sábado, 10 de setembro de 2022

Provámos que pode haver diálogo entre pessoas civilizadas: a história do meu encontra com Daniela Lázaro

Miguel Alvarenga - Esta é a história do meu encontro na quinta-feira passada, mesmo diante da praça de toiros do Campo Pequeno (à frente de todo o mundo, quem não deve, não teme! - e houve quem visse e ficasse espantado e até me tivesse atirado "bocas", mas é para o lado que eu durmo melhor... continuo a ser, felizmente, à prova de bala!) com Daniela Lázaro, a activista anti-taurina que aqui entrevistei há dois meses depois de ter saltado com o holandês Peter Janssen à trincheira (não chegou a conseguir pisar a arena, ele sim) da primeira praça do país na corrida de inauguração da temporada.

Este encontro e a conversa que tivemos é a prova - mais que provada - de que, quando existe respeito mútuo entre pessoas civilizadas, pode haver diálogo e (quase) entendimento. Não me passei para o lado da Daniela e ela também não se passou para o nosso lado - mas a conversa foi frutífera e interessante.

Nunca fui um anti-anti taurinos primário - como muitos são. Gosto de touradas, mas respeito quem não gosta e tem todo o direito de protestar.

Daniela Lázaro diz-me o mesmo. "Em pleno século XXI, pode ter a certeza de que há activistas anti-taurinos, como eu, dispostos a ter uma conversa humana e civilizada com pessoas que estão no lado oposto", afirma.

E vai mais longe: "Até lhe digo que acho que o vosso espectáculo é lindo, não deve é ter animais a sofrer... O meu Avô, que me criou, gostava de touradas e via sempre que havia na televisão. Mas mandava-me ir para o quarto para eu não ver os animais a sofrer. E não é pelo facto de o meu Avô, que Deus o guarde, gostar de touradas que eu lhe ia dar um tiro... Algumas vezes me insurgi no Campo Pequeno contra alguns activistas que o estavam a insultar a si e a todos os aficionados, chamando-lhes de filhos da mãe para cima... Não é com ódio, com raiva e com violência que vamos conseguir alcançar os nossos objectivos e inovar aquilo a que chamam tradição...".

E confessa: "Fui muito criticada por ter dado a entrevista ao 'Farpas', sobretudo por gente do meu meio anti-taurino. Em vez de se preocuparem com a vida dos activistas, deveriam mas era pôr os animais em primeiro lugar. Eu nunca trabalhei para qualquer movimento ou organização, estive ao lado deles como voluntária. Ninguém me paga para fazer o que faço em defesa dos animais, sou activista independente".

"Há pessoas maldizentes neste meu meio e a hipocrisia revolta-me. Em vez de estarem unidos, criam guerras. Até me chamaram criminosa por eu ter saltado no Campo Pequeno, disseram-me que não é assim que se defende a nossa causa... Podem estar todos contra mim, que não me importo. Eu acho que as pessoas se devem respeitar, como você me respeitou. Não é insultando os aficionados com raiva e com violência que se chega a algum lado. É preciso haver respeito e bom senso. Você gosta de touradas, eu sou contra e luto para que sejam abolidas ou para que se encontre uma solução em que, continuando a haver touradas, deixe de haver sofrimento dos animais, mas não é por isso que deixaremos de ter diálogo. Pessoas civilizadas e que se respeitem podem dialogar e, como lhe disse, em pleno século XXI há activistas anti-taurinos dispostos a ter uma conversa humana e civilizada com pessoas do lado oposto", afirma.

Nem a Daniela se passou para o nosso lado, nem vai passar nunca, nem eu me passei para o lado dela - e também não me vou passar nunca. Mas a nossa conversa foi a prova de que pode haver diálogo civilizado entre as duas partes.

Só lhe pedi no fim que fizessem menos barulho, porque ia jantar no "Rubro" e a chinfrineira habitual nem deixa as pessoas conversarem. Isso, ela não respeitou. Mas enfim... Lá veio a Banda contratada pelo empresário Pombeiro para amainar a gritaria da Daniela...

Fotos D.R.