sexta-feira, 8 de novembro de 2019

A minha outra Feira da Golegã...

Manuel dos Santos e Mestre Patrício Cecílio, duas das maiores referências
da antiga Feira da Golegã
Com Tino de Rans: não nos quiseram no Parlamento... para
a próxima será!
Com João Cortesão ao almoço em casa de Carlos e Fátima Gomes e, em baixo,
Luis Gomes em plena tarefa de me pôr a cabeleira em dia

Miguel Alvarenga - Há quem vá à Feira da Golegã ver os cavalos a correr e as meninas a aprender. Eu ontem fui à Golegã para cortar o cabelo (foto ao lado) e viver alguns momentos agradáveis com amigos. A Feira da Golegã, a de que eu gostava e que nunca faltava, em miúdo, pela mão de meu Pai, morreu há muitos anos. A dos dias de hoje não é propriamente a minha praia. Mas respeito quem gosta, que remédio. E até gosto de andar pela Feira da Golegã. O que estraga tudo é a barafunda dos cavalos...
Naquele tempo-outro, a Feira da Golegã era a Feira dos Senhores. Não era uma feira das vaidades, dos casaquinhos verdes e dos chapéus com penas, era uma feira onde se viam a cavalo na manga, trajados a rigor, homens tão importantes - e tão simples - como Mestre João Núncio, Manuel dos Santos, Manuel Conde, David Ribeiro Telles, José Maldonado Cortes, Pedro Louceiro, Alfredo Conde, D. José de Athayde, José Samuel Lupi, Mestre Batista, Luis Miguel da Veiga, José João Zoio e tantos, tantos mais - de saudosa memória.
Nesse tempo, não se andava de calças de ganga e mangas de camisa a cavalo pelo Arneiro. O Prof. Gorjão Clara bem se tem batido pelo uso do traje tradicional de equitação, mas os seus brilhantes apelos mais parecem sermões aos peixes...
A minha ida à Golegã teve sobretudo a ver, como atrás referi, com a precisão - absoluta - de me pôr nas mãos do meu querido amigo Luis Gomes, profissional dessa arte, e cortar o cabelo. E ainda não foi desta, como ele tanto deseja e eu jamais o farei, que me pintou o cabelo de preto, credo, cruzesm canhoto!
A festa começou, tal como tinha começado na terça-feira, com uma belíssima almoçarada - atum da barrica, uma delícia! - em casa dos simpáticos Carlos e Fátima Gomes, pais do cavaleiro tauromáquico David Gomes, a que desta vez não faltaram outros amigos como o João Cortesão (que discursou e bem, mesmo gaguejando, mas nada que se compare à nova deputada guineense...), o Florindo Ramalho e o Paco Duarte (a fazer as primeiras contratações para o valoroso cavaleiro da Malveira).
Depois... seguimos feira fora, visitei as casetas de alguns amigos, entre as quais a de Manuel Braga e a de D'Ornellas e Vasconcellos, revi bons amigos (tantos), estive alguns momentos à conversa com o ganadero espanhol Victorino Martín, com o antigo rejoneador Diego García de la Peña e com o matador Julián López "El Juli", assisti emocionado à grande homenagem a Joaquim Bastinhas e ainda encontrei o ex-candidato (não eleito) ao Parlamento, o popular Tino de Rans, que pelos vistos andava já há alguns dias pela Golegã. A noite, para variar, acabou animadíssima no "Coparias", com passagem também pela discoteca "Lagar".
Constatei que há hoje na Golegã alguma revolta e indignação pelas medidas rigorosas de "recolher obrigatório" dos cavalos às duas da manhã, impostas pelo presidente da Câmara, José Veiga Maltez. Com as quais, que me perdoem os que não concordam, eu concordo em absoluto.
Ninguém imaginaria encontrar, noutros tempos, Manuel dos Santos e João Núncio, por exemplos, bêbedos e a criar desacatos às duas da manhã, montados em cavalos, no recinto da feira... Mas, infelizmente e desde que a Feira da Golegã se transformou, a essas horas, na 24 de Julho das bebedeiras, isso era a coisa mais natural deste mundo. E desta feira. Veiga Maltez teve que (re)impor a ordem. E fez ele muito bem. Concordo em absoluto.
E Chibanga? Ontem prestaram-se justíssimas homenagens a duas das mais emblemáticas figuras da Feira da Golegã, infelizmente desaparecidas: Joaquim Bastinhas e Filipe Graciosa. E ninguém se lembrou de Ricardo Chibanga, filho adoptivo da Golegã, também desaparecido este ano. Transmiti aqui anteontem o meu espanto por essa falta. E o presidente da Câmara, mal me vou ontem, apressou-se a esclarecer-me que "a Golegã não esqueceu Chibanga", recordando que o Município e ele próprio estiveram sempre com ele, defendendo que, no seu ponto de vista, não era na Feira Nacional do Cavalo que se iria homenagear o famoso matador de toiros. É a sua opinião. Respeito-a. Mas a minha continua a ser a mesma: Chibanga era uma figura emblemática da Golegã e também da sua Feira. Teria sido justíssimo - e impunha-se - que também se tivessem lembrado dele. Mas adiante.
A minha Golegã, ontem, acabou já tarde. Voltei de cabelo cortado, voltei satisfeito com o reencontro de muitos amigos. Mas voltei também com a certeza de que esta Feira da Golegã é muito bonita, é tudo muito engraçado, mas já não tem nada a ver com a outra, a verdadeira, a desses tempos idos.
Enfim, mas já o sabedor Luis Vaz de Camões dizia: mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. E nada volta a ser o que era. Nem como era.

Fotos D.R.