segunda-feira, 16 de maio de 2022

O futuro temos que ser nós a traçá-lo, não podemos deixar distorcer o Campo Pequeno

Miguel Alvarenga - A realização de apenas quatro corridas de toiros em Lisboa nesta temporada de 2022 tem criado justificado alvoroço no meio tauromáquico e, diga-se em abono da verdade, não é um prenúncio nada positivo para o futuro (tauromáquico) da primeira praça de toiros do país e uma das principais do mundo.

A praça de toiros do Campo Pequeno foi inaugurada há 130 anos, como o próprio nome indica, para ser palco de corridas de toiros. Hoje, fruto da grande remodelação que levou (a reinauguração foi há 16 anos) e fruto, agora, da nova empresa que a administra, tornou-se um centro de lazer e uma sala de muitos outros espectáculos, concertos sobretudo, e... quase nenhumas corridas de toiros. É revoltante e é, acima de tudo, altamente preocupante. Mas os taurinos limitam-se a encolher os ombros e a acatar as ordens superiores que ditaram esta mudança. Se é assim, é assim, paciência. Mas não deve ser.

Luis Miguel Pombeiro, líder da empresa Ovação e Palmas, foi o empresário eleito pela nova administração do Campo Pequeno para em 2020, ano primeiro da pandemia, ali começar a organizar as corridas - seis nas duas últimas temporadas -, depois de um reinado de grande esplendor liderado por Rui Bento, primeiro com a Família Borges como empresários da praça, depois e devido ao processo de insolvência, com a Drª Paula Resende.

Este ano e fruto da necessidade de realizar todos os concertos que estiveram anunciados para 2020 e 2021 e não se realizaram devido à pandemia, mais os que estavam agendados para 2022, a nova empresa cedeu a Pombeiro, já tarde e a más horas, apenas quatro datas - que o empresário confirmou finalmente na última semana - 21 de Julho, 4 e 18 de Agosto e 8 de Setembro - depois de um quase desesperante compasso de espera em que nada era carne nem peixe e se chegou a temer pelo fim das corridas de toiros em Lisboa. Os taurinos continuaram caladinhos que nem ratos, não se ouviu um único grito de protesto...

Luis Miguel Pombeiro bem apela à importância que tem os aficionados marcarem presença este ano em força no Campo Pequeno, seja o cartel que for (serão os possíveis, numa altura do campeonato em que os grandes elencos já passaram e vão continuar a passar pelas outras praças), para que "o poder não caia na rua" e de quatro passem a duas corridas por ano, e depois a uma e depois a nenhuma.

Não queria estar na pela do meu amigo Pombeiro. Quatro corridas apenas, tinham que ser quatro acontecimentos "de estrondo". Vão ser?

O empresário anunciou na última semana os primeiros nomes que estão contratados. Na primeira corrida (21 de Julho), já se sabe que toureiam António Telles e seu filho António, João Salgueiro e seu filho João e os irmãos António e Joaquim Brito Paes (que toma a alternativa), pegando os forcados de Montemor e de Lisboa e lidando-se toiros de António Raul Brito Paes. É um cartel atractivo, sem dúvidas, mas não é "uma bomba" para inauguração da temporada.

Além destes, Pombeiro anunciou as presenças em Lisboa de Marcos Bastinhas, dos dois Rouxinóis, de Rui Salvador, do rejoneador espanhol Andrés Romero, de Duarte Pinto, Francisco Palha e António Prates e do matador espanhol Morante de la Puebla.

A 4 de Agosto serão seis ou sete cavaleiros na corrida de Homenagem ao Emigrante. A 18 será Morante como único espada ou com um matador luso (impunha-se a presença de "Juanito", o único toureiro português que marca presença, na próxima semana, na importante Feira de Santo Isidro em Madrid) e com um ou dois cavaleiros, sendo já certa, anunciou Pombeiro, a inclusão de Marcos Bastinhas no cartel desta corrida comemorativa dos 130 anos da inauguração do Campo Pequeno.

Finalmente, a 8 de Setembro, à partida já sem Pablo Hermoso (que chegou a ser dado como certa nessa quarta e última corrida), Pombeiro anuncia um Cartel Surpresa.

Por exclusão de partes, presume-se que a corrida de 4 de Agosto, com seis ou sete cavaleiros, incluirá, à partida, os nomes que o empresário já anunciou: Salvador, Romero, PintoPalha e Prates e mais um ou dois.

Faltam nomes importantes, pelo menos até agora ainda não anunciados, no Campo Pequeno. Falta João Moura Jr., falta João Telles, falta Miguel Moura, para já não falar do Maestro Moura (que no último ano esgotou a praça) e falta também Moura Caetano, grande triunfador da corrida que encerrou o abono de 2021. E Rui Fernandes. E os novos. Faltam outros. Mas Pombeiro, com apenas quatro datas, não pode meter o Rossio na Rua da Betesga.

É importante, sim, que o público marque presença nas quatro corridas e não deixe as bancadas por metade ou por menos ainda. Isso seria altamente comprometedor para o futuro do Campo Pequeno, sobretudo sabendo-se, como se sabe, do pouco interesse que a nova empresa gerente do espaço tem pelo fenómeno tauromáquico.

Mas também é deveras importante que Pombeiro monte elencos chamativos e que motivem o público a ir ao Campo Pequeno. O que não vai ser fácil num momento em que as grandes corridas, os grandes cartéis e os maiores toureiros estão a passar e a ser anunciados para todas as outras praças.

É importante, acima de tudo, que estejamos unidos e a remar para o mesmo sítio num ano que se apresenta complicado (íssimo!) para Lisboa e em que a nossa presença vai ser decisiva para traçar o futuro do Campo Pequeno como praça de toiros ou, apenas e só, como sala de concertos, como segundo Coliseu da capital.

O futuro vamos ter que ser nós a traçá-lo. Não podem os deixar distorcer o Campo Pequeno - que já foi a Nossa Casa e agora o deixou de ser.

Foto M. Alvarenga