Muita expectativa e praça cheia por obra e graça da presença dos toiros de Partido de Resina, antigos Pablo Romero. Mas depois... a montanha pariu um rato... |
Rouxinol, Bastinhas e Filipe: os protagonistas da nocturna de ontem em Alcochete |
Maestro Bastinhas: quem sabe, triunfa! |
Acabado de chegar de triunfal digressão à Ilha Graciosa, Rouxinol triunfou ontem em Alcochete |
Afirmação e consagração de Filipe Gonçalves: a caminho de ser Figura! |
Primeira pega do Grupo de Évora, a cargo de João Madeira, novo elemento |
Manuel Rovisco Paes (Évora) - um forcado enorme! |
A pega de João Salvação, cabo do Aposento do Barrete Verde |
Valente e decidido, Diogo Amaro pegou à segunda |
Miguel Alvarenga - Nem tudo o que luz é
ouro e nem tudo o que é ouro... luz. Depois da emoção que se viveu no concurso
de ganadarias ali realizado dias antes (domingo), a nocturna de ontem em
Alcochete, segunda corrida das Festas do Barrete Verde e das Salinas, foi uma
espécie de desilusão...
A praça encheu a "rebentar pelas
costuras" - e, só isso, valeu a pena. Antes e depois da corrida, o
ambiente era enorme e espantou até os dois casais espanhóis que se sentaram
numa barreira mesmo à minha frente e que são os proprietários da ganadaria
Partido de Resina. Nunca pensaram, como mais tarde confessaram, "dar com
uma festa destas". De facto, Alcochete é uma "terra santa" onde a tauromaquia tem mesmo "outro sabor" e as
festas do Barrete Verde são Portugal no seu melhor.
A praça encheu, dizia eu, muito principalmente
pela presença dos toiros da ganadaria Partido de Resina, os
"descendentes" da célebre e temida divisa de Pablo Romero. Contudo e
como Bastinhas comentou ao empresário "Nené" no momento em que vinha
à trincheira pegar mais um ferro, "afinal eles não comem ninguém...".
Bem apresentados, sobrou em trapio, em
idade e em sentido, em seriedade também, o que depois faltou em bravura. Cinco
toiros tinham a pelagem característica dos antigos Pablo Romeros. O primeiro
foi manso e meio distraído; o segundo cresceu ao longo da lide e acabou por ser
bom; o terceiro era mansote demais e procurava constantemente o refúgio em
tábuas; o quarto não facilitou, mas foi muito inteligentemente lidado por
Bastinhas; o quinto cumpriu sem alardes; e o sexto foi o "mais Pablo
Romero" dos seis, provavelmente um bom toiro, dirão alguns. No contexto
geral, os toiros não justificaram a expectativa que rodeou a sua vinda a terras
de Portugal. Aos forcados não fizeram mal algum. Arrancaram-se quase sempre com
alegria, foram direitos pelo seu caminho e não derrotaram. Tinham velocidade,
apenas. Mas também tiveram pela frente dois belíssimos e bem experientes grupos, os Amadores de
Évora e os do Aposento do Barrete Verde de Alcochete.
E se os toiros desiludiram, o mesmo não
se pode dizer dos toureiros. Bastinhas e Rouxinol enfrentram os
"Romeros" com a experiência e a técnica de quem já anda há muitos
anos "a virar frangos". Filipe Gonçalves confirmou tudo o que dele se
tem dito e escrito nas últimas temporadas: tem um percurso de luta e afirmação
muito idêntico ao que viveu Luis Rouxinol nos seus inícios, está a afirmar-se e
está a consagrar-se definitivamente entre os primeiros. Mercê do seu trabalho,
do seu empenho, do seu sacrifício e do seu querer. Vai ser Figura e disso já ninguém
tem dúvidas.
Joaquim Bastinhas pôs os ferros no
primeiro da noite, que não passou de manso e andou sempre despegado e distraído
na arena. Terminou com um par e foi, até ao intervalo, o único que cumpriu
nesse sentido: em noite anunciada dos "reis das bandarilhas", Rouxinol
e Filipe não colocaram pares nos seus primeiros toiros.
No quarto da noite, Bastinhas deu aquilo
a que se chama uma lição de maestria e uma demonstração nata da sua muita
experiência. Não deu ao toiro tempo para "pensar". Quando o animal
"deu por isso", já tinha todos os ferros "em cima".
Chama-se a isso saber. E o Maestro Bastinhas sabe mais a dormir que muitos
acordados. Voltou a brilhar com um par empolgante e, como é seu hábito,
galvanizou o público, deixando-o em euforia. Quem sabe, sabe.
