domingo, 3 de novembro de 2019

Ponto final, acabou a primeira temporada sem ti e nunca mais nada foi igual


Miguel Alvarenga - Acabou a temporada. E foi para mim a mais complicada sem ti, meu querido Emílio.
Faltaram-me as nossas loucuras, as nossas viagens, os nossos telefonemas, toda aquela cumplicidade que nos unia e nos fazia fortes e, tantas vezes, diferentes.
Faltaram-me as tuas fotos, as noitadas de trabalho, as mensagens no telemóvel, "já tens tudo no computador".
Faltou a tua graça, essa tua alegria de viver, tão divertida, tão especial. Essa tua forma de estar, as luvas brancas, a diferença que marcavas sempre que fotografavas, "vamos fazer diferente, vamos mostrar que somos únicos". E até éramos.
Mas o mais importante não era isso, Emílio, o mais importante eras tu. Os teus conselhos, a tua amizade eterna e tão forte, os segredos que partilhávamos, as aventuras que vivíamos, o tanto que nos ríamos por tudo e por quase nada, as tuas gargalhadas eram únicas e o teu sorriso não acabava mais.
Ontem acabou a temporada. Por esta altura já tu andavas como um louco a fotografar tudo e todos na Golegã de que tanto gostavas e onde todos gostavam tanto de ti. Era difícil não gostar de uma pessoa como tu.
Eu disfarcei, eu tentei disfarçar, mas custou-me sempre tanto estar nas praças e não te ver na trincheira, e não combinar depois tudo contigo, e não falarmos no outro dia a trocar impressões da corrida e das fotos que tinhas mandado.
"Deixa-te de merdas, és doido e eles ainda não entenderam isso", "faz assim, faz assado", "mantém a postura, não bebas de mais que parece mal", e mais isto e mais aquilo, as tuas recomendações que me irritavam às vezes, as tuas preocupações que ma faziam sentir-te um irmão mais velho, às vezes até um pai.
Isso tudo fez-me falta este ano. Quero fazer de conta que me habituei, mas é mentira, não consigo habituar-me e às vezes choro. E lembro-me de ti, e quero ouvir-te, e quero dizer uma estupidez qualquer para abanares a cabeça e dizeres que "não bato bem".
A temporada foi fantástica, Emílio, praças cheias, os toureiros em grande, a Festa no seu máximo esplendor. Mas sem ti, merda.
Fizeste-me falta, fazes-me falta, parece que me levaram uma parte de mim e nada mais voltou a ser igual. Foi a primeira temporada sem ti, sem o Joaquim Bastinhas, partiu também o Chibanga, parece que se desmoronou tudo.
Ó Emílio, andes por onde andares, esses mistérios para lá da morte custam-me muito a entender, só queria hoje dizer-te aqui que nem te passa pela cabeça a falta que me fizeste este ano. E não só a mim. A todos. Porque todos gostavam de ti e todos te admiravam e todos sentiram quase o mesmo que eu senti sem te ver de luvas brancas na trincheira. A sorrir. Sempre a sorrir. Não sabias estar de outra forma.

Foto D.R.