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Nova reunião agendada para a próxima segunda-feira volta a excluir os matadores e a maioria dos cavaleiros tauromáquicos |
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É esta a sala do Picadeiro Quinta da Hora, na Atalaia, onde decorreu, sem o cumprimentos das normas de segurança impostas pelas autoridades sanitárias, a reunião dos toureiros |
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"Grupo dos Campeões", liderado por Rui Fernandes abriu guerra a Nuno Pardal e à Associação Nacional dos Toureiros |
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Está agendada para a próxima segunda-feira, de novo no Picadeiro da Quinta da Horta, na Atalaia, uma novo reunião do "Grupo dos Campeões" liderado por Rui Fernandes, outra vez com Nuno Pardal, presidente da Associação Nacional de Toureiros
Miguel Alvarenga - Espera-se que mais pacífica e menos atribulada. Apesar do incumprimento das normas de segurança ditadas pelas autoridades sanitários, o chamado "grupo de trabalho", também referenciado como "dos Campeões", liderado por Rui Fernandes (foto ao lado) e que integra cerca de vinte cavaleiros dos melhores da nova vaga e alguns veteranos, vai voltar a reunir com o presidente da Associação Nacional de Toureiros, Nuno Pardal, na próxima segunda-feira. A reunião está convocada, outra vez, para o Picadeiro Quinta da Horta, na Atalaia (Alcochete), espaço que é gerido pelo cavaleiro tauromáquico Gilberto Filipe e onde decorreu na última segunda-feira, durante mais de oito horas, a célebre reunião em que os presentes "apertaram" e confrontaram Pardal com algumas acusações e lhe manifestaram o seu descontentamento pela forma como a associação está a gerir a crise que se vive.
Os cavaleiros consideram que "estão a perder notoriedade" e que a associação que os representa "tem feito pouco para contrariar essa situação". Acusaram Nuno Pardal, entre outras coisas, de "estar a dormir na fila" e de "nem sequer ter tido conhecimento de que o Presidente da República tinha recebido agentes do mundo da Cultura e do Desporto".
Entretanto e como já é do conhecimento público, a Associação de Toureiros e a Associação de Empresários já foi recebida no último sábado por Marcelo Rebelo de Sousa, ainda que o não tenha sido numa audiência formal e sem que o encontro fizesse parte da agenda oficial do Presidente da República.
Pardal questionado sobre negócios
da Associação de Toureiros
A reunião de segunda-feira e ao contrário do que inicialmente fomos (mal) informados, "foi tudo menos pacífica". Nuno Pardal foi, inclusivamente, confrontado com suspeitas de que "teriam existido comissões" (em proveito próprio de membros da Direcção da Associação Nacional de Toureiros, um dos quais ele próprio) no processo de venda da antiga sede da Praça de Alegria e na compra da nova nas Olaias (Lisboa) e também de um apartamento em Vilamoura, Algarve, que fora de Diamantino Vizeu e é agora propriedade da associação com o objectivo de ser alugado e daí se beneficiar o Fundo de Assistência com mais receitas.
Pardal esclareceu que "todos os negócios que foram levados a cabo foram aprovados em Assembleia-Geral e que nada foi feito às escondidas de ninguém", que "não houve comissões nenhumas" e que ele próprio "não recebe um cêntimo" pelo exercício das funções de presidente da Associação de Toureiros e também do Fundo de Assistência. O antigo cavaleiro chegou mesmo a ameaçar que quem o acusasse de "ter recebido comissões teria que o provar em tribunal".
Nuno Pardal foi ainda questionado sobre os porquês de ainda não terem sido apresentadas, como se exigia, pela PróToiro, as contas do festival taurino do Dia da Tauromaquia que se efectuou a 29 de Fevereiro na praça do Campo Pequeno. O presidente da Associação de Toureiros respondeu que "não tem a ver com isso", que a PróToiro é formada por várias associações, como é sabido, e que a dos Toureiros representa apenas 16% na Federação.
O "Grupo dos Campeões", liderado por Rui Fernandes, é integrado pelas primeiras figuras da nova vaga de cavaleiros - João Moura Jr., João Ribeiro Telles, Francisco Palha, Duarte Pinto, Moura Caetano, Salgueiro da Costa, Rouxinol Jr. e outros - e também pelos veteranos João Moura, António Telles e Luis Rouxinol. Na última reunião marcaram ainda presença Emídio Pinto (presidente da Assembleia-Geral da associção), Rui Salvador (vice-presidente da Direcção) e João Palha Ribeiro Telles (ex-presidente da Direcção, antecessor de Pardal).
