terça-feira, 22 de agosto de 2023

Joaquim Grave fala dos seis toiros para esta 5ª feira no Campo Pequeno


Voltar a lidar em Lisboa é sempre muito agradável e implica muita responsabilidade. A ganadaria Murteira Grave apresentou-se em Lisboa pela primeira vez no já longínquo ano de 1951 com um toiro lidado pelo inesquecível Califa de Alcácer, João Núncio

De então para cá foram já 279 toiros que pisaram a arena do Campo Pequeno. A última corrida foi em 6 de Agosto de 2020, onde foi lidado o toiro "Marismero" pelo Manuel Ribeiro Telles Bastos, que conseguiu um assinalável triunfo. Toiro que ficou célebre pela sua história que começou em Setembro do ano anterior quando colheu gravemente o ganadero no campo. Pelo seu comportamento bravo e nobre foi-lhe perdoada a morte pelo mesmo ganadero; um mês depois de chegar novamente ao campo, um companheiro deu-lhe uma fortíssima cornada da qual nunca recuperou e lhe provocou a morte alguns meses depois.

A corrida da próxima quinta-feira 24 de Agosto de 2023 é uma corrida, como não podia deixar de ser, de primeira categoria se falamos de apresentação. Não tem um tamanho gigantesco, que me perdoem os amantes dos quilos, mas os toiros não devem ser grandes, mas sim bravos, claro que respeitando sempre o trapio de praça de primeira. Dos seis, há somente um toiro bastante grande mas harmónico que é o de 

pelagem burraca, n.º 45. Curiosamente, todos os outros cinco são negros, o que não é muito comum numa casa com uma variedade de pelagens evidente.


O cartel da corrida é muito redondo porque tem dois jovens, mas já maduros, que continuam a dar cartas no panorama nacional, como são o João Moura Jr. e o Francisco Palha, acompanhados pelo Andrés Romero, um espanhol que paulatinamente se vai impondo no toureio em Portugal.


Os forcados são dois grupos de topo também, quer o Grupo de Montemor comandado superiormente pelo forcado fora de série António Cortes Pena Monteiro, quer o Grupo de Évora comandado pelo novel cabo, o magnífico forcado José Maria Caeiro. Uma rivalidade alentejana que promete.


A bravura dos toiros esconde um mistério. E o sentimento dos toureiros 

também. Desejo sinceramente que quinta-feira ambos, toiros e toureiros, nos desvelem esse mistério para que todos saiamos do Campo Pequeno a tourear pelas ruas...


Em seguida, deixo-vos uma breve resenha dos toiros que estarão no Campo Pequeno.


N.º 3 – Coíba – negro mulato com cara de primeira; não é o toiro mais bonito da corrida com certeza, mas é um verdadeiro toiro para lidar a cavalo, de público. Toiro “frentudo” com um terço anterior importante e alto de agulhas; um pouco despegado do chão como dizemos na gíria. Teve um irmão, único, lidado no Redondo em 2014 extraordinário; em contrapartida, das sete irmãs tentadas, não houve nada de especial a  assinalar.

 

N.º 26 – Saltarillo – negro mulato aberto de cara; toiro “aleonado”, isto é, com um terço anterior bem desenvolvido e uma garupa mais ligeira. Toiro com expressão séria no olhar e também sério por diante, embora baixo e com tipo de investir.


N.º 38 – Laranja – negro; é talvez o toiro de mais trapio da corrida; toiro muito baixo, fino de hechuras com cara de primeira categoria; olhar vivo e sério. Embora baixo e de mãos curtas, não deixa de ser profundo. Filho de um toiro muito bravo que pediu contas ao Luís Rouxinol em 2017, com o qual obteve um grande triunfo. Não consegui ainda prever o seu comportamento, toiro de cara ou coroa!


N.º 41 – Tramontano – negro; tem cara e uma expressão bondosa que contrasta com o comportamento no campo em que é dominante e agressivo; recentemente quando de manhã lhe dava a ração arrancou-se para a carrinha impondo a sua presença e provocando-nos aflição... embora, felizmente, não tenha rematado o seu comportamento.


N.º 45 – Vulcão – negro burraco; um grande toiro, talvez o mais pesado da corrida; embora grandão, é proporcionado, com bom pescoço e tem boa cara, também de primeira. Pela reata e pelo tamanho prevejo um comportamento com bom tranco, isto é, com um galope cadenciado e ritmado.


N.º 59 – Lince – negro mulato; indiscutivelmente outro toiro muito bonito e com boas hechuras. Comprido, com mãos muito curtas e uma cara toureira. Também tem uma mirada muito forte que impõe respeito e uma cabeça simétrica e equilibrada. Um peito largo e forte que ajuda e  sublinha o seu grande trapio.


N.º 60 – Romeiro – negro mulato listón; o toiro com menos cara da corrida, com a inserção dos cornos um pouco alta (cornialto); toiro também comprido, mas um pouco alto que no campo gosta de “discutir” com os companheiros com ambição de liderar o grupo sem nunca o conseguir plenamente.


N.º 62 – Taleguilla – negro mulato; com uma cara acapachada sem ser cornalão. Agradável por diante é um toiro reunido, isto é, redondo mais para o curto, baixinho, talvez o toiro menos da corrida, mas muito bonito para o ganadero. Teve um irmão de mãe bravo e com classe superiormente lidado pelo João Moura, Jr. em Évora em 2019, que voltou para o campo como semental.


Joaquim Grave


Foto D.R./@Murteira Grave