segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Figueira da Foz, onde a noite teve um nome: João Moura Júnior! Outra vez!

João Moura Jr. deu um recital de emoção e bom toureiro no segundo toiro
da corrida, sábado na Figueira da Foz, sagrando-se máximo triunfador
Não era fácil o primeiro toiro de Higino Soveral, sério e reservado, mas Filipe
Gonçalves deu-lhe a volta e conseguiu brilhar
João Telles teve pela frente um toiro daqueles que ninguém deseja e ninguém
merece e que não lhe deu opções de triunfar
A casta e o valor de Rouxinol Jr. foram a segunda nota alta da corrida deste
sábado no Coliseu Figueirense
Soraia Costa é uma toureira de raça e depressa deu a volta a um início de lide
menos feliz, terminando em triunfo
Tristão, o novo Ribeiro Telles do toureio equestre, tem na alma e no sangue
a classe e o bom gosto da ilustre dinastia onde nasceu


Quarenta anos depois, a história é a mesma. Vive-se uma época gloriosa com grandes cavaleiros consagrados e outos que despontam e se estão a afirmar. Mas há outra vez um líder, incontestado e a anos luz do pelotão, e que volta de novo a marcar a diferença sempre que se veste de toureio. Há, outra vez, João Moura (agora o Júnior) e os outros

Miguel Alvarenga - A noite de sábado na Figueira da Foz, festiva, alegre, com ritmo, uns triunfos mais e uns triunfos menos, teve um nome: João Moura Júnior.
Filipe Gonçalves, a um ano de cumprir o 15º aniversário da sua alternativa (numa Corrida "Farpas" na Moita) acabara de impor toda sua a raça e todo o seu empenho na lide de um toiro complicado e reservado de Higino Soveral, que o público premiara com vibrantes aplausos e acalorada volta à arena.
O segundo toiro da ganadaria do Mondego era para João Moura Jr., de novo em alta e de novo moralizado por triunfos que se sobrepuseram à noite trágica de Julho em Coruche, onde perdeu o cavalo craque "Xeque Mate". Em praça, um toiro bravo, exigente, com som e transmissão. E um toureiro maduro, sólido, sereno e tranquilo, dominador, a transmitir segurança e maestria.
Brega "à Moura", em tantos pormenores a fazer lembrar os tempos de estrelato de seu pai, o "niño prodígio" que um dia mudou as regras, aos costumes disse nada e impôs as novas formas de lidar toiros a cavalo.
Lide empolgante, a galvanizar o público que encheu no sábado metade da lotação do centenário e bem cuidado Coliseu Figueirense e vibrou até mais não com a actuação do jovem Moura - que foi uma daquelas actuações que marcam a diferença, que dizem quem manda e que reafirmam, incontestavelmente, a sua há muito decretada liderança.
Terminou com dois ferros enormes na nova sorte "mourina" e deixou ali tudo dito: quarenta anos depois, há de novo um João Moura a mandar na Festa.
E foi esta a história da terceira e última corrida da temporada figueirense, dominada por João Moura, que teve o segundo ponto alto na lide de Luis Rouxinol Júnior ao quarto toiro da noite, outro sério, poderoso, exigente e bravo toiro de Higino Soveral, daqueles que pedem homens de bara rija pela frente. O novo Rouxinol não gosta de perder nem a feijões, está a fazer uma época marcante, de uma regularidade incrível e está a afirmar-se todos os dias, a dizer também, com atitude e uma personalidade forte, que não anda cá para ser só mais um e muito menos para ser apenas "o filho de Rouxinol". Já passou à frente disse, já deu o salto e neste segundo ano com alternativa está a subir degraus de corrida em corrida e a ascender, pelo seu desmedido valor, aos primeiros postos, ao lugar onde todos sonham um dia chegar e ele está mesmo ali, ao dobrar da esquina, a mostrar que pode e vai ser um toureiro importante.
João Ribeiro Telles teve pela frente aquele toiro que ninguém deseja e que ninguém merece. O terceiro de Higino Soveral, com quatro anos, menos trapio que os outros e imenso sentido, era um toiro andarilho, solto e ainda por cima distraído. Muito porfiou João, muito fez ele para tentar tudo o que não era possível. Cravou os ferros da ordem e foi embora. Ali não havia mesmo mais nada a fazer. Pena, para quem está a cumprir uma temporada de tanto sucesso.
Soraia Costa lidou o quinto toiro, de boa nota. Não teve um início feliz, sofrendo toques, falhando ferros e ainda por cima lutando contra a pouca vontade de um cavalo de ir ao toiro. Mas é uma toureira de raça e depressa deu a volta ao "filme", emendando-se, encastando-se e reconquistando a simpatia e o carinho que o público tem por ela. Os últimos ferros foram de bom nível e Soraia deu aplaudida volta à arena com o forcado.
O amador Tristão Ribeiro Telles Guedes de Queiroz, que este ano se estreou em São Cristóvão, foi a agradável surpresa da noite. Tinha pouca qualidade o novilho da ganadaria Ribeiro Telles, mas Tristão tem casta, é atrevido e tem na alma a raça e a classe da ilustre dinastia toureira onde nasceu. Lide desenvolta, excelente equitação, bom gosto e maneiras foram tónicas de uma actuação que conquistou o público do Coliseu Figueirense e revelou a quem ainda o não tinha visto tourear, que era o meu caso, que há mais um Telles de valor nas arenas.
Nas pegas e como já aqui se referiu em pormenor, estiveram os forcados amadores do Ribatejo, do Aposento do Barrete Verde de Alcochete e de Coimbra, sobressaindo os dois primeiros.
Não houve excessos de capotazos e foi eficiente e justa a actuação de todos os bandarilheiros nesta corrida que foi dirigida por José Soares, justo e rigoroso e com a particularidade de manifestar sempre a sua preocupação e aconselhar os forcados a passarem pela enfermaria quando algum saía da arena maltratado. Esteve assessorado pelo médico veterinário Luis da Cruz.

Fotos M. Alvarenga