Muito valor, grande poderio e uma inspirada arte marcaram ontem as duas grandes actuações de Nuno Casquinha na primeira corrida da Feira da Moita |
Duas grandes lides de Vitor Ribeiro, a reafirmar em pleno o seu triunfal regresso ao escalafón nacional |
Os Forcados Amadores da Moita executaram as duas pegas da tarde. Filipe Correia (foto de cima) à quarta, a sesgo e com o grupo já "em cima"; e o valoroso Fábio Silva (foto de baixo) à primeira |
Foi pena ter pouco público (o que é feito da aficion moitense?), porque a corrida que ontem abriu a Feira da Moita resultou num grande e agradável espectáculo com triunfos repartidos pelo cavaleiro Vitor Ribeiro e pelos matadores Manuel Escribano e Nuno Casquinha
Pelo segundo ano consecutivo, o dinâmico e empreendedor empresário Rafael Vilhais levou ontem um balde de água fria na primeira corrida da Feira da Moita, a que assistiram muito poucos espectadores (cerca de um terço das bancadas preenchido). Depois de ter levantado e dinamizado todas as praças por onde tem passado, casos dos tauródromos das Caldas, de Salvaterra e de Moura, que vivem hoje de novo o grande esplendor de outros tempos, Rafael Vilhais ainda não conseguiu "dar a volta" na praça "Daniel do Nascimento" - e ninguém entende porquê.
Essencialmente baseado no toureio a pé, o cartel de ontem estava bem montado e rematado com aficion. Vitor Ribeiro actuava como único cavaleiro no ano em que regressou em força ao escalafón nacional depois de ter estado dois anos ausente e, a pé, reaparecia o espanhol Manuel Escribano depois da grave cornada em Belmonte, ao lado do valoroso Nuno Casquinha, matador luso com triunfos marcantes no Peru e já este ano em Portugal nas praças de Vila Franca e de Lisboa. O que se queria mais?
Mesmo assim, o público não compareceu em força - como se impunha e um cartel desta envergadura justificava.
Lidaram-se toiros de Falé Filipe, bem apresentados, bem rematados e que, nem sempre investindo com a desejada clareza, foram nobres na generalidade e se deixaram lidar e em nada comprometeram o labor dos artistas.
Vitor Ribeiro teve duas lides distintas, mas ambas a confirmar que está de novo em alta e a lutar pela recuperação da posição cimeira que já teve no panorama do nosso toureio a cavalo. Grande lide no primeiro toiro da tarde, com dois compridos de praça a praça e a dar toda a vantagem ao toiro, destacando-se depois nos curtos, deixando os ferros ao estribo depois de pisar com arrojo os terrenos do oponente. No segundo, mais reservado e manso, Vitor Ribeiro resolveu as dificuldades com a sua experiência e as suas excelentes montadas, não alcançando o brilho da primeira lide, mas reafirmando todo o seu valor.
Os dois toiros da lide a cavalo foram pegados pelos Amadores da Moita, com intervenções de Filipe Correia (à quarta, a sesgo e já com o grupo em cima) e Fábio Silva, um dos grandes forcados deste grupo, com uma brilhante pega à primeira tentativa.
Apesar de debilitado fisicamente, ainda em consequência da grave cornada que sofreu em Espanha, o matador Manuel Escribano não deixou de cumprir este contrato na Moita, marcando aqui a sua reaparição nas arenas com imenso brio, muito valor e elevado profissionalismo. Muito artista nos tércios de capote. bandarilhou magistralmente e esteve enorme na lide dos seus dois toiros, o primeiro com muita presença e trapio, que acabou por vir a menos, mas ao qual o toureiro deu a volta, sacando-lhe tudo; o segundo, mais complicado, estando o diestro por cima dele numa faena de alto mérito.
Nuno Casquinha está toureadíssimo e ontem na Moita reafirmou todo o seu valor em duas actuações de muita entrega, denotado valor e suprema inspiração artística. Apesar de violentamente colhido logo na sua primeira intervenção, quando fazia um quite de capote no primeiro toiro de Escribano, recolheu à enfermaria e regressou decidido a triunfar, evidenciando grande atitude frente aos seus dois toiros.
Encastou-se, não virou a cara e deu duas lições tremendas do valor que lhe vai na alma. No seu primeiro toiro, mais reservado, Casquinha deu conta do seu poderio e da sua maestria quer no capote, nas bandarilhas e na muleta. No último, de melhor nota, nobre, mas com pouca força, toureou pelos dois lados com soberba galhardia, conquistando o público e acabando por se sagrar grande triunfador de uma tarde onde, repetimos, só faltou público nas bancadas.
Repartiu os tércios de bandarilhas com Escribano (no primeiro toiro) e com o consagrado Pedro Gonçalves que, como já aqui referimos, cravou um grande par que constituiu a sua despedida do público da Moita, praça onde ao longo de tantos anos conquistou tanta glória.
Foi uma tarde excelente de toiros - e só perdeu quem não esteve presente. Louve-se o esforço do empresário Rafael Vilhais e façam-se votos para que, pelo menos amanhã, no cartel-estrela da Feira, se registe uma enchente na "Daniel do Nascimento".
Pedro Reinhardt foi o competente director da corrida de ontem e esteve assessorado pelo médico veterinário Dr. Jorge Moreira da Silva, sendo cornetim o conceituado José Henriques.
Fotos Maria Mil-Homens