domingo, 29 de dezembro de 2024

O meu reencontro com Manuel Duran Clemente, o capitão do Telejornal do 25 de Novembro

Miguel AlvarengaEsta primeira fotografia de cima foi tirada anteontem num restaurante em Telheiras, Lisboa - e é a prova, mais que provada, que isso de Esquerdas e Direitas, extremas ou não extremas, não existe quando existe respeito, consideração e amizade feita de muitos anos de conhecimento e, neste caso concreto, para que saibam (não me vou alongar com muitas explicações, ninguém tem nada a ver com a razão de nos conhecermos e estarmos aqui nesta foto a celebrar com um copo!), de conhecimento (e amizade verdadeira) sobretudo deste meu Amigo com meu Pai. 

Este meu Amigo, alguns vão lembrar-se dele agora, chama-se Manuel Duran Clemente, era capitão de Abril no dia 25 de Novembro de 1975, no célebre 25 de Novembro de que tanto se falou este ano porque passaram 50 anos, nesse tempo eu andava nas capas dos jornais de Esquerda apelidado de “nazi dos liceus”. 

À noite, no Telejornal da RTP (não havia outros canais) que foi apresentado pelo jornalista António Santos, o Manuel apareceu nos pequenos ecrãs vestido de camuflado, com barba e cabelo comprido, estilo Che Guevara (foto também em cima), com um discurso revolucionário que não durou mais que 6 minutos. "Estão-me a fazer sinais, eu não sei se posso continuar... talvez seja melhor explicar aos ouvintes... eu não posso continuar a falar opor razões técnicas, é isso? Então eu continuo daqui a pouco, pode ser?”

Os Comandos de Jaime Neves tinham neutralizado o emissor da RTP de Monsanto e a emissão continuava a partir dos estúdios do Porto, com o filme "O Homem do Diner's Club", com Dannye Kaye no papel principal. 

Passaram 50 anos, encontrámo-nos algumas vezes depois, uma vez no Castelo de Monsaraz, ficámos amigos no Facebook, quando o meu Pai morreu o Manuel escreveu-me uma mensagem lindíssima que eu não esqueço. 

E há dois dias estávamos no mesmo restaurante. Caímos nos braços um do outro quando nos reconhecemos. E estivemos mais de uma hora a conversar, a rir e a recordar histórias desse passado. 

Ele representou na altura uma coisa que eu não queria. Substituiram-lhe os sonhos pela comédia do Dannye Kaye, o país ia mergulhando numa guerra civil e safou-se. Eu continuei a ser quem era e o Manuel também. Mas ficou o respeito, ficou a galhardia, ficou a senhorial maneira que caracteriza os grandes Homens. Gostei de te reencontrar, meu Amigo! E já marcámos uma jantarada no “Paco” para o princípio do ano!

Fotos D.R.