domingo, 7 de dezembro de 2025

"Chorai, fadistas, chorai": morreu Anita Guerreiro

A fadista e também actriz (participou em algumas telenovelas nos anos 90 e também em filmes) Anita Guerreiro morreu na madrugada deste domingo, aos 89 anos, na Casa do Artista, em Lisboa, onde residia há mais de dez anos. Não há ainda informação sobre o funeral, que se deverá realizar na próxima terça-feira em local ainda não definido.

Nasceu a 13 de Novembro de 1936 em Lisboa e desde muito cedo se destacou pela sua voz e presença em palco. Aos sete anos já cantava em família e na colectividade Sport Clube do Intendente, no bairro onde cresceu.

Iniciou a sua carreira profissional em 1952 no programa radiofónico “Tribunal da Canção”, do “Comboio das Seis e Meia”. A sua prestação impressionou o produtor Marques Vidal, que a retirou do concurso e a lançou como Anita Guerreiro, estreando-a no Café Luso

A crítica e o público reconheceram de imediato o seu talento, destacando canções como “Menina Lisboa” e a sua interpretação de temas populares e fadistas, que rapidamente a tornaram numa das artistas mais aplaudidas do teatro de revista.

Nos anos 50 e 60, brilhou em revistas como “Ó Zé aperta o laço” e “Festa é Festa”, e participou no filme “Lisbon” (1956), cantando “Lisboa Antiga”. Criou a Adega da Anita, um espaço de referência para fadistas no sempre recordado Parque Mayer, que nos dias de hoje não é nada do que foi antigamente. Viveu em Angola durante três anos, regressando depois a Lisboa, onde integrou o elenco do Teatro Capitólio e consolidou a sua carreira.

Anita Guerreiro recebeu diversas distinções ao longo da sua carreira como o Prémio Estevão Amarante (1970) e a Guitarra de Ouro em África. Apesar de períodos de afastamento, manteve a carreira internacional, atuando pela Europa, no Canadá e nos Estados Unidos, onde recebeu Prémios de Popularidade em 1987 e 1988.

Regressou a Portugal no início dos anos 90, expandindo a sua carreira à televisão, participando em telenovelas e séries como “Primeiro Amor”, “Roseira Brava”, “Uma Casa em Fanicos”, “Nunca Digas Adeus” e “Sentimentos”, além do cinema com “Morte Macaca” (1997). Foi madrinha de diversas marchas populares na capital, incluindo da “Marcha dos Mercados” entre 2006 e 2015.

A sua discografia inclui compilações como “O Melhor dos Melhores” (1994) e “Antologia 50 Anos de Teatro em Revista (1955-2000)” (2005), reunindo muitos dos êxitos que marcam a sua carreira. O Município de Lisboa reconheceu-lhe a relevância cultural, atribuindo-lhe o Pelourinho de Prata (2001) e a Medalha Municipal de Mérito, Grau de Ouro (2004).

Anita Guerreiro deixa um legado inestimável, fruto de mais de cinco décadas de dedicação à música, ao teatro e à cultura portuguesa, permanecendo como uma das vozes mais icónicas do fado e do teatro de revista.

Foto D.R./Rádio Renascença