"Melhorar a imagem dos toureiros"
O grupo pretende "melhorar a imagem dos toureiros" neste tempo de crise, alegando que "têm estado completamente esquecidos" comparativamente com os artistas de outras áreas, além de propor uma série de medidas que considera que a Associação Nacional de Toureiros deveria levar a cabo. Todas essas propostas foram entregues na última segunda-feira a Nuno Pardal - que sobre elas deverá agora falar na próxima reunião de segunda-feira.
Houve na última reunião quem tivesse mesmo exigido a demissão de Pardal e ficou patente a intenção do "Grupo de Campeões" de num futuro próximo assumir a liderança da Associação Nacional de Toureiros. No entanto, o facto de alguns dos cavaleiros "revoltosos" terem estado em tempos passados afastados da associação impede-os, pelo que está estipulado nos estatutos, de assumirem cargos gerentes na ANdT - para o que é exigido um mínimo de oito anos de permanência na associação. Por isso houve quem alvitrasse que "se alterassem os estatutos".
Entre as medidas propostas por este grupo de cavaleiros estão o direito de serem os cabeças de cartaz e não os ganadeiros a decidir nas corridas qual o toiro que fica como sobrero; a exigência de que sejam estipuladas tabelas (inexistentes neste momento) quanto aos honorários dos cavaleiros e dos bandarilheiros; passarem e existir grupos para catalogar os toureiros (A, B e C) consoante a sua importância e o seu peso na Festa e o número de corridas por ano; e até a decisão (por eles) de quem são os repórteres com permissão para estar nas trincheiras das praças.
Na sua esmagadora maioria, as propostas apresentadas pelo "Grupo dos Campeões" são, diz quem esteve presente na última reunião, "positivas para a Festa e sobretudo para a classe" e muitos concordam com "a necessidade de se fazer alguma coisa para que os artistas tauromáquicos saiam reforçados desta crise e desta paragem que a todos está a prejudicar".
Em causa esteve também, acusaram os cavaleiros, "a impotência da associação e da própria PróToiro face ao caso do encerramento da praça de toiros da Póvoa de Varzim", tendo Pardal esclarecido que "foi impossível recuperar a praça, mas o trabalho dos advogados contratados manteve a possibilidade de se realizarem corridas na Monumental".
Restantes toureiros acusam o grupo
de os ter marginalizado
Apesar de incluir "os melhores das arenas", o grupo será sempre "minoritário" em relação à totalidade dos profissionais da classe - e todos aqueles que não foram convocados para as duas primeiras reuniões continuam a manifestar o seu - compreensível - descontentamento por "terem sido marginalizados". Bem como os matadores de toiros e novilheiros, que não foram ainda convocados para nenhuma reunião, nem consta que o tenham sido entretanto para a da próxima segunda-feira.
Em relação a isso, Rui Bento disse esta semana ao "Farpas", na qualidade de matador de toiros, que "os problemas que possam existir dizem respeito a todos os toureiros, cavaleiros e matadores, e não apenas ao grupo dos vinte toureiros a cavalo que convocaram esse encontro".
Sobre o facto de não terem convocado outros cavaleiros, alguns dos integrantes do "Grupo dos Campeões" terão mesmo afirmado na reunião que os outros "não contam para o campeonato" - expressão que está a chocar a classe.
"Por muito boas que sejam as intenções desse grupo, a verdade é que estão a criar uma divisão entre os toureiros e isso neste momento era aquilo que menos se desejava", diz-nos um dos cavaleiros não convocados.
E agora dois cenários se podem colocar: ou o "Grupo dos Campeões" passa mesmo, como pretende, "a mandar na Associção de Toureiros", destituindo Pardal e provocando assim uma inevitável ruptura e divisão na classe; ou o "Grupo dos Campeões" abandona a associação e cria uma nova, como também chegou a ser alvitrado. O que continuará a ser um facto, provavelmente ainda maior, de divisão entre a classe.
Em qualquer dos casos, resultará sempre uma divisão entre os toureiros e sobretudo entre os cavaleiros. Embora isso seja uma realidade incontornável e sempre tenha assim acontecido na Festa, vão passar a haver "toureiros de primeira" e "toureiros de segunda". Chegar a um consenso e voltar a unir a classe parece desde já uma possibilidade afastada.
Normas de segurança incumpridas
Por fim, um caso porventura bem mais grave: na reunião da passada segunda-feira não terão sido minimamente cumpridas as normas de distanciamento social (bem pelo contrário) e de segurança exigidas pelas autoridades sanitárias. A reunião começou com todos os presentes utilizando máscaras, mas à medida que se foi desenrolando acabaram todos sem elas e sem o exigido distanciamento social de pelo menos dois metros entre cada. Além de que a reunião registou a presença de mais de vinte pessoas - o que para já não é legalmente permitido.
Fotos D.R.