domingo, 22 de abril de 2018

40 anos e muitos fados depois, Nuno da Câmara Pereira voltou a arrebatar no Coliseu de Lisboa



Miguel Alvarenga - 41 anos depois de ter pisado pela primeira vez aquele palco sagrado (foi em 1977), Nuno da Câmara Pereira regressou sexta-feira ao Coliseu de Lisboa para nos recordar alguns dos seus maiores êxitos e apresentar os novos temas do último cd "Belmonte Em Cantos Mil", que nos fala da epopeia dos descobrimentos e daquilo a que chamou "o achamento do Brasil".
Acompanhado por um punhado de belíssimos músicos - José LiaçaCustódio Castelo, Tiago Pereira, Fernando "Nani", Patrícia, Carlos Garcia, Fernando Silva e João Triscas -, teve como convidados em palco Maria João Quadros, Artur Batalha, seu irmão Mico da Câmara Pereira, suas duas filhas e netas e fez mesmo um dueto com Rodrigo, cantando ambos "Um fadista já cansado", número que não estava no programa e que empolgou o público.
O Coliseu não encheu, como noutros tempos, mas marcaram presença muitos dos fiéis que seguiram Nuno ao longo de quatro décadas, desde o tempo em que gravou o primeiro disco "Fado" e se tornou num fenómeno de vendas - e de histórias. Não só revolucionou o Fado e por isso lhe chamaram muito justamente o "João Moura do Fado", como o elevou num momento em que os ventos da revolução até a grande Amália catalogavam de "fascista".
"Eu sonhei que era menino" foi o tema com que abriu o concerto, depois da apresentação inicial de Júlio Isidro, seguindo-se alguns dos fados que fizeram a sua história. Ao quinto, com a voz aquecida e a emoção mais contida, disse que "agora o palco é meu" e então desfilou todas as recordações de uma carreira ímpar, acompanhadas por imagens que iam surgindo no ecrã, homenageando figuras e amigos que estiveram desde a primeira hora a seu lado e são hoje memórias queridas do contruir de uma carreira. Lembrou-nos seu pai, o querido Tio Nuno, lembrou João Ferreira-Rosa, que para si escreveu o "Arraial" e foi quem primeiro o incentivou a gravar e lembrou-nos dois grandes guitarristas que estarão sempre na sua, na nossa e na memória do Fado - Pedro da Veiga e Filipe Vaz da Silva.
O concerto durou três horas, sem intervalo - e mais três horas ali teríamos estado, se ele quisesse. "Aconchego", "Gargantilha", "Rosinha dos Limões", "Vielas de Alfama", "Embuçado", "Procissão", "Não me cantes esse fado", "Samaritana", "Meu querido, meu velho, meu amigo", "Não sei o que tenho em Évora" e o emblemático "Cavaloi Ruço", depois de uma interpretação fantástica de "Aleluia", foram os temas mais aplaudidos, precisamente por serem muitos dos fados que nos lembram e nos contam a trajectória inigualável do grande Nuno.
Aos 68 anos, muitos fados depois da estreia no Coliseu em 1977, Nuno da Câmara Pereira arrebatou os amigos, os fiéis, os seguidores e todos aqueles que, mesmo não esgotando a sala, a encheram de admiração, de respeito, de reconhecimento por 40 anos de Fado - que marcaram, e ainda marcam, a diferença. E de que maneira!

Fotos João de Sousa/cortesia Infocul e D.R./@Nuno da Câmara Pereira/Facebook