórias do GFA do Montijo e posteriormente elemento e cabo dos desaparecidos Amadores Lusitanos, sendo também um grande nome de referência no seio dos Fuzileiros Especiais:

“Estou aqui também para prestar toda a colaboração e apoio ao novo cabo José Pedro Suissas, que é já um grande forcado e isso, como sabem, é meio caminho andado para poder exercer a missão de comandar o grupo. O Grupo do Montijo foi no passado um dos grandes grupos deste país, passou depois por fases menos boas, mas reconheço neste jovem valor e vontade para conseguir dar a volta e recolocar o nosso grupo na primeira fila. Tem muita rapaziada nova, que obviamente vai precisar de rodar e de se consolidar, o grupo vai atravessar agora uma fase de renovação e acredito que em 2024 esteja outra vez em alta para celebrar, como todos desejamos, o nosso 60º aniversário”.


Fotos M. Alvarenga e Emílio de Jesus/Arquivo