Miguel Alvarenga - Como antes referi na crónica da corrida, a noite de ontem na Aldeia de Paio Pires (Seixal) mais parecia uma batalha, dada a dureza dos toiros espanhóis e portugueses que se apresentaram a concurso e que deram água pela barba, sobretudo, aos valentes (heróicos, mesmo!) forcados dos consagrados grupos de Montemor e de Lisboa - que acabaram por levar os respectivos barcos a bom porto no meio de grandes tempestades, muitos raios e coriscos, como bradaria o Capitão Haddock...
Já praticamente ficou tudo relatado ao pormenor no que às seis pegas diz respeito. Os idosos Amadores de Montemor (a comemorar 85 anos) e Amadores de Lisboa (a comemorar 80 anos) viveram ontem uma noite de muita emoção, de grandes ansiedades, mas de aclamados triunfos. São dois grande Grupos de Forcados!
Felizmente, e como também já referi, não houve lesões graves a registar, apenas um ombro deslocado do forcado Daniel Batalha (que lhe foi colocado no lugar no Hospital de Setúbal, de onde teve alta às quatro da manhã), um rasgão no queixo de Duarte Mira (ambos do Grupo de Lisboa) e um desmaio na arena de José Maria Vacas de Carvalho, brutalmente derrotado na primeira tentativa para pegar o potente toiro de Prudêncio (terceiro da ordem), mas que viria a recuperar os sentidos na enfermaria, regressando à trincheira.
Foram toiros muito duros para forcados muito experientes e maduros - e o facto de estarem em praça dois grupos como os de Montemor e Lisboa terá certamente evitado os mais que prováveis momentos de terror que ali se teriam vivido com alguns grupos menos preparados... Mas uma coisa é certa, certíssima mesmo: se os toiros fossem sempre assim, desapareciam do mapa muitos grupos de forcados e até alguns toureiros... A realidade é essa, nua e crua.
De resto, está tudo dito, ficam as imagens de uma noite que terá sido, até ao momento, das mais duras, se não mesmo a mais dura, da temporada.
Recordamos que o primeiro toiro, de José Luis Pereda (prémio de bravura) foi pegado à terceira por Miguel Casadinho (Montemor); o segundo, de Prieto de la Cal, toiro bonito, jabonero, mas com pouca força, foi pegado por Nuno Fitas (Lisboa) à primeira tentativa; o terceiro, duríssimo, exigente e sério, de Prudêncio (prémio de apresentação) acabou por ser pegado na sua segunda tentativa pelo valente José Maria Cortes Pena Monteiro (Montemor), a dobrar uma primeira tentativa de José Maria Vacas de Carvalho; o quarto, de Vinhas, foi pegado à segunda por Martim Marques (Lisboa); o quinto, de Fernandes de Castro, foi pegado por Joel Santos (Montemor) ao segundo intento; e o último, de Dolores Aguirre, foi pegado de cernelha por Duarte Mira e Renato Avelar, depois de duas tentativas de Daniel Batalha (que recolheu à enfermaria lesionado num ombro, como já se referiu) e de outras duas de Duarte Mira (que salvou a honra do convento numa valente cernelha, como atrás refiro).
Ficam as fotos de uma noite muito dura - a Batalha de Paio Pires, que mais parecia a de Alcácer-Quibir, de má memória, onde os espanhóis nos deixaram de rastos...
Fotos M. Alvarenga
Miguel Casadinho (Montemor) na primeira duríssima pega da noite, brindada a Gilberto Filipe, que consumiu à terceira ao toiro de José Luis Pereda (prémio de bravura) |
Nuno Fitas (Lisboa) pegou à primeira o toiro jabonero de Prieto del Cal, que tinha pouca força |
Terceira pega (toiro de Prudêncio): José Maria Vacas de Carvalho foi retirado de maca, desmaiado, após uma tentativa. Não sofreu nada, felizmente, recuperou os sentidos na enfermaria |
Martim Marques (Lisboa) pegou o quarto toiro, de Vinhas, à segunda tentativa |
Quinta pega, ao toiro de Castro, foi consumada à segunda por Joel Santos (Montemor) com uma grande primeira ajuda do cabo António Cortes Pena Monteiro |
Último toiro, de Dolores Aguirre (um verdadeiro "assassino"): Daniel Batalha deslocou um ombro após duas tentativas |
O sexto toiro acabou por ser pegado de cernelha, à segunda tentativa, por Duarte Mira (que fizera antes duas tentativas de caras) com o rabejador Renato Avelar |