Num muito lúcido, brilhante e inteligente artigo dado à estampa no jornal "Público", o analista João Miguel Tavares aborda a polémica que na última semana se criou em torno da actuação dos anões toureiros do grupo cómico-taurino espanhol "Diversiones en el Ruedo" na Benedita (Alcobaça), criticando as declarações do ministro da Cultura Pedro Adão e Silva, que considerou esse evento "atentatório da dignidade humana e contraditório com tudo o que importa defender no plano das políticas de inclusão".
Essa triste e despropositada declaração de Adão e Silva pressupõe, afirma João Miguel Tavares, que "todos os anões devem ser alvo de políticas de inclusão", considerando-a "uma afirmação altamente discriminatória".
"Já a presidente da Associação Nacional de Displasias Ósseas, Inês Alves, conseguiu ser ainda mais ofensiva: 'O que diriam as pessoas se se tratasse de uma tourada cómica protagonizada por pessoas com paralisia cerebral?'. De que forma é que os anões adultos podem ser comparados com pessoas sem coordenação motora, e muitas vezes com problemas cognitivos, que impedem o consentimento? Não faço a menor ideia" - escreve ainda o conhecido analista no artigo intitulado "Anões, touradas, dignidade e liberdade: um caso exemplar". E acrescenta:
"Eis uma tentação que devemos sempre evitar: impor os nossos conceitos de dignidade humana a pessoas que não consideram que a sua dignidade esteja a ser ferida".
"Demasiadas vezes, o preconceito está nos olhos de quem o procura combater. O grupo 'Diversiones en el Ruedo' é herdeiro de uma tradição de toureio cómico - El Bombero Torero y sus Enanitos Toreros - que vem da década de 40, e que em Espanha está agora a ser entusiasticamente perseguida com os mesmos argumentos de Pedro Adão e Silva", escreve João Miguel Tavares.
Um artigo imparcial e brilhante. Uma análise sem papas na língua a uma polémica que promete fazer ainda correr muita tinta, já que o mesmo grupo cómico-taurino espanhol vai voltar a actuar este ano em mais praças de toiros nacionais.