Luis Rouxinol limitou-se a cumprir no
seu primeiro, um toiro que foi "de menos a mais", que cresceu e que
acabou por mandar na arena. Rouxinol andou ao seu estilo, sem variações nem
oscilações, igual a si próprio. Brilhou sem atingir, contudo, o melhor a que
nos vem habituando.
No quinto, teve uma actuação mais
arrasadora, cravou grandes curtos e deixou a sua imagem de marca num enorme par
de bandarilhas. Esteve brilhante na brega.
Filipe Gonçalves está num momento de
afirmação que já começa a ser também de consagração. É, sem dúvidas, um dos
grandes desta temporada e está por fim a conseguir conquistar, mercê do seu
enorme mérito, uma posição entre os primeiros. Longe vão os tempos em que era,
apenas e só, "o toureiro do Algarve". Libertou-se desse estigma, veio
por aí acima e está hoje nos grandes cartéis e nas maiores competições sem
nunca defraudar. É valente e é decidido. E repito: vai ser Figura.
Esteve diligente e fez o que pôde no seu
primeiro, mansote. No último, o melhor toiro da noite ou, pelo menos, o
"mais Pablo Romero" dos seis, impôs a sua raça, a sua vontade férrea
de triunfar e conseguiu ter o público a seu lado. Foi uma lide reveladora da
raça e da casta de um Toureiro bom. Terminou também com um valente par em
terrenos de compromisso e a pôr a carninha toda no assador.
No campo da forcadagem, a rapaziada dos
dois grupos - Évora e Barrete Verde de Alcochete - teve apenas que, com técnica
e perfeição, "aguentar-se à bronca" com a velocidade dos toiros na
investida. De resto, não fizeram mal nenhum, nem deram às pegas e aos forcados
a emoção e o perigo a que todos assistimos dias antes no concurso de
ganadarias. Foram seis pegas bem executadas, mas a que faltou o brilhantismo
que dão os toiros "que batem". Estes não bateram em ninguém...
Por Évora, formação em grande forma,
pegaram, todos à primeira, João Madeira e os consagrados João Pedro Oliveira e Manuel Rovisco Paes
(que forcado enorme!) ao primeiro intento, este último em sorte brindada a
Vasco Pinto, cabo dos Amadores de Alcochete e grande herói da corrida de
domingo naquela mesma arena. Foi um brinde bonito e bem demonstrativo do
espírito de solidariedade e amizade que une os forcados, independentemente das
jaquetas e dos grupos a que pertencem.
Pelos Amadores do Aposento do Barrete
Verde de Alcochete (que amanhã regressam à arena da sua terra) pegaram o cabo
João Salvação (perfeito, à primeira), o valente Diogo Amaro (numa pega rija, à
segunda) e Marcelo Lóia, à primeira.
Tiago Carvalho dirigiu com acerto a
corrida e houve brindes de forcados e do cavaleiro Filipe Gonçalves à Banda de
Alcochete - bem merecidos. O Aposento do Barrete Verde brindou uma pega ao
matador Luis "Procuna", afastado das arenas por delicada doença.
Os toiros foram eficiente e rapidamente recolhidos a cavalos por duas parelhas de campinos e a corrida durou pouco mais de duas horas - um exemplo. Na brega, frente a toiros "que exigiam", um olé bem alto para João "Belmonte" e Ricardo Raimundo, David Antunes e Josué Salvado, Cláudio Miguel e Duarte Alegrete.
Os toiros foram eficiente e rapidamente recolhidos a cavalos por duas parelhas de campinos e a corrida durou pouco mais de duas horas - um exemplo. Na brega, frente a toiros "que exigiam", um olé bem alto para João "Belmonte" e Ricardo Raimundo, David Antunes e Josué Salvado, Cláudio Miguel e Duarte Alegrete.
A noite valeu ainda pelo agradabilíssimo
jantar, em extraordinária companhia, no bar mais afamado das festas, o do meu
querido amigo António José Pinto; e pela festa do Alfoz que se seguiu à
corrida, no Pateo Barceló, uma organização selecta do simpatiquíssimo Fernando
Pessoa e uma belíssima paella... de chorar por mais!
Em Alcochete, a festa continua e tem
amanhã a corrida de encerramento da Feira Taurina no derradeiro dia daquela que
é uma das mais tradicionais festas de um Portugal que, apesar das Troikas &
Companhias, teima - e resiste - em ser outra vez Portugal. As Festas do Barrete
Verde são únicas! Vivam as boas gentes de Alcochete!
Fotos M. Alvarenga